As nossas mudanças

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Aos poucos, Uli se adaptava aquela nova vida, era o braço direito de Fiorella e tomava conta do sítio com muito empenho.

- Uli, você plantou melancias? Não acredito! E abobóras? Você é maravilhoso!

Ele cuidava dos animais, tirava o leite pela manhã e cultivava as hortaliças, ajudava Antônia a entregar os doces e adorava ver Noah domando os cavalos, enfim, um novo ciclo.

- Uli, você gosta dos cavalos? Quer dar uma volta? - perguntou Noah.

Noah havia se tornado um companheiro e os cavalos serviam para ajudar na sua recuperação, uma espécie de terapia.

- Meu amor, ele ama andar a cavalo. - disse Fiorella.

- Ele só precisava de uma mão estendida. - falou Noah.

- Eu fico feliz por saber que ele está bem, nem treme as mãos.

- Está se curando aos poucos, o médico me disse que ele precisa se sentir seguro.

- Eu queria tanto que ele voltasse a falar.

- Calma, minha princesa, o doutor nos disse que será aos poucos.

- Tudo tem seu tempo, eu sei esperar.

Quanto mais os dias se passavam, Fiorella via que as suas férias estavam prestes a acabar e isso entristecia o seu coração.

- O tempo está passando muito rápido, nem tenho vontade de regressar, vou sentir saudades.

A noite era iluminada por uma lua enorme, ela estava sentada na varanda olhando para o céu e se sentindo agradecida por todos os momentos que viveu.

- Oi, Uli, senta aqui comigo, já estou sentindo saudades de vocês, logo terei que voltar para a minha cidade.

- Você mudou a minha vida. - disse ele.

- Uli, você falou?!

- Por muitos anos eu sofri e me senti culpado pela perda da minha família, éramos felizes e saímos de férias, queríamos conhecer as estradas, desbravar caminhos. Eu tinha um casal de filhos e uma mulher linda, perdi tudo.

- Por isso a sua vida estagnou e você se entregou daquela forma?

- Nós éramos muito apegados, ríamos de tudo, nos amávamos, nos respeitávamos e por minha culpa eles se foram.

- Não foi sua culpa, Uli, foi um acidente.

- Eu dormi ao volante e o carro se chocou com um caminhão, acordei dias depois em um hospital e eles tinham partido.

- Mas você não pode se culpar.

- Eles eram a minha vida, depois que os perdi, nada mais fazia sentido. Eu larguei tudo para trás, o meu emprego, a nossa casa e as minhas melhores lembranças. Andei por vários lugares e cheguei à essa cidade, as pessoas me davam comida, água, as vezes me colocavam para correr, como se eu fosse um animal e fui me entregando. Você foi a única que me enxergou de forma diferente, que me fez sentir o amor em seus gestos, em suas palavras, nunca vou conseguir te agradecer.

- Uli, você é mais que um amigo, nem sabe o quanto eu desejei ouvir sua voz.

- Sentia vontade de falar, mas fui me calando e percebi que desse jeito eu não precisava me explicar.

- Você só olhou para as trevas.

- Eu precisava de você, das suas mãos me ajudando, como a sua atitude mudou algo dentro de mim.

- Como eu vou conseguir ir embora e largar tudo isso? Cada um de vocês me ensinou lições das quais nunca esquecerei.

- Você pertence à esse lugar, Fiorella.

Regressar ou escolher te amar?Onde histórias criam vida. Descubra agora