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— Você pensa que vai para onde? — Me assustei ao entrar no elevador e ouvir Miranda que segurava a porta para não ser fechada.

Olhei por cima do seu ombro, e Emily nos olhava com uma cara assustada, Miranda percebeu para onde meu olhar estava, então entrou no elevador, a porta se fechou e apertou para a cobertura.

— Só quero ir embora. — Falei com raiva.

Estava ferida, Miranda tinha sido uma cretina a troco de nada, ela me humilhou, me ameaçou, tudo em poucos minutos, e eu só queria chegar em casa e chorar, pois estava muito magoada.

— Você pensa que alguém pede demissão, Andrea? Eu demito, ninguém se demite. — Ela parecia indiferente.

— Sempre tem uma primeira vez.

O elevador se abriu, Miranda me segurou pelo braço e saiu do elevador me arrastando, mesmo eu dizendo que não tinha nada para fazer ali, e pedindo para ela me deixar ir embora.

Quando chegamos na margem do prédio ela por fim soltou-me, cruzou os braços e ficou ali encarando o horizonte, parecia que estava tentando criar coragem para algo.

Me jogar lá de cima para manter seu segredo a sete chaves talvez?

— Sempre tive medo que descobrissem, Andrea, nunca ninguém desconfiou de nada, às ordens são sempre impostas para ninguém tocar em mim, pois eu tinha medo que alguém descobrissem, e você infligiu essa ordem. — Sua voz estava suave, ela parecia estar com vergonha de admitir tal coisa.

— Não tive a intenção, Miranda, mas para quê todo esse alarde? — Estava tentando sanar uma dúvida que corroeu toda a noite.

Ela sorriu irônica, — Porque eu sou uma aberração, Andrea. Simples — Ela não olhava para mim.

— Você não é uma aberração, por Deus, Miranda, não fale isso, suas filhas não pensam isso, os maridos que teve também não, e nem eu — a última palavra abaixei mais o tom, estava envergonhada em admitir.

— Você não me ver como uma aberração, Andrea? — Pela primeira vez que chegamos ali, ela me olhou nos olhos.

— Não, Miranda, te acho uma mulher linda e completa. — Fui sincera, imaginei o quanto deve ser difícil para ela lidar com preconceitos, a sociedade odeia o diferente.

— Completa, Andrea? — Ela questionou com desdém, rindo da minha fala.

— Desculpa, Miranda, pensei como uma mulher que me apaixonaria facilmente por você, exatamente assim, com um pau entre as pernas.

Miranda me olhou surpresa, seu rosto estava ficando vermelho.

— Desculpa, Miranda. — pedi de novo.

— Eu quem devo um pedido de desculpas, Andrea, ninguém sabe dessa minha condição. Sei que passei dos limites, só fiquei desesperada, seria muito para a cabeça das minhas filhas. — Ela parecia aflita.

— Elas não sabem? — Miranda balançou a cabeça negando. — Elas são adotadas?

— Não, Andrea, elas são de mim, com uma barriga de aluguel, e nem os maridos que tive sabem, todos os casamentos foram de fachada, eles ganham bem para fazer de conta que vivem em um casamento, porém, dormimos sempre em quartos separados, e claro, eles acabam cansando e pedindo divórcio, abrindo mão da boa grana que ganham mensalmente. Stephen mesmo, é outro que estar no seu limite. — Ela sorriu com tristeza.

— Você não precisa falar disso, Miranda, se não quiser.

Ela balançou a cabeça em concordância, voltou a olhar o horizonte. — Eu fiquei com medo, Andrea, você recusou meu dinheiro, quem recusa dinheiro?

RecônditoOnde histórias criam vida. Descubra agora