Capítulo 29: A Lenda do Lobo Faminto pt.5

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Israel Rodrigues


Nós invadimos a mata da tijuca de moto, usamos as trilhas que o movimento usava para fugas. Seguimos com tudo e quando não deu mais começamos a correr. Eram trilhas que eram guardadas a sete chaves para caso de termos que fugir do morro em invasões ou se a tropa de Elite invadisse.

Eram em torno de 30 homens correndo dentro da mata. A localização em tempo real do gps que o Fábio mandou pra gente nos guiava, quando a escuridão se formou após as motos pararem foram nossas lanternas que iluminavam o caminho.

Eu sentia meu corpo se arrepiar. Oluparum era o Vaguinho, era sobre ele que as vozes me alertaram esse tempo todo, era isso que a Pombagira estava me dizendo.

"MAS SUNSÊ CONHECE ELE....JÁ SAIU CUM ELE.....JÁ ANDOU COM SUNSÊ "a voz da Pombagira no terreiro da Mãe Cláudia ecoava na minha cabeça

As palavras da Pombagira ecoavam na minha mente. Aquele filho da puta me enganou esse tempo todo, ele me fez acreditar que o Rinaldo era culpado! Rinaldo era um canalha que traia a esposa mas não era um assassino, ele nunca foi. Vaguinho manipulou todo mundo e agora ele estava com o Júlio.

E pensar que eu cheguei tão perto de botar um plano em prática pra sequestrar o Rinaldo e retalhar ele pelo tempo que fosse necessário para que ele confessasse. Teria sido um fracasso e eu teria matado um inocente.

"Sob tortura qualquer um confessaria. Até mesmo um inocente" eu pensei comigo mesmo

Renato estava um pouco atrás de onde eu estava. Ele tava desesperado, já tinha caído várias vezes, se o pior tivesse acontecido com o Júlio ele ia fazer uma loucura, eu tenho plena certeza que ele iria tirar a própria vida mas algo dentro de mim dizia que ainda tínhamos tempo.

Quando eu a Mário chegamos na casa do Renato eu ouvi a voz de novo. Quando o Mário disse que estava com uma sensação estranha eu ouvi o sussurro da Pombagira nos meus ouvidos.

"Mata...Tijuca..." a voz disse claramente.

Só depois que Mário disse que o tal Fábio tinha hackeado o relógio digital do Júlio que eu entendo. Júlio estava na mata da Tijuca, um trecho bem afastado e isolado. Eu tava correndo com o Mário enquanto ele olhava o celular, ele estava pingando de suor e respirando alto, nós corríamos o mais rápido que podemos. Eu estava com minha arma na mão quando avistamos uma cabana de taipa no meio da mata.

Quando avistamos Mário já queria correr pra lá mas eu segurei ele.

-Tá doido, caralho?! - eu disse

-A gente tem que entrar! A gente tem que salvar ele, Barão!

-Aquele Vaguinho deve tá armado lá dentro. Se a gente entrar de qualquer jeito vai acabar em tragédia.

-Quanto mais tempo a gente perder aqui menos tempo o Júlio vai ter. E se ele já estiver... - Mário engasgou antes de terminar.

-Ele não tá! Confia em mim, eu sei!

-Como tu pode ter certeza? - Mário perguntou me olhando com o rosto suado.

-A Pombagira me disse! - eu falei dando um beijo no Mário.

Em poucos instantes dezenas de homens armados chegaram correndo a cabana. Eu mandei todos apagarem as lanternas dos celulares, se abaixarem e ficarem escondidos. Nós ficamos alguns minutos ali abaixados quando vimos uma figura se aproximar da cabana, um cara baixo usando óculos, ele tinha uma arma na cintura.

"Vaguinho..." o meu sangue ferveu ao ver aquele filho da puta doente ali.

Ele estava com uma bolsa nas costas e trazia numa sacola o que pareciam ser pães e suco. Se ele estava trazendo comida de volta pra cabana só podia significar uma coisa: Júlio estava vivo.

O Dono do Morro : Eu Odeio Amar VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora