Laura
Nunca tinha sentido isso antes, mas recentemente tive medo de morrer. Um medo irracional, porque está tudo bem comigo, mas racional também, quando penso que para morrer basta estar vivo.
Na verdade, o medo que bateu não era de morrer, mas de morrer sem conseguir segurar meu filho em meu braços, sem poder sentir todas as sensações que uma mulher pode sentir.
Cada dia que começa, colecionando uma vida inteira de um amor que nem sempre é falado, mas que precisa ser sentido nos detalhes da rotina, na confusão do dia a dia, nas faltas e falhas que todo amor carrega.
E quando a despedida se apresentar, a dor não deixará de ser sentida e tudo que nos restará será o tempo vivido e todas as emoções sentidas no caminho. Por isso, presta atenção, que a vida tá acontecendo agorinha e ela é boa.
Sinto uma dor de cabeça forte, tento abrir meus olhos que estavam mais pesados que tudo uma hora dessas, parecia que eu dormia por uns dois dias seguidos. Encaro aquele teto todo branco, as luzes acesas.
Resmungo com a aquela dor de cabeça a cada luz que eu encarava no teto, suspiro e resmungo de novo.
Willian para do meu lado e segura minha mão, apenas sorrio fraco.
Truta: Quer alguma coisa? Está sentindo alguma coisa? _Minha boca seca._
Laura: Muita dor de cabeça. _Ele assente e saí do quarto._
Uma enfermeira entra no quarto, faz uns exames e umas perguntas rápidas, digo da dor de cabeça e ela coloca um remédio em minha veia. Ela sai da sala, Willian para do meu lado de novo.
Respiro fundo, lembro da dor que eu tive na hora, da cara de desespero do Willian encarando minhas pernas que estavam sangrando.
Meu filho...
Laura: O neném. O neném, como ele está? _Meus olhos já ficam lacrimejados._ Não me fala...
Truta: Tá suave. _Respiro um pouco mais aliviado._ Você teve início de aborto, mas sorte que trouxe tu a tempo. Os médicos disseram que é gravidez de risco, mas está tudo bem.
Respiro fundo aliviada. Deixo um choro de alívio tomar conta de mim. É de risco, os cuidados vão ser maior, mas ele está aqui, meu sonho, ou agora meu milagre, está aqui comigo, vou conseguir levar isso até o fim.
Eu, que já tinha atravessado tantos desertos, descobri que nesse bebezinho tem uma fonte de amor e coragem, e isso que me carrega.
Me senti orgulhosa de mim mesma por ter superado tantas inseguranças que trazia comigo. Me senti abençoada, daqui um tempo poder colocar essa pessoinha no mundo. E me senti especial, ao imaginar que um dia, ele vai me chamar de mãe.
Truta: Quando você descobriu?
Encaro o Willian que parece cansado, suas olheiras estão enormes, seu olhar sem saber o que está acontecendo e sua roupa com sangue.
Laura: Ontem, fiz uns exames de rotina. _Digo baixo ainda pela dor._ Eu ia te contar, mas eu precisava de um dia pelo menos para raciocinar isso tudo.
Truta: Eu sei. _Suspiro._ Eu queria que essas paradas tivessem sido tudo diferente. Queria estar do seu lado quando descobrisse. Me perdoa.
Laura: Olha aqui..._Estico minha mão pra ele._ Nós vamos ser pais, issso tudo é novo pra nós, mas prometo que vamos fazer isso juntos, tá?
Truta: Eu queria tanto essa parada, tanto ter uma família com você, ter nossa casa. _Sorrio._ Sou grato demais por ter você, mesmo com tudo que acontecendo, nem que for pra te reconquistar de novo.
Suas palavras fazem meu coração bater mais forte e sua forma de me olhar me deixa sem jeito. Ele desperta os melhores sentimentos que há em mim e sinto que sua presença em minha vida me torna em uma pessoa melhor.
Com o Willian aprendi o verdadeiro significado da palavra amor, e foi ele quem deu cor à minha vida que até então vivia monocromática, sem que tampouco eu tivesse a noção. Eu amo ele e viver é maravilhoso, desde que ele esteja junto comigo.
Laura: Você não tem que me reconquistar, meu coração é seu. _Acaricío sua mão._ Mas agora tem mais coisas para gente pensar, vamos com calma, tá? _Ele assenti._ E o Rodrigo?
Assim que ele escuta seu nome parece que seu olar se transforma, fica escuro e sem brilho nenhum. Willian levanta, passa as mãos no cabelo parando no pé da maca, me ajeito encarando ele.
Truta: Tá na salinha, não sei o que eu vou fazer ainda. _Ele passa sua língua em seus lábios._ Esse cara fez muito estrago na nossa vida, não merece felicida não.
Laura: Não faz nada de cabeça quente. _Ele me escuta._ Escuta seu coração, agora nossa vida mudou.
Saber que nossa vida a partir de agora mudou, me dá um pouco de medo, claro que um medo diferente, um medo com um lado de curiosidade. Vamos ser pais.
Alma: Hospital grande, se ferrar. _Diz entrando na sala._ Oi irmãozinho. _Beija a bochecha do Willian._ Oi cunhada, como meu afilhado está? _Encaro ela._ Meu deus, meu irmão não sabia? _Rimos._
Laura: Relaxa, ele sabe. _Ela respira aliviado._
Truta: Vou deixar as duas ai, vou tomar uma ducha e tirar essas roupas. _Ele vem até mim._ Se precisar de qualquer coisa me liga, qualquer parada. Jaé?
Concordei com a cabeça, ele beija minha testa me deixando tímida. Ele diz tchau para sua irmão e sai por aquela porta.
Ser mãe sempre foi um sonho. Agora, é realidade. Estou feliz, mega feliz por ver crescer minha filha no meu ventre, por alimentá-la com meu alimento, por lhe dar amor e energia através do meu coração, da minha força.
Às vezes eu nem acredito que é verdade, que em breve estarei segurando minha bebê no colo. É que estou tão emocionada que penso até estar sonhando.
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Razões de uma noite 2
RomantizmPassamos por muitas coisas, coisas que dependendo de como seria não estaríamos aqui! Estamos bem, estáveis e construindo nosso espaço, mas será que vamos sempre ser assim? Será que vamos sempre ter o nosso espaço?