Recôndito

20

Eu odeio com todas as minhas forças essa modelo, dentre tantas que já passaram por aqui pela Runway, essa é a pior que existe, ela é fútil, ela é chata, ela é frescurenta, e ela é muito bonita e a maneira como Miranda olha para ela me incomoda demais.

Ontem, quinta-feira, Miranda não me deu um beijo sequer, tudo era Elsa Hosk para cá, Elsa Hosk para lá, que se foda a porra dessa Elsa enviada pelo diabo. Ops, o Diabo é a Miranda... Enviada para o Diabo.

— Miranda, Jocelyn enviou para seu e-mail os pedidos, Júlio só está aguardando sua ida para concluir o catálogo. — Suspiro não escondendo meu descontentamento.

— Ligue para Elsa e mande Roy busca-la, hoje já podemos iniciar as fotos. — Miranda fala sem me olhar.

Balanço a cabeça em concordância me retirando da sua sala após seu tradicional 'Isso é tudo!'

Talvez eu precise sair uma pouco, faz tempo que eu não faço isso. Eu já nem sei mais se Miranda vai para o resort comigo, depois que essa modelo chegou, Miranda parece que esqueceu que temos um envolvimento amoroso. Eu me sinto ameaça, a gente sempre sabe quando tá em risco...

Ligo para a antipatia em pessoa e aviso para ela se arrumar que Roy irá busca-la. É impressionante como o mundo é injusto. Ela está sendo paga diariamente para praticamente não fazer nada e ficar aqui infernizando meu juízo enquanto experimenta vestidos de alta costura e ganha 12 x mais do que o meu salário por dia só para fazer isso e depois voltar para o hotel custeado pela revista e andar pela cidade aproveitando dos benefícios que a cidade oferece.

Eu agradeço aos céus por hoje ser sexta-feira, e apesar de ter que aturar essa loira perfeita aqui, hoje não tenho que está vendo Miranda toda se derretendo para ela, pois, nas sexta Miranda tem muito compromisso fora da revista, logo assim, deixando para Nigel guiar o provador e as fotos dela.

O dia passa voando, é sempre esse caos, e no final só resta eu aguardando o livro ficar pronto para levar até a casa da Miranda. Eu nem tive tempo e oportunidade de confirmar sua ida comigo amanhã cedo e confesso que não estou mais tão entusiasmada com isso.

Recebo o livro e sigo para a mansão, as luzes apagadas me dá a sensação de que não tem ninguém em casa, deixo suas roupas guardadas, e com passos apressados levo o livro para mesinha de flores em frente à escada e ao girar para ir embora ouço a porta abrindo-se.

Miranda adentra tirando o casaco, aparentemente ela ainda não me viu. Ela parece cansada, provavelmente está, nas sextas-feiras ela sempre reclama que seus pés doem no fim do dia.

— Olá! — Ela me oferta um sorriso cansado.

— Boa noite, Miranda. — Comprimo meus lábios voltando a andar.

Ela me segura pela cintura e me encosta na parede. Faço meus pulmões encherem-se de ar, acredito que ela tenha percebido minha cara de descontentamento. Ela aproxima seu rosto do meu para beijar meus lábios, mas eu viro o rosto para o lado.

— Você está afim da Elsa? — Sou direta enquanto seus lábios deslizam seguros pelo meu pescoço. Mesmo estando chateada, ela tem domínio suficiente de mim para deixar minha pele arrepiada por ela.

— Por que pergunta isso? — Seus dedos procuram os botões da minha blusa, mas eu impeço que ela o desabotoe.

— Eu vejo a maneira de como olha para ela, você é atenciosa e gentil com ela. — Seguro em seus ombros tentando a fazer se afastar e olhar para mim.

— Está vendo demais e falando bobagens, querida. — Ela por fim se afasta.

Miranda dá dois tapas sincronizados nas laterais do meu quadril, ela respira fundo passando as mãos em seus cabelos. Eu sei que ela está cansada, mas eu também estou cansada, não só do trabalho, mas de tudo isso que anda em circulo e não vai para lugar algum.

— Ontem você não me beijou. Você odeia toquem e não tira as mãos dela. Você sorria do que ela falava e ela só fala asneiras.

— Você está me monitorando? — Ela arqueia uma das sobrancelhas surpresas e debochada ao mesmo tempo.

— Eu trabalho para você, eu vejo as coisas, Miranda. — Eu sinto uma dor dominar o meu peito.

— Não alimente esse disparate na sua cabeça. Vá para casa, amanhã e domingo teremos tempo suficiente para conversar sobre isso. Hoje estou muito cansada. — Ela se aproxima novamente de mim.

Miranda segura meu rosto, com os polegares ela acarinha minha face confusa e insegura. Eu amo essa mulher e a possibilidade dela querer outra pessoa acaba comigo. Fecho os olhos sentindo seus lábios tocando nos meus. O beijo é lento, saboroso e envolvente.

— Boa noite, Andreah! — Ela se afasta seguindo para a escada.

E eu permaneço torpe assistindo ela se distanciar de mim.