18 - A Guerra nos Portões do Céu

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A praça na frente do aeródromo estava um caos. O comitê travava uma batalha com as forças de segurança, esta, em menor número e esperando reforços, embora mais bem armada. Quando um agente conseguia render um manifestante, era surpreendido pelas costas por outro. Alguns civis também se juntaram à luta, mesmo que por pura anarquia. A chuva dava um tom ainda mais sugestivo ao cenário.

        — Consegue ver a sua princesa? — Muriel perguntou.

        — Não — Samuel respondeu. — Não sei se isso é um bom sinal ou não.

        — Ela já deve estar lá dentro. Vamos tentar chegar mais perto.

        Muriel levantou seu capuz e subiu também um lenço para lhe cobrir o rosto. Bem a tempo, pois quando se virou, seus olhos encontraram os de Serafim, em êxtase, aparentemente inconsciente do sangue que lhe escorria da testa misturado à água da chuva.

        — Revolução! — Ele bradou, fazendo Muriel crer que havia sido reconhecido, mas o outro logo correu na direção oposta para saltar nas costas de um guarda.

        Foi quando se ouviu os primeiros disparos das forças de segurança. Para o alto, é verdade, mas a coisa já ameaçava evoluir para uma tragédia. No momento em que o primeiro disparo atingisse alguém, independentemente de quem fosse, não haveria volta. Era preciso agir. Na porta do aeródromo, agora três guardas se posicionavam com suas armas apontadas.

        — Tem outra entrada? — Samuel perguntou.

        — Teríamos que dar a volta — Muriel explicou. — Algo me diz não temos todo esse tempo.

        — Estou aberto a ideias.

        Os dois olharam ao redor em busca de qualquer coisa útil. Muriel, então, apontou para as escadas.

        — Fique a postos — ele disse. — Você verá a sua brecha para entrar.

        Samuel achou melhor confiar em seu parceiro e abriu caminho até a metade da escadaria, o suficiente para que um dos guardas reparasse nele e lhe lançasse olhares aleatórios. Considerando a cor de sua pele, Muriel poderia não ter muito tempo para colocar seu plano em prática. E ele o fez.

        Puxando ainda mais o capuz, Muriel serpenteou pela multidão e deixou escapar:

        — Uma bomba! — Segundos depois, estava na ponta oposta. — Tem uma bomba no aeródromo! — Escapuliu mais uma vez na multidão e alterou um pouco a voz: — Vai explodir.

        Como um fantasma no meio do tumulto, sua voz ia de um lado para o outro, sem ninguém saber de onde vinha. Logo, outras vozes começaram a ecoar a sua e não demorou para que vozes próximas a Samuel repetissem suas palavras, até chegar nos guardas do portão e, por tabela, as vozes começaram a vir de dentro do aeródromo.

        A contenda perdeu força, com os olhares confusos e ansiosos indo de um lado para o outro, uns se perguntando se era verdade, outros quem havia deixado escapar a informação. O chão sob os pés de Samuel começou a vibrar pouco antes de os primeiros civis irromperem do aeródromo, alheios ao aguaceiro, empurrando os guardas que bloqueavam a saída. Uma arma disparou acidentalmente, felizmente, sem atingir ninguém, mas instalando de vez o pânico e abrindo uma brecha para Samuel remar contra a correnteza de gente.

        No saguão, Samuel sacudiu-se como um cão, feliz por ter uma desculpa para se abrigar. Lá dentro, ninguém via mais rostos. Quem não estava correndo em direção à saída, questionava os guardas e funcionários, que se mostravam igualmente confusos e no final, todos concordavam, sem saber exatamente o porquê, que deveriam sair. Todos menos uma pessoa.

Engel - O Prelúdio dos Anjos de FerroOnde histórias criam vida. Descubra agora