Está completando uma semana que eu coloquei a condição em voltar para Miranda sobre a mesa e ela não fez. Não nos vimos desde então. Ela tentou me ligar, me mandar mensagem, mas, eu a ignorei completamente. Eu nem acredito que estou ignorando a Miranda Priestly e ela está atrás de mim, até parece que ela me ama de verdade.
Eu não me sinto mais tão chateada com ela, perdoei, mas não aceitei o que ela fez comigo, entendi seus motivos, mesmo achando que ela poderia ter sido madura e agido diferente. Eu sei que para alguém que se escondeu a vida toda é difícil se ver no meio de uma nuvem de sentimentos e emoções. Mas, eu confesso que o perdão veio mesmo por eu ter certeza que ela não levantou para aquela loira imbecil. Eu me surpreendo por ela ter broxado, comigo Miranda é tão viril, não dá nem para acreditar. Sorrio dessa situação.
Mas, só de cogitar ela beijando a boca daquela modelo, passando suas mãos pelo corpo dela me dá um ódio tão grande, e eu nem sabia que eu tinha tanto ódio assim dentro de mim. Sempre me vi uma pessoa calma nos meus relacionamentos, sempre fui a mais madura que acalma os ânimos, que com Miranda eu me desconheço.
Entro no meu apartamento desanimada, estou cansada de tanto pensamentos loucos. Eu me sinto desmotivada, irritada porque eu procurei saber como foi à semana da Miranda e vi que ela e a Elsa estiveram em um evento juntas na quarta-feira.
E vai ser sempre assim, porque mesmo que a Miranda exponha sua condição e assim acabem as ameaças da modelo, elas vão se cruzar em algum momento, algum trabalho. Modelos mesmo tendo algumas portas fechadas conseguem capas e passarelas com os rivais de quem tentou coloca-las na geladeira. Se essa mulher não morrer ela vai ser nossa sombra para sempre. E eu e a Miranda não vamos dá certo. Eu vou sempre sentir medo e ciúmes.
Minha campainha toca e me arrastando sigo para a porta. Antes de abrir eu olho pelo olho mágico e avisto aquele rosto tão inconfundível fazendo um bico demonstrando impaciência. Eu cogito não abrir a porta, mas eu também estou com saudades dela e sinto medo dela realmente se afastar... Eu abro!
Ela me olha dos pés a cabeça, parando em meus olhos, eu apenas suspiro não fazendo questão de esconder que estou triste.
— Esse seu comportamento está insustentável, Andreah. Essa é a última vez que eu procuro você. — Sua voz é firme. — Me bloquear, não abrir a porta para mim... não nasci e nem fui ensinada a correr atrás de ninguém, mesmo amando você, eu não vou mais me submeter a isso.
— Entre, Miranda. — Convido dando passagem a ela.
Miranda me olha com intensidade, ela está exalando impaciência, e confesso que eu ainda tenho um pouco de medo quando ela está assim desde quando eu trabalhava para ela.
— Teve um dia ruim? — Pergunto com a voz calma. Eu me sinto cansada de brigar pelo mínimo na nossa conturbada "relação".
— Péssimo! — Ela larga sua bolsa em cima da mesinha ao lado do sofá e senta parecendo deixar seu corpo relaxar. — Preciso de uma bebida.
Eu balanço minha cabeça em concordância e caminho atrás de uísque para ela. Sempre será sua bebida favorita após um dia estressante. Aproximo-me dela e entrego o copo; com uma mão ela segura o copo e a outra o meu pulso. Eu tento me sair, mas ela me puxa para cima dela.
— É melhor cada uma seguir seu caminho, Miranda, já nos machucamos bastante. — Informo sentada em seu colo. Rendida ao seu capricho.
No rosto da Miranda ainda tem o machucado que eu fiz semana passada, mas, não está mais com curativo, e pelo que eu observo, apenas um adesivo de pele quase imperceptível.
Ela coloca meu cabelo atrás da orelha e meus olhos enchem de lágrimas. Ela percebe, e eu não tento esconder que estou emotiva e insegura, porém cansada de brigar.
— Você não olhou as últimas noticias? — Ela passa a mão em meu rosto.
— Não, cheguei em casa agora, e desde quarta-feira estou tentando me blindar dos noticiários. — Eu espero que ela entenda do que eu me refiro à quarta-feira. — Você fez? — Eu arregalo os olhos em descrença me dando do que essa pergunta possa se tratar.
Eu sigo olhando surpresa para a Miranda que parece estudar cada expressão minha. Eu engulo em seco. Eu me sinto trêmula e ansiosa, mas parece que ela quer me torturar antes de me dá uma resposta.
— Fala! — Sinto minha paciência esvair.
Miranda toma o primeiro gole do uísque e engole lentamente ainda olhando com profundidade em meus olhos. Ela balança a cabeça em concordância.
Descrente pulo de seu colo em busca do laptop em busca dos sites de jornais.
"No auge da carreira morre afogada a modelo russa Elsa Hosk" Eu senti um choque eletrizando todo o meu corpo. "Em primeiro momento as informações são que a modelo Elsa Hosk ingeriu bebida alcoólica demais em alto mar, caiu na água e se afogou. Elsa estava acompanhada de duas colegas de profissão. A polícia ainda investiga o ocorrido."
— Miranda, a polícia está investigando. — Eu olho assustada e preocupada com medo disso dá merda.
— Não me subestime, Andreah! — Vejo-a revirar os olhos.
— O celular dela deve conter as trocas de mensagens de vocês duas. Podem ver as ameaças dela e você se tornar suspeita.
— Não é como se eu nunca tivesse me livrado de alguém antes, Andreah. — Miranda esvazia seu copo de uísque.

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Recôndito
FanfictionNessa fic Miranda será hermafrodita (intersexual) e ninguém, absolutamente ninguém além de seus falecidos pais sabem disso. Porém, Andreah Sachs de maneira atrapalhada descobre esse segredo que Miranda guarda debaixo de chaves dando início a um env...