Engel - O Prelúdio dos Anjos de Ferro

Coda

E os acordes finais vão silenciando, prenunciando que chegamos ao fim. Mas não pode ter acabado, vocês devem estar pensando. Ao que eu digo: não se aflijam, pois este foi apenas o primeiro ato. A música nunca acaba, não de verdade. E nós ainda temos um longo caminho pela frente.

        Samuel e Pandora que o digam. Com um novo curso traçado, os dois precisarão manter os ouvidos atentos, pois a canção que buscam foi silenciada há muito tempo e qualquer som que fizerem poderá atrair um público indesejado.

        Enquanto isso, num dueto improvável, Rafaela e Calisto terão que compor sua própria canção. Mas essa promete ser um pouco mais barulhenta, do tipo que nos faz bater cabeça.

        Na Quinta, onde uma valsa clássica toca constantemente, Ferdinando precisará decidir se segue na dança, ainda mais agora que ele pode ter perdido a confiança de sua parceira. Será que ela arriscará passos novos?

        Aliás, quem parece incomodado com as canções tocadas nas ruas é Dom Guillermo. Ele pode escolher tapar os ouvidos com cera ou pode trocar os músicos, mas até onde isso pode resolver? E mais importante: será mesmo ele o maestro?

        E o que as partituras do passado ensinaram ao Rei dos Ladrões? E quem é o músico errante à procura de Samuel? Que ritmo novo é esse que Isidro de Rodenster deseja propor?

        Ainda há muitas perguntas a serem respondidas, muitos músicos a contribuir, muitos movimentos antes de chegarmos ao gran finale e descobrirmos se Pandora será vaiada ou se mergulhará do palco para os braços do público. Até lá, eu sugiro que todos...

        — O que está fazendo?

        Calisto levanta a cabeça e olha para trás, um toco de cigarro nos lábios. Rafaela está parada na porta, uma expressão desconfiada e impaciente no rosto. Calisto se levanta e descarta o cigarro pela janela com um peteleco.

        — Documentando, minha cara — ele respondeu. — Para a posteridade.

        Rafaela dá uma fungada. Em seguida, ela entra para apanhar uma bolsa de suprimentos e logo sai.

        — O trem parte em uma hora — ela disse por cima dos ombros. — Nós temos que estar nele.

        Calisto pega o papel e dá uma última olhada antes de guardá-lo com o restante de suas coisas. Na saída, ele apanha sua cartola e a coloca na cabeça.

        — Pois eu não perco esse trem por nada.