Hoje completa um mês que eu sai da Runway completamente em surto e nunca mais voltei. Eu gostaria de contar que estou bem, que eu superei que eu estou em outra, bem plena, mais magra e feliz, mas não foi nada disso que aconteceu.
Mesmo eu tentando não cair no luto do termino, eu cai, eu afundei por uma semana em lágrimas e solidão, nem mesmo Doug tentando me visitar todo dia conseguiu fazer com que eu me animasse para sair para a vida e parasse de pensar nela e no que fiz de errado para ela não me querer. Ou para ela só me querer para sexo.
Ela não bateu na minha porta na mesma noite, e nem no dia seguinte e nem na semana seguinte atrás de mim, atrás de se explicar, atrás do meu perdão, ela não fez isso e, confesso que no fundo isso era o que eu mais desejava que ela fizesse. Que se arrependesse, que dissesse que a Elsa quem a beijou, que ela me queria e jamais me trairia, mas não fez. E não é porque eu a odeio que eu ainda não a ame.
A verdade é que da Runway, eu recebi apenas duas ligações, uma do Nigel e outra da Emily, entretanto, não aceitei a ligação de ambos. Com certeza eles queriam alguma explicação do que aconteceu, queriam entender, até porque dias antes eu era uma pessoa completamente passiva e medrosa e de repente surtei e sai quebrando tudo.
Mas, eu não devia explicação para ninguém, se tem alguém que deve explicação para eles, esse alguém é a chefe deles, a líder deles a rainha das Clarkes, então apenas troquei de número e cortei o vínculo com todos que remetesse a Runway e aquela velha maldita que tanto machucou o meu coração que estava entregue a ela sem proteção alguma.
Eu ainda não consegui outro emprego. E vocês devem está se perguntando se eu estou procurando, como estou pagando aluguel e me alimentando. Bem, eu vendi o colar de diamante que a Miranda me deu de presente. Pelo menos algo de bom entre tanto caos que minha vida entrou depois dela aconteceu. O dinheiro do colar me permite ficar tranquila para ter tempo de procurar emprego sem cair em desespero por pelos uns três a quatro meses dependendo de como administro essa grana. E isso eu tenho inteligência suficiente para administrar muito bem. Pelo menos isso.
Olho para mim na frente do espelho enquanto passo rímel nos cílios, é uma mistura de sensações. Depois de tanto dias apenas em casa, recebendo visita apenas do Doug, eu vou sair, vou tentar me divertir. Confesso que me sinto nervosa e ansiosa, eu não consigo traçar uma linha de como possa ser, eu não consigo antecipar nada porque eu já não saia há muito mais tempo, desde quando comecei a me envolver com aquela maldita que ainda esquenta meu corpo em puro ódio quando eu lembro dela.
Pergunto-me se ela segue firme seu romance com a modelo, me pergunto se ela sai para jantar com ela, se elas se encontram em Paris, se Miranda já apresentou suas filhas para ela, se ela navega com atenção o corpo dela como fazia no meu. Meus olhos se enchem de lágrimas, mas eu não permito que elas caiam arruinando a minha maquiagem, não mesmo. Hoje não!
Olho para o meu celular que apita, sei que é mensagem de Doug dizendo que já está me esperando lá embaixo, então com pressa pego minha bolsa, confirmo que era dele a mensagem e o guardo na bolsa. Apago a luz da sala, fecho a porta e caminho para fora e sigo ao seu encontro.
Eu nem perguntei aonde ele ia me levar, eu apenas aceitei sem muito pensar, porque se eu pensar muito eu acabo desistindo como foi das outras vezes.
— Ah se eu fosse hétero! — Ele fala jocoso. — Eca! Estou brincando. — Ele faz uma careta.
E eu gargalho como há muito tempo eu não fazia. Ele liga o carro e eu curto a brisa gélida da noite de Manhattan com o vidro do carro abaixado. Talvez eu precisasse disso. Sentir o ar fresco me lembrando que estou viva e preciso viver.
Ele estaciona em frente a um barzinho que dentro eu sei que tem uma boate. É uma opção boa, eu sempre gostei de barzinho. Ele segura na minha mão, ele sabe que eu estou nervosa. Ele procura os outros amigos dele que estão nos esperando e assim que avista me arrasta caminhando em direção a mesa.
Ao total somos sete pessoas dividindo uma mesa redonda, a primeira rodada de bebida já havia rolado e eles estavam entrando na terceira enquanto nós indo para a primeira. A última vez que eu bebi algo alcoólico foi no resort com ela. Eu balanço a minha cabeça em negação. Eu não quero pensar nela. Tento focar minha atenção nas conversas animadas deles, mas, ainda assim me sinto deslocada, me sinto não pertencente aquele ciclo de amigos que não são meus.
Corro meus olhos para o lado, e para minha curiosa surpresa meus olhos encontram com os olhos castanhos do Christian Thompson. Ele sorrir e se levanta.
— Garota Miranda! — Ele fala esticando a mão para me cumprimentar. Meu estômago dói com essa típica e costumeira fala dele.
— Eu não sou mais garota Miranda. — Falo rindo de nervoso.
— Devo te dá parabéns? — Ele sorrir. — Trabalhar para Miranda não é fácil. Que bom que você se livrou. — Ele fala em tom jocoso.
Caramba, eu só queria que ele parasse de falar dela, e como se ele lesse meus olhos e entendesse meu pedido velado, ele começa a falar dos milhões de artigos que eu havia enviado a ele, e eu nem lembrava disso. Ele me chama para dançar e eu aceito. Por que não? Ele é um cara legal, ele é engraçado e educado. Enquanto eu danço com ele, Doug me olha sorrindo, pisca para mim e dá um joinha. Eu balanço a cabeça em negação sorrindo para o meu amigo.
E por que não?

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Recôndito
FanfictionNessa fic Miranda será hermafrodita (intersexual) e ninguém, absolutamente ninguém além de seus falecidos pais sabem disso. Porém, Andreah Sachs de maneira atrapalhada descobre esse segredo que Miranda guarda debaixo de chaves dando início a um env...