O Dono do Morro : Eu Odeio Amar Você

Capítulo 67: Vento e Geada Acompanham a minha Jornada pt.2

Victor Tavares

Depois que desisti de matar o Lucas eu o levei pro pagode comigo, o moleque mijou nas calças quando achou que ia morrer, eu só queria rir quando vi ele com a bermuda toda molhada, ele é medroso mas tem uma pontinha de coragem assim como todo idiota. Também consegui descobrir que ele é amigo do Júlio, isso muda bastante coisa. Se ele é amigo do fiel da Rocinha ele pode ser útil, o namoradinho do Renato não vai deixar o amigo dele morrer, apesar de que eu não sei se vou matar ele ainda, tô pensando nisso ainda. Lá no pagode o Fantasma ficou surpreso quando viu ele vivo, ele até chegou no meu ouvido pra me perguntar.

-Tu não ia dar cabo nesse moleque, Jogador?

-Mudei de ideia. O moleque é gente boa, eu gostei dele. - eu disse.

E eu gostei mesmo, ele parecia bem divertido e interessante. Ele parece estar assustado o tempo todo com tudo ao redor dele, eu levei ele pra minha casa e ele surtou quando viu o Rinaldo prestes a morrer. Quando a gente ficou sozinhos na minha casa eu me senti bem a vontade,fazia anos que eu não me sentia a vontade com alguém como me senti com ele, o moleque também não é de se jogar fora, eu acho que não vou soltar ele nem o matar, vou deixar ele aqui comigo, eu nem lembro quando foi a última vez que eu tive uma conversa normal com alguém.

A gente brincou, comeu pizza e eu levei ele no colo pra cama. Eu até dispensei a Suellen aquela noite, eu queria aproveitar com ele, eu tava me sentindo bem com a companhia dele, ele gosta de videogame e de novelas coreanas também. Ele é sincero e não finge que eu sou normal pra me agradar mas ele ainda tem medo de mim, posso ver nos olhos assustados dele o tempo todo.

Eu nem lembro a última vez que eu tinha tido uma conversa normal.

"Eu não tenho conversas normais desde o Mateus e a Mariana..." eu pensei

Eu conheci os dois irmãos quando eu tinha 20 e poucos anos. O Pantera começou a mandar os traficantes jovens para as baladas e festinhas dos playboys, os riquinhos adoravam cheirar pó,fumar maconha e usar balas. Eles sempre pagavam em dinheiro e nunca pediam troco, era uma fortuna que a gente faturava sempre. Foi em uma dessas que eu conheci os dois irmãos.

Mariana era uma patricinha que adorava fumar maconha e Mateus era o irmão dela.

Nós três nos conhecemos numa balada de luxo, a conversa foi boa e eu consegui enrolar eles dois. Naquela noite eu faturei quase 5 mil reais em poucas horas vendendo droga pros playboys, foi também a noite que eu beijei a Mariana e ela gamou em mim. Eu comecei a me vestir melhor e andar mais bem arrumado sob ordens do Max, eu não podia aparentar pobreza em uma balada cara senão iam sacar na hora o que eu ia fazer lá. Eu peguei o número dela e nós três começamos a sair sempre juntos, a família deles tinha grana e os irmãos apesar de viciados estudavam e procuravam sempre ser alguém na vida, Mariana era deslumbrada com meu estilo de vida e minha posição na favela, pra alguém que nasceu num berço de ouro como ela eu devia ser praticamente um bicho de zoológico. Já o Mateus era mais divertido do que ela e com o tempo ele se tornou um grande amigo, um dos poucos que eu já tive além do Fantasma.

Eu os levei ao Complexo e mostrei tudo o que tinha de mostrar pra eles,Mariana ficava agarrada no meu braço e o Mateus ficavam admirado com tudo o que via. Eu sabia que aquela amizade era temporária, eles não iam perder o tempo deles com um ralé como eu por muito tempo. Max detestava me ver de papo com eles.

"Trabalho é trabalho, Victor. Tu não tem que ser amigo de cliente. Ser amigo de viciado é a pior escolha pra uma pessoa como a gente." Max dizia isso sempre que eu saia pra ficar com os irmãos.

Mas eu mandei o Max a merda! Eu ia à praia, ao shopping, ao apartamento dos pais deles, a tudo com os irmãos. Nós três viramos inseparáveis! Um dia nós estávamos na praia fumando e a Mariana olhava o pôr do sol doidona e ficava falando sobre como seria uma vida longe do Rio, longe dos pais controladores dela e longe da minha vida de traficante.