Lembranças que machucam

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Fiorella chegou em casa e os pensamentos saltavam em sua cabeça, as lembranças torturavam. Era como se tudo viesse ao mesmo tempo, uma enchurrada de informações de uma vida que tinha ficado para trás.
Ela chorava desesperada, se sentou num canto da casa e uma crise de pânico acontecia naquele momento, ela estava sozinha e completamente indefesa.
Algum tempo depois, Álvaro chegou e presenciou a amiga num estado de completo desespero. Já havia arranhado os braços e se debatia contra a parede, estava fora de si.

- Meu amor, eu estou aqui, me abraça, cuidarei de você.

Era tudo o que ela precisava, aquele amor sincero de alguém que sempre esteve ao seu lado.
Álvaro colocou Fiorella na cama e ligou para um médico amigo seu, que chegou rapidamente. Ela já havia adormecido.

- Doutor, o que aconteceu com a Fiorella? Ela estava bem.

- Álvaro, a Fiorella teve uma crise de pânico muito séria, foi um surto, precisamos descobrir as causas.

- Mas ela estava bem, descansando num sítio ao lado de pessoas que amamos.

- A nossa mente e o nosso estado emocional podem acarretar crises de ansiedade e de pânico, existe um motivo. Vou prescrever uma medicação e deixe que parta dela a vontade de falar. Mais tarde passo aqui para examiná-la novamente.

- Obrigado, doutor.

- Cuide dela, precisa de muito amor e compreensão, escute-a, deve estar doendo muito. Vou te indicar um psicólogo, é um profissional excelente, ela pode precisar.

Como ele amava aquela menina, que sofria por lembranças que dilaceravam as suas velhas feridas, que nunca conseguiram ser curadas.
Álvaro não saiu de perto dela por um único instante, passou pomada nos arranhados e chorou ao sentir que algo machucava o seu coração.

- Meu amor, eu nunca irei te abandonar, minha filha, minha menina.

Ele pegou o telefone e ligou para Antônia, precisava tranquilizá-la.

- Oi, meu amor, já estou com a Fiorella.

- E como ela está, Álvaro?

- O cenário que eu vi era completamente devastador, a Fiorella se debatia, simplesmente abracei o seu corpo.

- Meu Deus, o que aconteceu?

- Ela teve uma forte crise de pânico, ainda não sei o real motivo, foi medicada e está dormindo, vou ficar ao lado dela.

- O Noah saiu a cavalo e até agora não voltou, já estou preocupada.

- Antônia, ver a Fiorella naquele estado acabou com as minhas forças, me senti incapaz, não sabia o que fazer.

- Meu amor, tudo vai passar, são ventos contrários, logo eles desaparecerão.

- Eu te amo, você é a minha luz.

- Também amo você, cuida da nossa menina.

Dois corações aflitos, que só queriam entender como a felicidade pôde se transformar em desespero e tudo acabar sem que pudessem viver o amor que era destinado à eles.

- Meu filho, onde estava? - perguntou Antônia.

- Andando por aí.

- Noah, a Fiorella não está bem, aconteceu alguma coisa.

- Mãe, ela foi embora!

- Filho, o Álvaro encontrou a Fiorella em estado de choque, no chão de sua casa.

- Como assim, mãe?

- Eu não sei, ela está medicada, ele não sabe me dizer o porquê.

- Eu preciso vê-la!

- Não, meu filho! Aconteceu algo, ela estava feliz.

- Mãe, eu falei à ela sobre os meus sentimentos, disse que amava, a nossa noite foi linda e quando acordei, tinha ido embora.

- Para tudo existe um motivo, a Fiorella é uma menina sensível, não iria nos abandonar dessa forma.

- Mãe, o que eu faço? Meu peito dói longe dela.

- Meu amor, calma, deixa tudo isso passar, só ela sabe onde está doendo.

- Eu só queria entender.

Álvaro velava o seu sono, passava a mão em seus cabelos e dedicava todo o amor que sempre sentiu por ela.

- Eu te amo, minha filha!

Em seus sonhos, ela podia entender o quanto a sua história ao lado de Valentin foi regada a um amor de almas que incendiava o seu coração.

- Amor, nem sei o que dizer, a nossa casinha está sendo erguida.

- Valentin, logo estará pronta e poderemos ser felizes juntos.

- Achei que você iria gostar que ela ficasse perto do rio, podemos sair na varanda e vermos esse cenário lindo.

- Ficou um pouco afastada da outra casa, mas estamos dentro do sítio.

- Aqui é o seu lugar preferido, tem a nossa árvore, é o nosso cantinho.

- Podemos acordar e pular nesse rio, que sonho, meu amor!

Ela acordou gritando o nome de Valentin, completamente assustada.

- Valentin, por quê? - gritou Fiorella.

- Meu amor, fala comigo, o que houve?

- Ele destruiu o nosso amor, acabou com o que mais amávamos.

- O Noah? O que ele fez?

- O Valentin, ele nunca me amou!

- Valentin? Calma, não fala nada, fica ao meu lado, não pensa no que te fez sofrer!

Fiorella estava vulnerável e confusa, cada sonho eram lembranças de um amor, onde ela viveu intensamente ao lado de alguém que sempre desejou.
Eram mensagens conflituosas, ela se sentia amada por muitas vezes e enganada em outras. E no que acreditar se agora o ciclo era outro? A vida deu uma nova oportunidade e os males ficaram em outros tempos. Era a chance de fazer tudo diferente.
Os dias se passavam e Fiorella havia entrado numa depressão profunda, em nenhum momento falou sobre as suas aflições, se calou num mundo só dela e vivia medicada para poder enfrentar os seus fantasmas.
Álvaro se entregava como um pai, a dedicação era diária. Estava ao seu lado em todas as crises, quando ela chorava ou quando acordava a noite assustada, tinha se tornado totalmente dependente dele, e o amor era incondicional.

- Meu amor, vamos dar uma volta pelo parque? O dia está lindo!

- Sair?

- Sim! Ver as pessoas, tomar um sorvete. A Antônia pergunta de você todos os dias e o Noah também.

- O Noah? Ele não! Prefiro ficar aqui.

- Minha menina, o que aconteceu entre vocês? Nunca me contou.

- Ele é o Valentin, eu não quero!

- Minha pequena, me escuta, o Noah te ama, você está confusa.

- Ele nunca me amou, destruiu os nossos sonhos, o nosso amor e o nosso filho.

- Que filho? Meu Deus! Se acalma, por favor!

Ela falava coisas completamente desconexas e Álvaro se sentia perdido, era como se a sua menina estivesse vivendo em dois mundos diferentes, onde todas as lembranças machucavam.

Regressar ou escolher te amar?Onde histórias criam vida. Descubra agora