As horas pareciam não querer passar.
No começo eu estava assustado em crise de choro mas depois de algum tempo eu me acalmei e comecei a procurar alguma saída da fortaleza do tráfico. A casa era organizada e tudo parecia ser de ótima qualidade.
Eu andei pela cozinha,pela sala, por um corredor, havia também uma escada que levava a um primeiro andar onde havia uma segunda sala com uma televisão enorme, coisa de cinema mesmo. Haviam várias portas trancadas na casa, pensei que talvez seria onde ele guardava as drogas ou armas.
"Uma câmara de tortura talvez?" pensei.
Eu comecei a mandar mensagens pro Mário pelo celular. O arrombado maldito não me respondia e eu não tinha o número daquela tal de Priscilla. Eu estava morrendo de preocupação com aquele escroto mas algo me dizia que ele estava bem.
"Mário, onde tu tá desgraça?????"
Eu escrevia mensagens e enviava várias repetidas com figurinhas de ódio.
Eu percebi que os tiros que eu ouvia ao longe já não podiam mais ser ouvidos. A casa de Renato era um verdadeiro bunker, não havia saída. Eu só iria conseguir sair dali quando alguém se lembrasse de mim e viesse abrir a porta.
Eu já havia aceitado minha morte quando comecei a ver vídeos no youtube, se eu fosse morrer ao menos eu queria ouvir alguma música taiwanesa que eu curtia. Eu ultimamente só vinha ouvindo elas para praticar meu mandarim.
Agora percebi que o meu celular já marcava quase 1 da manhã.
Eu comecei a ouvir vozes do lado de fora da casa do Renato, as vozes pareciam estranhamente calmas.Eu me escondi atrás de um sofá e tentava ouvir alguma coisa. Eu ouvia a voz do Renato no meio de algumas vozes.
"Chegou a minha hora" eu pensei.
Eu decidi ficar escondido e apaguei as luzes. Eu teria uma chance se conseguisse driblar ele e sairia correndo pela rua o mais rápido possível.
Eu ouvi um som de chave e a maçaneta da porta da sala mexendo. Eu já tava quase chorando.
-Por que essa porra tá apagada? - ouço a voz do Renato resmungando e acendendo a luz.
Os passos dele dentro da casa eram pesados, a respiração era forte. Ele passa direto pelo sofá e vai pra cozinha, eu escuto barulhos de copos batendo e da geladeira abrindo. Eu escuto o Renato assobiando da cozinha.
"Esse cara é um psicopata!" eu pensei.
-Tá com fome, mano? - ouço o Renato falar alto da cozinha.
Meu sangue gela,será que ele sabe onde eu estou?
-Deixa de ser idiota e sai logo daí, cara. Eu sei que tu tá atrás do sofá! - ele fala bem alto dessa vez.
Meu corpo trava, não consigo nem respirar direito, quando me dou conta Renato estava me olhando por cima do sofá com uma cara cínica.
-Vai ficar a noite toda aí atrás? Não vou te chamar de novo, se ficar aí vai ficar com fome. - ele diz olhando nos meus olhos.
Eu me levantei devagar e começo a andar pelos cantos das paredes como se estivesse buscando algum tipo de apoio. Renato estava esquentado alguma coisa no microondas...
"O MICROONDAS! CARALHO ELE VAI ME MANDAR PRO MICROONDAS DO TRÁFICO!" eu tava gritando internamente.
-Tu gosta de pizza de frango com catupiry? - ele pergunta.
"O que é isso? É algum tipo de jogo que ele tá fazendo comigo?"
Eu olho para uma das cadeiras da mesa na cozinha e vejo um colete a prova de balas e em cima da mesa uma metralhadora. Renato estalou os dedos chamando minha atenção.
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O Dono do Morro : Eu Odeio Amar Você
Fanfiction[CONCLUÍDA!]Júlio César é um rapaz de Recife que se muda para o Rio de Janeiro após receber um cargo melhor no órgão público que trabalha. Ele passa a conviver com sua tia Ana e seu primo Mário e descobre que os dois moram na Favela da Rocinha. Além...