— Se para mim, que soube que era gay muito cedo, ainda assim foi difícil me aceitar, imagina para ela com toda a importância social, com a vida toda completa e socialmente perfeita? Acho que os envolvimentos dela sempre será assim Andy, curto e as escondidas, principalmente porque ela é casada. E você uma romântica nata que gosta de gritar para o mundo que está amando.
Doug pontua depois de eu contar a ele que ela esteve me procurando ontem e, eu é claro achar ela uma cretina por isso.
Eu cogito contar para ele que ela não é tão ela, que ela é diferente. Mas dissipo isso da minha mente, esse não é um segredo meu, esse é um segredo dela, e mesmo que eu sinta ódio por ela, não tenho autonomia e direito de expor para terceiro esse segredo, mesmo que ele seja o meu melhor amigo, ele não é dela. Então me calo e o deixo pensar que ela apenas esconde sua sexualidade e me trocou por outra.
O silêncio que surge em nossa mesa depois de uma longa conversa sobre a Miranda nos faz olhar para a hora. A gente não precisou falar nada para entendermos que já era hora de ir. O caminho para casa foi tranquilo. Com músicas animadas e comentários pertinentes e engraçados sobre as nossas vidas amorosas que não estava nada boa para ambos.
Ele aperta minha mão em um carinho de que sempre estará comigo para o que der e vier, eu agradeço por isso e prometo internamente nunca mais me afastar dele por ninguém.
O frio da madrugada já doía à pele exposta, eu corro para dentro do prédio e para o elevador, assim que ele para no meu andar e a porta se abre, eu estreito meu olhar para o final do corredor.
Eu não acredito no que vejo, lá, no final do corredor que dá acesso ao meu apartamento está ela sentada no chão, com os braços apoiados aos joelhos dobrados e a cabeça baixa repousando neles. Eu me sinto incrédula com o que vejo. Talvez eu tenha bebido demais e estou imaginando coisas. Alucinando!
Então nas pontas dos pés quase que em câmera lenta eu caminho com todo cuidado para não fazer barulho e chamar sua atenção sigo em direção a minha porta. Com mais cuidado ainda eu pego minha chave, enfio na fechadura, mas ao girar, as outras chaves que estão no chaveiro faz barulho e ela eleva a cabeça.
— Andreah! — Ela profere com a voz mais arrastada que o habitual.
Meu coração dispara completamente descompassado, ela se levanta e é o tempo de eu abrir a porta e correr para dentro para logo fechar e passar a chave e me sentir protegida dela.
— Por favor, Andreah! — Ela fala batendo na porta.
Eu sigo parada escorada na porta sentindo que meu coração possa sair da boca a qualquer momento.
— Eu preciso de você. — Ela espalma novamente a porta me fazendo fechar os olhos com força.
Meu coração dói. Quantas vezes eu quis que ela me fizesse sentir que ela precisava de mim?
Mas ela só fez o contrario, só mostrou que sem mim sua vida continuaria igual.
— Por favor, me escuta. — Ela eleva a voz talvez achando que eu estaria longe demais para ouvir sua suplicas. — Abre a porta! — Sua voz sai embargada.
Eu balanço a cabeça em negação, eu não vou me render a ela. Eu sei o que ela vai fazer, ela vai dizer que sente saudade, que eu penso e crio coisas demais, mas que ela sempre me quis. Esse é o joguinho dela.
Eu largo minha bolsa no chão da sala, e me sentindo sufocada começo a tirar minhas roupas. Eu preciso de um banho, eu preciso esfriar minha cabeça, eu preciso não pensar nela me chamando do lado de fora do meu apartamento.
Eu ligo o meu som em uma altura que os vizinhos no dia seguinte não reclamem. Se ela ainda estiver do lado de fora, eu não quero ouvir a sua voz.
Entro no chuveiro, deixo a água quente acalmar a minha pele que treme pelo o que ela me causa. Eu choro sentindo a dor castigar o meu peito.
Não sei quanto tempo eu fiquei no banheiro, saio ainda nervosa, me enrolo na toalha e cogito ir até a porta para conferir se ela ainda está lá.
Mas eu não devo me importar com isso, então eu visto o meu pijama, puxo o edredom e me cubro completamente desejando que o efeito do álcool e do choro me faça dormir logo.
Acordo acreditando que foi um sonho, ou melhor, um pesadelo. Mesmo ainda gostando dela, eu a odeio e não quero saber nada sobre ela, eu só quero que ela volte a me deixar em paz para esse sentimento morrer dentro de mim. Se eu der outra chance a ela eu sei que vou me perder de mim.
Arrumo-me com tranquilidade para ir correr no parque, não é um habito que eu costumo ter, mas por muita insistência do Doug, eu aceitei ir.
Eu sei que deveria tomar um café da manhã nutritivo, mas no meu estômago tão emocional não permite aceitar tanta coisa. Eu olho para o celular que toca, atendo ouvindo-o dizer que chega em 15 minutos.
Calço meu tênis, guardo o celular e caminho para a porta, e assim que abro, ela está lá em frente à porta levantando a cabeça para olhar em minha direção.
— Eu preciso de você, eu preciso da sua ajuda, Andreah! — Seus olhos estão vermelhos.
— Me deixa em paz ou eu vou chamar a policia. — Eu esbravejo raivosa descendo as escadas correndo.
Eu não poderia esperar o elevador, seria tempo demais a sós com ela, seria tempo demais perto de alguém que me fez sofrer tanto e que provavelmente quer me fazer sofrer de novo.

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Recôndito
FanfictionNessa fic Miranda será hermafrodita (intersexual) e ninguém, absolutamente ninguém além de seus falecidos pais sabem disso. Porém, Andreah Sachs de maneira atrapalhada descobre esse segredo que Miranda guarda debaixo de chaves dando início a um env...