Capítulo 96: Eu te Amo Tanto que isso me Entristece

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Mateus Sottomayor

Eu cheguei na minha casa após o rolê com o Júlio e seus amigos bem cansado, eu tirei minhas roupas e fui logo tomar um banho e enquanto a água do chuveiro caia eu me lembrei das coisas que o Lucas me disse. Ele tinha conhecido o Victor, ele tinha interagido com ele e pelo visto o Victor seguia como traficante no Complexo do Alemão.

"Será que o Lucas tem noção de que ele estava na presença de um traficante perigosíssimo? E será que ele sabe que o pai dele é ainda pior do que ele?"

O Pantera matou minha irmã, destruiu minha família, ele e o Victor tiraram tudo de mim....foi isso que eu repeti pra mim mesmo por anos.Eu achava que se eu repetisse milhares de vezes isso viraria realidade mas não é assim que as coisas funcionam, eu sabia no fundo do meu coração que o Victor não tinha nada a ver com tudo o que aconteceu e mesmo que minha mágoa tentasse me obrigar a odiar ele meu coração não permitia isso.

Toda vez que eu tentava odiar o Victor meu coração fazia eu me lembrar do nosso primeiro beijo, da noite em que ficamos abraçados até alta madrugada no topo da serra, da noite em que ele me levou a uma casa abandonada que era usada pelo tráfico e foi onde fizemos amor pela primeira vez, mesmo sendo um ambiente nada agradável o Victor fez tudo para que fosse especial.

A água escorria pelo meu corpo e eu comecei a sentir meu rosto retesar e tremer devido aos espasmos.

"Quem não gosta de Pagode, Porra?!" eu lembrei do Lucas imitando o Victor e comecei a rir dentro do banheiro.

Ele adorava pagode desde que eu me lembro, várias vezes ele aceitou cds originais como pagamento pela maconha que eu e minha irmã comprávamos dele. Eu comprei vários cds pra ele mesmo eu nunca curtindo pagode, meu negócio mesmo era música eletrônica e rock naquela época.O Victor nos chamava pra ir na casa dele e botava um pagode bem alto enquanto nós três ficávamos fumando maconha,conversando e brincando por horas. Naquela época eu já era apaixonado por ele mas eu achava que nunca teria chance, Victor era hétero e traficante de drogas e eu era só um playboy gordo que era a mina de ouro dele junto com minha irmã.

Quando nós descobrimos que o Victor era filho do Pantera, o traficante mais procurado do Rio, um terror se apossou de nós de uma maneira absurda. Uma coisa era brincar de maconheiro com um traficantezinho que conhecemos numa balada, outra era se envolver com o filho do maior traficante da cidade. Mariana ficou com medo no começo e achou melhor nos afastarmos dele mas depois ela sentiu o gosto do perigo e começou a transar loucamente com o Victor, eles transavam várias vezes e várias vezes eu vi o Victor no apartamento dos meus pais com ela, meu peito ardia de ciúmes toda vez que eu os via juntos.

Um dia a gente tava fumando e o Victor sorriu bem forte e eu vi o dente dele que faltava no cantinho da boca e perguntei porque ele nunca tinha ajeitado aqui.

"-Teu pai tem dinheiro, Victor. Tu podia muito bem consertar essa boca aí! - eu disse

-Meu pai nunca me deu nada, Mateus! - ele disse rindo.

-Eu acho um charme esse dentinho faltando. - minha irmã disse.

-Como assim ele nunca te deu nada? - eu perguntei."

Foi naquele dia que o Victor contou a sua história para nós, uma vida de agressões, humilhações e um homem que foi capaz de matar a própria amante porque o Victor o chamou de pai. O Victor contava rindo os maiores absurdos que o Pantera fez com ele mas tudo o que eu queria era chorar com tudo o que ele estava contando, ele dizia rindo que ficou biruta depois do Pantera, seu próprio pai, bater sua cabeça no chão e na parede diversas vezes. As mudanças de humor dele eram bruscas naquela época já.

O Dono do Morro : Eu Odeio Amar VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora