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— O que você quer Miranda? — Questiono cruzando os braços enquanto ela adentra o meu apartamento.

Eu não deveria ouvi-la, mas quando contei a Doug que ela provavelmente passou a noite na minha porta, pois ainda estava com a mesma roupa, ele me convenceu em ouvi-la para encerrar logo esse ciclo e eu conseguir viver minha vida em paz.

Eu conheço a Miranda Priestly suficiente para saber que ela só para quando consegue o que quer. Então eu optei por seguir o conselho do meu amigo.

Mas, quando eu retornei, ela já não estava mais lá, eu tive que buscar nas minhas memória o seu numero de telefone.

O gosto amargo na minha boca ao ouvir o "Andreah" do outro lado da linha sempre vai impactar o meu estômago.

Eu só disse três palavras depois do Miranda quando ela atendeu; 'estou em casa' e encerrei a ligação. Para mim, o tempo se arrastou, pareceu uma eternidade a vinda dela até a minha casa, mas quando a campainha tocou, meu coração parou e eu queria que aquele momento não acontecesse. Respirei fundo e então abri a porta para ela que já estava com outras roupas, mais alinhada e apresentável.

Ela roda o ambiente analisando quase como se estivesse sentindo saudades dali. Eu balanço a cabeça em negação respirando fundo.

— Eu amo você! — Ela fala olhando para a minha cara sem esboçar reação alguma.

Eu franzo as sobrancelhas visivelmente desacreditada do que eu estou ouvindo. Quantas vezes eu desejei ouvir essas palavras dela? Quantas vezes eu me declarei para ela e eu tonta nem percebia que ela respondia desconversando?

— Você caiu e bateu com a cabeça? — Replico sua fala que tantas vezes já ouvi dela. Talvez falando seu linguajar ela compreenda o quão absurdo eu achei sua fala.

— Não, Andreah! — Ela solta a bolsa em cima da mesinha ao lado do sofá e se senta.

Miranda se curva apoiando os braços nas pernas com as mãos entrelaçadas e eleva a cabeça para olhar para mim.

— Eu... Como você está? — Ela questiona me olhando dos pés a cabeça.

Esse maldito olhar que tanto me aprisionou a ela ainda me deixa desconcertada.

— Não é da sua conta, Miranda, se você veio achando que vai me dobrar com palavras toscas e me levar para cama, saiba que está enganada. Você não me ludibria mais.

— Não estou tentando te ludibriar, Andreah, nunca cogitei isso. Eu estava com medo.

— Medo? Vai se...

— Me deixa falar, depois você surta. — Ela revira os olhos. — Por favor?

Eu iria dá resposta malcriada a ela, eu iria, mas o seu olhar suplicante me fez lembrar que ela não sabe escolher bem as palavras, então eu me calo e balanço a cabeça em concordância.

— Eu nunca menti para você, você foi a minha primeira mulher, o primeiro beijo, o primeiro sexo. — Ela fecha os olhos e lentamente os abre em direção aos meus que desviam. — Eu fique apavorada. Eu não queria te amar. Amor faz a gente ficar idiota e com a capacidade intelectual reduzida. Eu tive medo do poder que você tinha sobre mim, sobre meu corpo e mente. Eu queria ter o controle de tudo, o controle de você, da nossa relação, eu queria me manter fria e sabendo o que fazia, eu não queria que você soubesse o quanto apaixonada por você eu estava. Eu tinha medo do estrago que você poderia fazer em meu coração e na minha vida. Por isso eu não permitia que você entrasse, mas do que já estava entrando. Se você me machucasse, seria só a mim e não resvalaria nas minhas filhas. Eu precisava impor um limite.

— Você é uma idiota. — Eu sorrio desacreditada e achando tudo isso ridículo.

— Eu sei. — Seus olhos estão com lágrimas. — Eu quis te mostrar que era resistente ao teu feitiço. Eu não queria te amar tanto quanto eu te amo. Então a Elsa apareceu no nosso dia a dia.

— Eu não quero e nem preciso ouvir isso, Miranda, vai embora da minha casa, vai embora da minha vida. — Me levanto e caminho em direção à porta.

Mas antes de chegar até ela, Miranda me segura, eu tento me soltar, mas ela aperta meu braço procurando meus olhos para encarar.

— Eu queria que você me odiasse, eu queria que você me deixasse porque eu estava com medo.

— Você conseguiu, por que veio atrás? — Falo com todo rancor que grita dentro do meu peito.

— Porque não adiantou, você seguiu dominando a minha mente e o meu coração. Eu não parei de pensar em você, de querer você, de amar você.

— Mentira, você estava gostando de seduzir a Elsa, eu via em seus olhos. — Me debato e consigo me soltar dela.

Entretanto permanecemos ainda uma de frente para a outra. Ela abaixa a cabeça, e eu ainda sei ler ela tão bem que aquele gesto só mostrou que eu tenho razão.

— Some da minha casa, some da minha vida. — Falo baixo, porém entre dentes. — Não adianta o que você fale, você não vai me ter novamente. Vai embora.

— Você dizia que qualquer mulher se apaixonaria por mim, você dizia que a minha insegurança não era problema para outras pessoas, e eu confesso que eu quis testar.

As lágrimas começaram a cair de meus olhos de uma maneira tão descontrolada que eu me sentia fraca. Eu sabia, eu já senti no primeiro olhar da Miranda para a modelo que ela quis a garota. Mas ela me confirmando doeu, doeu porque estava saindo da boca dela algo que eu só suspeitava entrando não sabia se realmente era verdade. Mas era...

— E com ela ali eu vi uma oportunidade de mostrar para você que você nunca teria domínio de mim.

— EU NUNCA QUIS TER DOMÍNIO DE VOCÊ, MIRANDA, EU SÓ QUIS TE AMAR. — Esbravejei passando as costas das minhas mãos em meus olhos.

— Eu não consegui ficar com ela. — Ela me olha rendida.

— Vai embora. — Eu balanço minha cabeça em negação e começo a empurra-la para fora da minha casa.

RecônditoOnde histórias criam vida. Descubra agora