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— Eu pensei que você... — Eu me sinto tão atordoada que nem consigo racionalizar direito.

Ela me tira do colo dela, respira fundo e caminha em direção a minha janela, olhando rápido para baixo.

— Somos movidos por escolhas, querida, eu te joguei uma segunda alternativa, dei tempo para você pensar, e mesmo assim você me colocou contra a parede, batendo o pé querendo a morte dela, você escolheu isso, e não o nosso relacionamento a público.

— Não Miranda. — Meus olhos enchem-se de lágrimas, eu olho para ela com cenho franzido.

— Agora você precisa fazer sua parte. Entender que no momento que a gente escolhe uma coisa, a gente abre mão de outra. — Ela alinha seu terno. — É melhor eu ir embora antes que você quebre alguma coisa na minha cabeça. — Ela se aproxima da mesinha pegando sua bolsa.

Ela me ver agora como uma pessoa agressiva, é isso?

Miranda me analisa ainda parada sem eu conseguir entender nada. Ela se aproxima de mim, beija minha cabeça e caminha para fora. Eu fecho os olhos sentindo as lágrimas caírem dos meus olhos assim que ouço a porta fechar.

Deixo meu corpo cair no sofá, eu estou confusa. Eu não pensei que Miranda estava me deixando escolher entre a morte da Elsa e me assumir como sua namorada. Esfrego minhas mãos em meu rosto me sentindo uma burra. Idiota, é isso que eu sou, e é isso que ela faz de mim.

Olha aonde esse envolvimento com Miranda me trouxe? Olha as coisas que eu fiz? Ela preferiu ir embora logo com receio de eu surtar e agredi-la. O que isso tudo está fazendo comigo? Quem eu me tornei?

E são com esses pensamentos que eu vou para meu banheiro encher a banheira, eu preciso de um banho relaxante e demorado. São tantas perguntas que se passam em minha mente. Por um capricho idiota eu fiz Miranda matar uma pessoa, e perdi a chance de ter o relacionamento que eu tanto desejei.

Mas, ela não deseja isso? Só eu que quero um futuro com ela e ela não quer o mesmo comigo?

Se ela quisesse eu não precisaria forçar nada, essa é a verdade. Eu preciso voltar para a minha essência, eu preciso voltar a ser a Andreah leve e que se importa com os amigos, que quer sempre ser alegre e sorridente. Eu preciso voltar a ser eu.

Eu me sinto completamente estranha por perceber que estou em uma relação que sou sempre eu que força tudo, força uma atitude, um posicionamento, uma fala, e que sempre inicia as brigas. Eu não quero isso para minha vida.

Eu deveria ter imposto limite na Miranda no primeiro momento que me senti forçada querer dela o que ela não estava disposta a me dar.

Acredito que eu nunca tenha passado tanto tempo no banho, mas sinto que foi tempo suficiente para voltar para o caminho que eu me sentia pertencente de mim. Eu me sinto envergonhada por tantos comportamentos loucos que tive. Não anulo a responsabilidade da Miranda sobre como ela me tratou. Mas, ainda assim, eu sou responsável pelas minhas reações em relação às atitudes dos outros. E ela mesmo sendo uma pessoa que amo, ainda assim faz parte do outro. É estranha a sensação de sentir a ficha caindo.

Eu não consigo nem sentir raiva dela por ela não quer me assumir, ela sempre demonstrou isso, sempre deixou tudo muito explícito em suas atitudes que não me queria além do meu apartamento em encontros casuais.

Eu preciso de um chá. E talvez também parar de pensar tanto nela, meu mundo não pode girar só em torno da Miranda Priestly, o dela não gira em torno do meu.

Eu apago as luzes dos cômodos e vou para meu quarto, me enfio debaixo das cobertas e me permito chorar até pegar no sono.

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RecônditoOnde histórias criam vida. Descubra agora