Te encontro em outra vida

5 1 2
                                    

O nascimento do bebê estava próximo e tudo era um sonho, a nossa vida, a casa próxima ao rio, o quartinho e aquele amor que crescia com o tempo, cheio de atitudes que revelavam o quanto éramos felizes.
Valentin se desdobrava, percorria o sítio todos os dias e observava o trabalho que estava sendo feito, cuidava de mim e ainda atendia seus clientes no escritório da cidade.
Eu estava virando uma bolinha, já nem conseguia dormir direito, para todo lado que eu virasse doía tudo, mas ele sempre estava por perto para me tratar como uma princesa.

- Meu amor, me dói tudo!

- Barrigudinha, logo estará com o nosso filho nos braços.

- Será que terá o seu sorriso? É sempre alegre, eu amo tudo em você.

- Se for uma menina já vai nascer tacando ovos em todo mundo.

- Eu quero que ela ou ele, sejam felizes.

- Agora está bem mais perto, vou sentir saudades da minha barriguda dos pés de bolinha.

- A mamãe poderia estar conosco, iria nos ajudar com o bebê, estou insegura, ajudei a cuidar do Luca, mas não é a mesma coisa.

- Uma boa mãe nessas horas sempre faz falta, é o cuidado que precisávamos. Nasceram tantos porquinhos, tinham três leitoas prenhas, já tenho compradores para eles.

- O Luca amava quando nascia porquinhos, vivia com eles, dava trabalho para tirar o cheiro do corpo dele, a mamãe esfregava, faltava arrancar o couro.

- Quantas lembranças, eles se foram muito cedo e nos deixaram sozinhos.

- Valentin, quantas saudades, mas eles estão vivos em nossas lembranças, jamais vamos deixar de amá-los.

- As vezes penso como teria sido se eu tivesse me atrasado na cidade, não teria conseguido te salvar, nada do que construímos existiria.

- Até hoje me sinto culpada por não ter conseguido salvá-los, me machuca o fato de ter sido falha.

- Eu nunca vi tanto fogo, ele destruiu tudo rapidamente, uma coisa inexplicável.

- A mamãe sempre foi tão cuidadosa, nunca havia acontecido nada.

- Jamais saberemos o que aconteceu.

- Eu só tenho você e o nosso bebê, Valentin, tudo se foi e só restaram as saudades.

- Agora estamos reconstruindo a nossa família, jamais será como antes, mas a nossa missão é fazer com que o mundo dele seja feliz, assim como sempre foi o seu aqui nesse sítio.

- Ainda não consigo ficar na casa que reconstruímos, são tantas lembranças, ela ficou linda.

- Eu amo aquele lugar, vivemos momentos, sorrimos juntos, nos alegramos com cada conquista, é um lugar cheio de energias boas, mesmo tendo sido ali onde perdemos quem amávamos.

Nos abraçamos, eu senti uma pontada forte em meu peito, que queimava tudo por dentro.

- Patrízia, está pálida!

- Meu peito, Valentin, está queimando.

- Vem, senta um pouco, você sempre se emociona ao falar da sua família.

- Me abraça, eu sinto que tudo pode acabar.

- Eu estou aqui, calma!

- Promete que se lembrará de mim, mesmo que seja em outro tempo?

- Eu nunca esquecerei o nosso amor, não fica assim!

- Por um momento senti tudo tão longe de mim.

- Vou te levar até o quarto, está ansiosa, precisa de repouso.

- Eu preciso de você.

Nos abraçamos tão forte, parecia uma despedida, estava frágil e me sentia insegura com a chegada do bebê, normal para quem passou por tantas perdas em tão pouco tempo.

- Pronto, fica quietinha, vou fazer uma sopa de legumes, está fraca, acho melhor chamar o médico.

- Não precisa, meu amor, fica aqui comigo, só senti saudades da minha família.

- Descansa um pouco, eu já volto.

- Não vai me deixar?

- Jamais! Eu sempre te amarei.

- Meu amor, te amo infinitamente, jamais esquecerei o que vivemos.

- E do que ainda iremos viver?

- Eu queria tanto...

- Meu amor, a hora do bebê nascer está chegando, é normal se sentir exausta e insegura, não vou te deixar sozinha.

Ele me deu um beijo e foi até a cozinha, eu podia sentir o cheirinho daqueles legumes sendo cozinhados, Valentin estava me surpreendendo, fazia pratos deliciosos.
Meu coração estava angustiado, mas ele afastava todo o mal, bastava me olhar e tudo ficava leve.
Ele trouxe uma sopa deliciosa, até flores faziam parte daquela bandeja linda.

- Nossa, que cheiro bom!

- Eu sou o melhor!

- Valentin, você mal sabia fazer café!

- Agora sou outro homem, um verdadeiro cozinheiro.

- Convencido!

- Come tudo, meu amor, hoje estou te achando fraquinha.

- Estou dengosa, quero beijos, abraços, massagens e sopa quentinha.

- Está uma delícia! Come tudo, bebe o suco e dorme um pouco.

Nem tinha palavras para todo aquele carinho, a atenção sempre foi algo que me surpreendia, atitudes são atos de amor que nunca conseguimos explicar.
Ele fez massagem em meus pés e eu adormeci, era o que precisava naquele dia, paz e muito amor.
Dormi nem sei por quanto tempo, acordei e o meu Valentin não estava em casa, sentei em frente ao rio e fiquei admirando a sua beleza, fui até a nossa árvore e passei a mão naquelas iniciais, era um amor tão grande que sentia, as lágrimas caíam de meus olhos sem que eu pudesse controlar.
Escutei um barulho e passei a mão em meu peito, o sangue escorria, eu fui desfalecendo aos poucos, estava sozinha e sentia que tudo queimava, fechei os olhos e tentei gritar, mas não consegui, lutei como pude, só sentia o meu corpo adormecer. Quando consegui abrir os olhos, vi que o meu grande amor estava com uma arma na mão, simplesmente desesperado, eu não tinha mais tempo, fechei os meus olhos e parti.

Regressar ou escolher te amar?Onde histórias criam vida. Descubra agora