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Por Aiskhas

Eu não consegui dizer para ela.

Minha Ann perguntou se eu a amo e eu não consegui dizer que sim. Eu não consegui dizer que eu a amo desde sempre, e que meu amor por ela apenas evoluiu com o passar dos anos.

Um medo esquisito me impediu que dizer que eu a amo, e por isso vi ela se segurando pra não desabar na minha frente. Foi tão intenso e com tanto sofrimento que eu quase ouvi seu coração partir. E eu me odeio por ter sido covarde de não me declarar pra ela. Eu me odeio também por não ser aquilo que ela precisa nesse momento. Em sua batalha contra o luto, minha Ann me vê apenas como um escape e uma distração, não como a solução.

E foi por isso que eu estava com raiva quando estava dentro dela. Não era raiva dela, mas raiva de mim por não ser mais pra ela. E com isso, eu preciso melhorar, preciso ser melhor pra ser o homem perfeito para ela e então, finalmente dizer para ela que eu a amo com todas as letras.

A nova chance vai surgir e eu vou poder assumi-la como minha namorada e futura esposa, e exibi-la para aqueles que acham que terão algo com ela.

Agora eu estou no convés com Marco e Jack. Já tem meia hora que saímos daquela ilha e estamos a caminho de onde Ace está enterrado. Marco aparenta estar calmo enquanto guia o navio pelas águas, mas ele também exala tristeza.

__Eu não sei como vai ser a situação dela depois que matar Akainu, mas acredito que Ann vai sair muito ferida desse embate, quase morta._-o cabelo de abacaxi falou do nada, chamando minha atenção pra si.-_Portanto, peço que passem nessa ilha quando estiverem fugindo. Poderão ficar aqui até a poeira baixar pra cima de vocês, e nesse tempo poderei dar os devidos cuidados médicos para ela.

__Acredito que minha Ann vai querer ir direto pro irmão quando acabar.

__Duvido que ela queira que Luffy a veja assim, a beira da morte._-Marco rebateu e eu ponderei.-_A traga para mim, Ace nunca me perdoaria se eu não cuidasse da irmãzinha dele.

__Como chegaremos na ilha que está nos levando?_-perguntei e ele sorriu.

__Eu posso te dar um eternal pose. É mais fácil de seguir por ele.

Concordei com a cabeça e o assunto morreu. A viagem se seguiu silenciosa e até agora Ann não saiu para fora. Poderia imaginar que ela acabou dormindo, se não fosse por seu coração acelerado que estou sentindo bater loucamente.

__Chegamos._-Marco falou e atracamos em um porto vazio.-_Aqui quase não mora ninguém.

Antes que eu pudesse ir chamá-la, Ann apareceu no convés. Ela não falou nada até chegarmos na casa do ex tripulante do Barba Branca, mas acredito que em parte seja porque ela vai até o túmulo do seu irmão.

__Está no topo da colina, Ann._-Marco explicou e ela olhou pro morrinho pouco a nossa frente.

Suspirando, catou umas flores do jardim e começou a caminhar para a colina. Prontamente me pus a ir com ela, caso ela precisasse de mim, mas Marco me segurou pelo braço.

__Deixe-a ir sozinha. Isso é entre ela e o coração dela, apenas.

Sentei no chão em frente à porta dos fundos e fiquei olhando pra ela até ela sumir da minha vista enquanto subia. Segundos depois, Marco sentou do meu lado e me entregou uma garrafa de sakê.

Eu sinto o coração dela acelerar a cada passo e isso me agonia, porque sei que não posso fazer nada por ela. Estava prestes a beber o primeiro gole quando um grito agudo ecoou lá do topo do morro. Meu instinto foi levantar para ir até ela, mas novamente Marco me segurou.

Mais outro grito seguido de um choro gutural atingiu meus tímpanos. O coração dela bate acelerado e o choro alto e desesperado da minha Ann me deixa desnorteado, me machuca. Eu quero tanto tirar essa dor dela e pegar pra mim.

