Truta
Puto da vida! Esses sites de fofoca acaba com a vida de todo mundo, esse bando de fofoqueiro.
Na moral, nunca saí do corre! Tenho explicação, já é?
Eu tentei sair por completo da parada, mas não teve como. Esse morro tem muita história pra mim, muita história pra minha família, não tinha como eu sair do dia pra noite desse lugar.
Fiz o que eu pude. Saí da linha de frente, passei realmente pro Muralha, mas continuo ajudando nas paradas. Paguei pra limpar minha ficha, morar no asfalto e ficar trombando com os cana é foda.
Realmente abrir a concessionária, era uma forma de conseguir mais dinheiro e estar disposto a algum dia sair do tráfico, mas esse dia não é agora.
Eu sei, menti pra Laura, fui filha da puta pra caralho. Mas essa foi uma forma que encontrei de estar com ela e o morro ao mesmo tempo.
Essa parada de ter família, casa, mulher é foda pra quem é do corre, por isso, tirei meu nome como o de frente, isso eu iria conseguir dar toda atenção possível pra casa só realmente ajudar aqui quando necessário.
Precisava contar algo pra Laura, dá satisfação. Mas nesse altura do campeonato ela já viu a foto, já me viu com uma metralhadora passada pelo meu corpo.
Minha mente tá a mil, parceiro. A invasão acabou, mão sei quem invadiu, não sei a comando de quem, só sei que vou descobrir essa porra ainda hoje.
Cansadão, pai é poderoso e protetor, não perdemos nenhum de nós. Conseguimos colocar na salinha dois do outro lado, vou ser torturados até falar quem fez essa merda.
Muralha: Como pode esses merda entrar aqui e não ter um de frente? _Fala puta assim que chegamos na boca._
Dadinho: Na ar dos cara não tem parada nenhuma. _Suspiro._
Truta: Dá comida, água e até medicamento pra esse cuzão. _Me refiro aos caras que estão na salinha._ Vão precisar de força pra aguentar até falar. _Sorrio._
Dadinho: Perdemos umas armas, mas não perdemos nenhum dos nossos. _Assenti._
Truta: Isso é bom. Se esses porra estiverem com ar nossa por aí que não é do corre, já sabemos quem foi. _Abro a gaveta._
Muralha: Hacker já está com um dos celulares, vai vê se acha uma parada.
Truta: Já é. Manda olhar as câmeras das rodovias até aqui. Independente de quem for, ninguém tem direito de entrar no meu morro, de acabar com meu morro._Ela assenti e saí da sala._
Acendo um fino e sento na mesa encarnado o Dadinho que estava na minha frente.
Truta: Qual foi? _Ele nega e sai da sala._
Respiro fundo, pego o celular no bolso. Alma me manda mensagem, diz que Laura viu a foto e está super mal.
Quero muito ir até ela, abraçar ela e saber que vai ficar tudo suave. Mas já é, não vai ficar tudo suave. Mando uma mensagem pra Laura, dizendo que vou ficar na minha mãe, claro que ela não caiu, mas era necessário essa mentira.
Ela sempre foi certa pra mim, sempre me deu as parada que preciso. Tô malzão. Minha cabeça está latejando.
Não entreguei tudo o que pude, não entreguei o que ela merece. Ela não vai me perdoar, não vai querer confiar em um cara que acabou de mentir pra ela.
A pior parada é perceber que errou, que errou e pode perder o amor da sua vida.
E papo reto, é como me sinto agora! Parece que eu perdi, parece que perdi algo pro futuro, parece que perdi toda esperança que eu tinha, tudo isso por não ser sincero. Se isso for verdade, acho que perdi meu mundo também.
Muralha: Hacker não achou nada no celular, parece que os cara apagaram tudo assim que apagaram. _Respiro fundo._
Truta: Foda-se. Se é hacker vai saber da aonde bem esse celular, quem comprou, aonde estava. Porra! _Bato na mesa puto._
Muralha: Eu tô fazendo o que posso porra, são mais de uma da manhã, ninguém tá pensando em mais nada. _Ele senta na cadeira na frente._
Abro a gaveta. Vejo os milhares de pinos de cocaína que tem aqui, a Laura vem na minha mente. Pego dois pinos, coloca na mesa um e outro jogo pro Muralha.
Muralha: Aí, você lembra como ficou da última vez. _Fecho a gaveta._
Truta: Eu preciso esfriar a cabeça, se quiser ficar aí, se não vaza da minha sala.
O filha da puta pega o pino e jogo com tudo na minha cara e sai da minha sala.
Preciso aliviar minha mente, da boa não está funcionando de forma nenhuma.
Abro o pino e já faço a carreira de pó. Inalo aquele pó deixando a sensação tomar conta de mim, deixando todos os problemas que preciso encarar depois que sair por essa porta.
Um sorriso se coloca na minha boca, mais uma carreira.
Meu coração começa a acelerar, meu corpo começa ficar agitado. Mais uma carreira.
Minha percepção hoje sobre isso é que antes eu achava que era um defeito de caráter meu. De querer usar drogas. Hoje percebo que sofro de uma doença chamada adicção.
Que não foi só o uso de drogas que fez minha vida virar isso tudo, mas sim meus comportamentos. Sempre quando acontecia alguma coisa comigo, traumas ou sentimentos que eu guardava, isso me prejudicava e queria preencher esse vazio com algo imediato. Procurava isso na droga. Mas podia ser bebidas ou prazeres imediatos. E isso não preenchia nada.
Mas ela preenche tudo. A Laura preenche tudo!
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Razões de uma noite 2
RomancePassamos por muitas coisas, coisas que dependendo de como seria não estaríamos aqui! Estamos bem, estáveis e construindo nosso espaço, mas será que vamos sempre ser assim? Será que vamos sempre ter o nosso espaço?