Capítulo 60: Roda da Fortuna

322 35 37
                                    

Fábio Cavalcante

Pantera estava morto. Ele realmente estava morto.

Eu vi ele morrer...eu vi a vida deixando seu corpo e a luz se esvaindo de seus olhos.

O sangue quente dele estava nas minhas mãos e nos meus braços,eu tentei a todo custo limpar minhas mãos mas não consegui tirar tudo. Meu Deus era tanto sangue, eu nunca tinha visto tanto sangue em toda a minha vida. Toda a minha raiva parecia ter se dissipado, eu achei que a morte do José Antônio fosse me trazer paz mas agora eu só sentia uma sensação de vazio.

Ele tinha me pedido perdão, ele chorou na minha frente. Eu nunca tinha visto ele chorar, nem mesmo quando a minha avó morreu ele chorou, ele me pediu perdão e tudo mais. Será que ele realmente havia mudado? Isso não faz sentido!

"Eu não mereço teu perdão, filho. Mas eu só quero um último abraço teu pra eu poder guardar comigo até o fim"

As palavras dele ressoavam dentro de mim e eram como um ferro em chamas dentro do meu coração. Quando ele me abraçou foi como se eu voltasse a ser criança, eu era o Fábio de 10 anos novamente que sentia toda a segurança do mundo quando o meu pai me abraçava, sentia como se pudesse enfrentar o mundo ao lado dele. Quando eu tinha pesadelos e tinha medo de dormir sozinho meu pai me levava para o quarto dele e da minha mãe, eles se deitavam e me colocavam no meio deles e eu dormia tranquilo sabendo que meus pais estavam me protegendo.

Quando ele me abraçou ele sussurrou uma última coisa em meu ouvido:

"Eu te amo, campeão....Eu te amo, meu filho...."

Foi quando eu ouvi os disparos, e depois não lembro de mais nada. Só lembro de estar no carro com o Júlio tentando limpar o sangue das minhas mãos.Quando chegamos na Rocinha a situação que já estava ruim se mostrou pior ainda, Lucas havia sumido e alguém ligou para o Renato exigindo que eu fosse entregue para que libertasse o "Júlio".

"Alguém não.....foi ele.Ele armou e ordenou a morte do meu pai. Ele sequestrou Lucas achando que ele era o Júlio e agora quer que eu seja entregue em troca do Júlio." eu pensei.

Victor....o Jogador.

Ele me quer vivo para ele mesmo me matar.

Ele matou meu pai, tomou o Alemão e agora está com um inocente, um rapaz que nada tem a ver com nossa rixa e que caiu de paraquedas como uma vítima da loucura daquele psicopata. Eu tenho que impedir ele e já tenho um plano para isso!

Nós cinco subimos em direção ao Galpão da Rocinha para decidirmos nossos próximos passos. Júlio não queria envolver o Jean por enquanto mas ele teria que ser avisado em breve sobre isso, Jean vai saber que eu sou um bandido também, será que depois disso ele ainda vai querer algo comigo? Depois que ele souber que meu meio irmão psicopata sequestrou e pretende matar o amigo dele, será que ele ainda vai querer olhar na minha cara?

-A GENTE TEM QUE SALVAR ELE, RENATO! PELO AMOR DE DEUS! - Júlio começou a chorar.

-A gente vai pensar em algo, meu amor! Eu não vou deixar o Jogador fazer mal pra ele! - Renato disse.

-Renato, a gente tem que pensar em algo logo! Cada minuto que ele demorar mais naquele morro é um risco pra vida dele. - Montanha disse, ele tava suando e respirando forte.

Barão se mantinha em silêncio roendo a unha do dedão.

-Eu me entrego. - eu disse.

-NÃO! - Júlio gritou. - ELE VAI TE MATAR, FÁBIO! VAI TE MATAR COMO MATOU O SEU PAI!

O Dono do Morro : Eu Odeio Amar VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora