A dor parecia fazer arder a minha pele, dói dos pés a cabeça, tudo em mim parecia que estava se rasgando. Mas eu consigo quebrar a troca de olhar e correndo com lágrimas e dor sigo o meu percurso até o prédio onde eu moro.
Ela é uma mentirosa, ela só me queria de volta para que eu seguisse sendo aquele objeto que ela usa as escondidas, deixa guardado e só volta a pegar quando quisesse usar de novo. Dói pensar isso, me dói perceber que eu estava começando a acreditar em suas declarações, me dói tudo. Me dói perceber que eu estava caindo em suas artimanhas sádicas e doentias.
Com as mãos trêmulas e, nervosa eu procuro a chave do meu apartamento, eu me sinto sufocando, entrando em uma espiral de dor e confusão mental, eu me sinto tonta.
— Andreah!
Sua voz pareceu entrar em meu ser de maneira estridente. Eu balanço minha cabeça em negação. Eu encontro as chaves e com pressa eu entro, mas ao tentar fechar a porta, ela me impede. A gente fica medindo forças, eu não quero que ela entre, e ela parece não querer respeitar isso.
Eu sucumbo em fraqueza e desisto de lutar, ela adentra me olhando cansada e quebrada. Quebrada por causa dela.
— O que você ganha com isso Miranda? Brincando com meus sentimentos e me iludindo dessa maneira. — Eu não tenho forças nem para gritar. O meu corpo todo treme.
— Não é nada do que você está pensando. — Ela larga sua bolsa no chão.
— Eu, por deus, eu acreditei em você. Você me mentiu quando disse que não conseguiu ficar com ela, você me mentiu em tudo, você é louca, você é doente.
— Eu não fiquei com ela, por favor, me ouve. — Sinto suas mãos segurarem meu rosto.
Eu a empurro: — Vai embora da minha casa, some da minha vida, você é o inferno. — Eu sinto dificuldade em respirar. — Você, você endureceu para ela. Você só queria seguir me comendo as escondida porque não me acha digna de está com uma pessoa como você.
Eu sinto uma raiva sair do meu âmago, eu sinto meu coração sendo dilacerado, eu sinto vontade de gritar, mas nem isso eu consigo. Eu olho para as coisas na mesinha e eu jogo no chão.
— Você pediu para eu amar você de novo, mas você não queria me amar de volta, você nunca me amou só queria me comer.
Ela tenta se aproximar de mim, mas eu jogo um copo em sua direção, eu a vejo titubear levando a mão para a testa. Eu me assusto parecendo voltar da cegueira da raiva que controlava as minhas ações.
— Por favor, me escuta?! — Ela fala com a voz trêmula e íris agitadas enquanto da sua sobrancelha derrama sangue vermelho contrastando com seu rosto tão branco quanto à neve.
— Não importa o que você fale, Miranda, eu vou te odiar para sempre. — Minha voz sai entrecortada.
— Eu não menti em nada, eu não endureci para ela, Andreah. A minha vida está um inferno depois que você saiu dela. Naquela noite em que ela percebeu que eu não me sentia despertada por ela, ela se sentiu ofendida e não aceitou e começou a falar que não entendia e nem acreditava em como uma pessoa anormal como eu, tendo o privilegio de ter uma pessoa perfeita na cama como ela broxasse.
Minhas sobrancelhas se juntaram e meus olhos semicerraram com o seu jeito e suas falas, eu ainda não queria dá ouvidos a ela, mas ela pareceu tão desesperada e sincera.
— Ela começou a levantar suposições de como a imprensa agiria se soubessem que eu tinha broxado e no meu desespero ela percebeu que a mídia não sabia da minha condição e começou a sugerir seus desejos financeiros e profissionais.
— E você não a ameaçou como fez comigo por quê? — Pergunto desacreditada. — Ah, porque ela é rica, ela é magra e bonita, ela é alguém superior a mim, porque só a pobre garota tola pode sentir do seu pior não é? — Respondo a mim mesmo com rancor.
— Ela começou a agir da maneira como eu pensei que você...
— Que eu agiria? — Sorrio desacreditada.
— Eu tentei ameaçar, mas, ela sabe que eu perderia mais, eu pago viagens, eu coloco ela em desfiles importantes, eu dou dinheiro, e eu não aguento mais isso. Mas o que eu não aguento mais é ficar longe de você, sem você. — Seu olhar parece tão derrotado e suplicante. — Eu errei, eu te julguei, eu te afastei, eu te humilhei e não acreditei no seu sentimento. Precisou de alguém que realmente só estivesse interesse em meu status para eu acreditar e perceber como você era verdadeira comigo. — Ela aproxima-se de mim e eu não tenho força para reagir e afasta-la.
Meus olhos se arregalam ao ver Miranda ajoelhando-se aos meus pés, ela abraça a minha cintura. Eu não sei o que pensar, a minha cabeça está confusa, eu nem consegui digerir tudo que ela estava falando.
— Eu choro todas as noites arrependida, Andreah. Dá-me uma chance, uma única chance de fazer diferente. Eu assumo o nosso relacionamento, eu assumo a minha condição se você quiser, mas me dá uma chance de te mostrar que eu sei amar você. — Ela me aperta.
— Eu até volto para você Miranda. — Eu olho para baixo e ela olha para cima, nossos olhos se encontram. Eu o vejo ganhar brilho.
Eu limpo com minha mão o sangue que escorre em seu rosto. Eu a faço ficar em pé. Seus olhos são em expectativa. Estamos tão perto, mas eu ainda me sinto distante, porque eu não acredito em tudo o que ela falou.
— Eu quero que você a mate. — As palavras voam da minha boca de maneira calma. — Entre o que você fala e faz, há um abismo tão grande que eu só vou acreditar em você com essa prova de amor.
— Eu não posso fazer isso. — Sua voz sai assustada.
— Você não é o Diabo? Faça!
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Recôndito
FanfictionNessa fic Miranda será hermafrodita (intersexual) e ninguém, absolutamente ninguém além de seus falecidos pais sabem disso. Porém, Andreah Sachs de maneira atrapalhada descobre esse segredo que Miranda guarda debaixo de chaves dando início a um env...