Capítulo 32: Lembre-se

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Júlio César

Ver o Fábio ali na minha frente me deixou ansioso, ele tinha sido o pivô da minha briga com o Renato e um dos motivos da nossa relação ter se desgastado tanto nessas últimas semanas. Porém ele tinha sido uma peça central pra me salvar das garras do Vaguinho e meu coração seria eternamente grato a ele por tudo.

Fábio se aproximou e me deu um abraço na frente do Renato sem se importar com ele ali. Eu fiquei me sentindo ainda mais preocupado, se o Renato surtasse ali as coisas não acabariam bem, eu não queria que o Fábio se machucasse.

-Graças a Deus tu tá bem, Dieyi! - Fábio me chama pelo meu apelido chinês.

Era um costume dos estrangeiros escolher um nome chinês quando se mudavam para Taiwan ou China, como a transliteração dos nomes ocidentais para o Mandarim era muito difícil nós éramos aconselhados a escolher um nome simples para facilitar nossas interações com os nativos.

Eu me dei o nome "Guang Liang", era o nome de um cantor que eu gostava das músicas, Fábio se deu o nome de "Xiaolou". A gente achava legal na época mas hoje eu vi que eram péssimos nomes e hoje eu com certeza escolheria um nome melhor. Fábio me apelidou de Dieyi depois que vimos um filme e um personagem que tinha esse nome, eu detestei obviamente mas depois eu aceite.

Eu fiquei muito incomodado com o Fábio me abraçando na frente do Renato, eu lembrei da noite em que brigamos por causa dele e me deu uma coisa ruim no estômago. Eu afastei o Fábio e ele olhou pro Renato que o olhava fixamente com um sorriso cínico no rosto, ele tava se esforçando muito eu acho.

-Você deve ser o André! - Fábio disse estendendo a mão pro Renato.

Eu olhei pro Renato levantando as sobrancelhas, eu tinha tido que o nome do Renato era André, seu segundo nome. Eu não ia sair dizendo que meu namorado era o Renato da Rocinha, dono da maior favela do Rio de Janeiro.

-Sou eu mesmo, André! - Renato disse com um sorrisinho.

-Desculpa por ter hackeado o smartwatch do Júlio. Eu fiquei muito preocupado quando ele passou o dia todo sem atender e eu também tentei ligar muitas vezes mas sem sucesso.

"Meu celular tava com o Renato, eu fico imaginando que o Renato queria arrancar a cabeça do Fábio a cada ligação nova"eu pensei.

Eu já tava querendo que aquele contato acabasse e o Renato fosse embora logo para evitar uma tragédia. Foi quando a última coisa que eu esperava ouvir naquele dia saiu da boca do Renato:

-Se não fosse por tua ajuda meu Baixinho estaria morto agora. Muito obrigado por tudo, Fábio.

Renato disse e deu um abraço de brother no Fábio. Eu fiquei de queixo caído sem acreditar, há 2 semanas o Renato teria dado um tiro na cabeça do Fábio se ele aparecesse na frente dele mas agora ele estava ali abraçando ele como se fossem velhos amigos.

Eu nem sei mais o que pensar disso tudo. Depois daquele abraço cordial eu fiquei ali sem graça e o Renato veio se despedir de mim antes de ir embora. Ele pegou minhas mãos e depositou um beijo ali, acariciou meu rosto e falou:

-Tô indo mas eu volto, meu neguinho. Mais tarde eu tô por aqui de novo. - Renato diz e me dá um beijo de língua na frente de todo mundo.

Eu fiquei morto de vergonha, ele me beijou de língua na frente da minha tia, do Fábio, da doutora, de todo mundo. Eu entendi o que ele estava fazendo ali e o por quê dele estar fazendo.

"Cabra safado!"as vozes disseram.

Ele tava marcando o território e mostrando pro Fábio que ele tava em bons termos mas que o mesmo não esquecesse quem era meu namorado ali. Eu fiquei envergonhado mas ao mesmo tempo feliz pelo meu homem estar demonstrando que era meu sem nenhum surto ou gritaria, eu até me senti lisonjeado com aquele gesto.

O Dono do Morro : Eu Odeio Amar VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora