Laura
Uma semana passou tão rápido. Faz dois dias que minha rotina voltou ao normal, voltei atender na clínica, aquela muvuca de ficar pensando no melhor pros meus pacientes, essa vida que eu gosto.
Nessa semana, fiquei mais ativa, o cansaço não me consumiu tanto, com aqueles remédios naturais consegui dar uma controlada nessa ansiedade e nervosismo. Fui meia contra de começar a tomar, mas por outro lado me deu uma az surreal.
Laura: Alma, estou indo. _Digo parando na porta da sala dela._ Você fecha tudo ai?
Alma: Claro, tenho um paciente ainda. _Assenti._ Tchauzinho, qualquer coisa me liga.
Laura: Pode deixar, você também. _Ela sorri e saio._
Esse tempo que a Mila está afastada íamos contratar uma secretária por esses quatro meses, mas vai dar muito trabalho por ser algo temporário, então decidimos nós mesmas arrumar nossas agendas.
Assim que entro no carro mando mensagem pro Willian avisando que vou passar no mercado comprar algumas coisas, ele responde logo e vou até o mercado.
Acredito que ir no mercado para uma grávida é uma total perdição. Vim simplesmente pegar mamão, pera, creme de leite, frango e suco. Porém, quando olhei pro carrinho tinha mais coisas do que o necessário.
Xxx: Laura? _Viro assustada, estava super concentrada escolhendo qual bolacha recheada levar._
Laura: Dona Meire? _Sorrio e ela vem me abraçar sorridente._ Quanto tempo. _Abraço ela forte._
Meire: Nem me fale. _Sorri assim que solta o abraço._ Você está tão linda. Como vão as coisas?
Laura: Tudo muito bem, e a senhora? _Cruzo os braços._
Meire: Aí minha filha, minha cabeça ultimamente está em outro mundo. _Sorri fraco._ Faz tempo que você e o Rodrigo não aparecem em casa, aconteceu alguma coisa?
Meire, Meire Lobo. Mãe do Rodrigo.
Assim que ela pergunta, minha mente viaja em todas as coisas ruins que aconteceu na minha vida por conta dele. Mas minha mente viaja mais ainda quando lembro que ele não está mais aqui entre nós.
Laura: Meire, eu e Rodrigo terminamos a mais de um ano. _Ela fica surpresa._ Ele não disse nada? _Ela nega._
Meire: Ele esteve me casa a uns meses atrás logo após do plantão no hospital. Falou que vocês estavam bem, que estava super concentrada em abrir a clínica. _Respiro fundo._
Rodrigo continuo com essa mentira de ser um cirurgiã, achei que pelo menos para sua mãe ele tenha sido um exemplo não tendo a cara de pau que ele tem para mentir mais ainda.
Quando eu acho que depois de morto ele ia me dar, vem uma tempestade transformando minha cabeça em uma caixa de surpresas.
Meire: Tentei ligar pra vocês, mas ambos dão que o telefone não existe. _Engulo a seco._
Não sou eu quem tem que dar a notícia do filho dela, de toda mentira que o filho dela me contou, que ele quase me matou, arrancou minha casa e agora está morto. Não sou eu quem vai dar uma notícia dessas para a mãe dele.
Laura: Dona Meire, eu realmente não consigo ajudar a senhora. Não tem mais contato nenhum com o Rodrigo, não sei de mais nada sobre ele. Sinto muito. _Sorrio fraco._
Meire: Fui até a casa de vocês. _Fala calma._ Está tão diferente.
Laura: Eh...eu acabei vendendo a casa depois que terminamos. Nã...não moro mais lá. _Suspiro._
Meire: Fica tão feliz que seguiu a sua vida, mesmo eu sabendo dessa forma da separação sabe que eu sempre tive um carinho enorme, sempre te tratei como minha filha. _Pega na minha mão._ Está morando aonde agora?
Laura: Em um condomínio. _Aperto sua mão._ Dona Meire, eu preciso ir, tenho compromisso. _Ela sorri._ Obrigada por tudo que a senhora fez por mim, se eu tiver qualquer notícia dele eu aviso a senhora.
Eu fiquei tão sem reação que simplesmente sem nem pegar as coisas que estavam no carrinho, eu simplesmente sai do mercado correndo pro carro.
Nada vai fazer com que a dor dela se cure, e por isso não quero ser essa pessoa que vai dar a notícia pra ela. Acredito que não tem cura para a saudade de perder o filho. Não conheço essa dor, mas só de pensar em algo de ruim com meu filho que nem nasceu ainda me dá uma dor no coração.
Dona Meire realmente sempre me tratou como uma filha, eu já estava conhecendo o Rodrigo quando eu perdi meus pais, ela abriu as portas da casa dela pra mim passar um tempo lá. Por isso me dói, me dói como mãe saber que pelo menos ela não teve algo digno do filho dela.
Uma parte dela como mãe, uma parte tão linda, foi ferida, com toda certeza uma saudade que quando souber a verdade vai sangrar essa ferida todos os dias. Mas também sei que a parte dela como MÃE nunca vai deixar de existir, pois um filho nunca deixa de ser um filho e uma mãe nunca deixa de ser uma mãe.
Respiro fundo, limpo meu rosto que estava todo encharcado de lágrimas. Pego minha garrafa de água na bolsa, dou um gole e respiro fundo de novo dando partida no carro.
...
Parecia que o caminho até em casa era longe demais, parecia que nunca mais fosse chegar. Minha cabeça estava longe, viajando demais, mas sem estar pensando em nada, como pode isso?
Entro em casa, Willian sai de perto da piscina e vem até mim.
Truta: Uai, não ia no mercado? _Respiro fundo._
Laura: É, fui...mas não tinha nada que eu queria. _Passo a mão no cabelo._ Eu não estou muito bem, vou tomar um banho e deitar.
Truta: Que que foi? Tá com dor? Quer ir no médico? _Nego e encaro ele._
Laura: É só um cansaço, preciso só descansar a cabelo. _Ele estreita os olhos._
Sorrio fraco e subo as escadas até o nosso quarto.
Como o Willian não foi capaz de dar notícia para família que ele se foi? No mundo dele quando acontece essas coisas, aos familiares não tem algo digno de saber o por que e como tudo aconteceu?
Ele não foi capaz de dar uma satisfação?
Me dói tanto saber como eu tenho a certeza Meire vai sofrer, como isso vai acabar com a vida dela. Não sei o que estou sentindo, não sei como isso vai chegar até ela e se vai chegar. Mas eu preciso voltar a falar com ela, ou tentar.
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Razões de uma noite 2
Storie d'amorePassamos por muitas coisas, coisas que dependendo de como seria não estaríamos aqui! Estamos bem, estáveis e construindo nosso espaço, mas será que vamos sempre ser assim? Será que vamos sempre ter o nosso espaço?