Ann grita o nome do seu irmão como se isso pudesse trazê-lo de volta. Meu coração se aperta com o que estou ouvindo e mal percebi quando as lágrimas começaram a molhar meu rosto.

Olhei para Marco e ele também está chorando, o mesmo com Jack, que está encostado no batente da porta. A dor da minha dona é tão forte que mexe com todo mundo.

__Por favor, Ace, volta pra mim! Eu preciso tanto de você!_-a voz dela está rouca e abatida. Seu pedido fazendo eu me banhar em mais lágrimas.

Eu estou sentindo a dor dela como se fosse física, meu coração está tão pesado que é difícil respirar.

__O-O coração dela tá rápido demais!_-comentei com o médico e ele olhou pra mim enquanto tenta limpar as lágrimas.-_Você precisa fazer alguma coisa! Dê morfina a ela!

__Ann não pode mais retardar o luto, Aiskhas. Ela precisa vivê-lo, aceitá-lo e deixar ir pra poder se curar. Eu sei que ela está sofrendo muito agora, mas ela precisa disso. Ann precisa se perdoar!_-arregalei os olhos e ele também.-_Você nunca percebeu, não é?

__Do que está falando?!

__Ann se culpa pela morte do irmão.

__Não! Minha Ann culpa Akainu, e com toda a razão. Por que ela se culparia?!

__Você tem a mente muito fechada, garoto. Ela se culpa por não ter conseguido salvar o próprio irmão. Ela estava lá, era forte, poderosa, tinha você com ela, mas ela deixou Ace morrer._-o puxei pelo colarinho e ele me olhou triste.-_Eu não a culpo, Ann e Luffy não tem nenhum pingo de culpa na morte do Ace, mas é assim que ela pensa, e é por isso que pra ela o luto está sendo tão doloroso. Ann precisa se perdoar.

Como se fosse um sinal do universo para confirmar o que o médico diz, minha Ann começou a gritar por perdão. Frases entrecortadas por conta dos soluços, mas consegui entender perfeitamente:

__Me perdoe por ser fraca! Me perdoe por não ter cumprido a promessa! Me perdoe por não ter impedido sua morte! ACEEEE!

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Já passa das três da manhã. Marco e Jack entraram para dormir faz horas, mas eu permaneço aqui, esperando Ann voltar. E durante esse tempo refleti nas palavras do médico e me perguntei como pude ser tão cego em relação a isso.

Minha Ann está em silêncio por uma hora, e por isso decidi ir ver como ela está. Lentamente subi a colina e a encontrei deitada no chão quando cheguei ao topo.

Observei o túmulo do Barba Branca que contém sua capa e sua lança, e depois observei o túmulo de Ace, que contém seu chapéu e sua adaga.

Ela está encolhida em volta do túmulo do irmão, como se abraçasse a lápide. A respiração dela está mais calma e logo percebi que dormiu.

Me aproximei de si e a peguei no colo. O nariz ainda está vermelho e escorrendo um pouco, nas bochechas há o caminho de suas lágrimas, e as pálpebras estão inchadas.

Voltei para a casa com ela nos braços e fui pro quarto que Marco nos disponibilizou. A deitei na cama e tirei seus sapatos e sua roupa suja de terra, depois vesti um pijama nela e limpei a parte do seu rosto que estava sujo de poeira.

Ela mal se moveu enquanto eu cuidava dela por conta de todo o seu choro. Ann apaga completamente depois de muito chorar.

Troquei de roupa e logo me aninhei ao lado dela, a puxando para meus braços. É muito bom que ela tenha dormido, mesmo que por um motivo triste, Ann mal sequer dorme há dias.

Comecei a fazer carinho em seu cabelo enquanto ainda penso no seu desabafo frente ao túmulo do seu gêmeo. Então sussurrei em seu ouvido, mesmo sabendo que ela não pode me escutar.

__Eu te amo, minha Ann. Você não tem culpa pela morte do seu irmão. Descanse. E me deixe cuidar de você.

Gol D. Ann- A Paz Substituída Por Vingança Onde histórias criam vida. Descubra agora