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— Calma aí, Miranda. — Eu me sinto nervosa e confusa. São coisas demais para eu assimilar em tão pouco tempo. — Corre risco das suas filhas não gostarem de mim e não haver nada que possamos fazer sobre isso? — Eu sinto minhas expressões visivelmente confusa e apreensiva. Miranda fecha a caixa do anel e eu me sinto desesperada, impeço-a de guardar.

— É tudo o que eu mais quero, Miranda, eu só tenho medo.

— Aceita ou não aceita? — Sua voz sai mais rouca e intimidadora.

— Nossa, como você é romântica! — Sorrio.

— An-dre-ah! — Ela revira os olhos.

— Claro que eu aceito. — Eu sinto meus olhos brilharem.

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É muita loucura quando eu paro para pensar que eu sou oficialmente a namorada da Miranda Priestly, e sempre que eu penso sobre isso, me causa sensações loucas, entretanto boas.

Se eu disser para vocês que amar e se relacionar é um campo verde florido, eu estarei mentindo, até mesmo no mais belo e lindo campo florido, cai tempestades, há ventania, há Estação que faz com que as flores murchem. Mas ainda assim, ele segue sendo um campo, pronto para florir novamente.

O meu relacionamento com Miranda é real, nada de contos de fadas, mas até no conto de fadas há momentos que o casal quase não fica juntos. Nada é perfeito, eu e ela não somos perfeitas e nosso relacionamento também não.

Amar Miranda Priestly é muito difícil. Amar alguém que não se deixava ser amada e nem pretendia ser amada, é como se todo dia tivesse uma batalha a vencer. Vencer seus traumas, as suas individualidades, seu egoísmo, até mesmo a falta de romantismo. Eu cresci sabendo que seria amada, e ela cresceu sabendo que não seria amada. Somos de polaridades completamente diferentes, entretanto nos completamos tão bem. É tão difícil amar Miranda Priestly, mas é tão bom amar Miranda Priestly.

Recordo como se fosse hoje ela me levando em sua casa pela primeira vez. Era um sábado cinzento, ameaçava chover. Ela segurou na minha mão talvez sentindo o meu nervosismo, ela olhou dentro dos meus olhos e sem falar uma só palavra conseguiu me acalmar. Internamente eu estava surtando com a possibilidade de ser rejeitada pelas suas filhas. O nosso relacionamento sério e público dependia da aceitação das garotas e não mais apenas dela. E olhando melhor, a maneira que ela se comportava antes, é porque nunca realmente só dependia dela, eu deveria saber que quando se tem filho, as decisões nunca é apenas mais sua... Aprendi isso com Miranda... Mas voltando, eu estava de cabelo amarrado em um rabo de cavalo, a porta foi aberta cautelosamente. Ainda sem soltar minha mão, Miranda me fez passar do hall das escadas. As duas estavam lá sendo assistida por duas mulheres de uniforme branco. A Miranda falou com as garotas, elas sorriram e falaram com a mãe. Elas pareciam garotas normais, falaram normal, até passou pela minha cabeça ser mentira da Miranda. Mas, eu jurei para mim, que não ia tirar mais conclusões precipitadas. As meninas me olharam, entretanto não falaram comigo.

Miranda me fez sentar no sofá de frente para as meninas, ela se aproximou das garotas e beijou a cabeça delas, mas a Miranda não teve retorno do afeto, isso me fez franzi o cenho. Ela sentou ao chão junto das meninas e ali, a humanidade e toda doçura da Miranda apareceu. Ela é mãe, ela exala amor de mãe. As três conversavam. Em um momento, Miranda me chamou com a mão, eu me aproximei e sentei, e bem, eu fui completamente ignorada.

Eu sai me sentindo péssima da casa da Miranda, com a certeza de que elas não gostaram de mim, mas, Miranda me acalmou dizendo que o fato delas permitirem que eu me sentasse junto a elas, era uma aceitação.

RecônditoOnde histórias criam vida. Descubra agora