Capítulo 17 : Nuvens Rosadas

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Renato Oliveira

Eu estava limpando as minhas mãos no galpão. Já passava da uma da manhã, minhas mãos tremiam enquanto eu limpava.

Parecia que só agora tinha caído a ficha, eu estive muito perto de perder meu Baixinho.O risco que ele correu por causa de um arrombado que batia na mulher foi alto demais. Eu comecei a pensar em todas as possibilidades que poderiam recair sobre ele.

No fim, acho que o fudido do Mário tava certo. É tudo minha culpa, fui eu quem mandei o Júlio assumir como professor no Projeto Social.

Os caras do Alemão não tinham nada a ver com o que aconteceu. Eu já tava até planejando arrancar a cabeça da puta favorita e da mulher do Pantera e servir pra ele numa bandeja de prata antes de matar ele.

"Mas é um bom plano. Talvez futuramente a gente possa botar em prática, seria engraçado até..." eu pensei.

O Júlio estava em um hospital particular e nós já tínhamos botado alguém nosso lá pra conseguir informação e pelo apurado ele estava bem e se recuperando. Eu cheguei a conclusão de que eu precisava proteger o Júlio mas que para isso eu teria que ficar de olho nele 24 horas por dia.

Ele ficaria puto comigo? Sim.

Iria espernear e protestar? Com certeza.

Mas antes de tudo eu precisava resolver a questão com a família dele.

Somente o Barão e o Montanha sabem do meu lance com ele. Nenhum dos crias sabem, e se soubessem e fossem falar merda eu daria um tiro na cabeça de quem achar ruim. Pra ser sincero eu nem sei ao certo o que a gente tem, o Júlio evita falar em namoro ou qualquer outra coisa mais séria mas nós já vivemos como um casal de namorados, tirando o fato de fazermos tudo escondido como dois adolescentes, é claro.

Ninguém pode me atingir, eu sou um dos traficantes mais poderosos dessa cidade, tenho essa cidade na palma da minha mão. Mas o Júlio é um alvo fácil se eu expor ele, quanto menos pessoas souberem dele fica melhor.

O Pantera era o único louco o suficiente pra querer provocar uma guerra contra a Rocinha e isso o tornava imprevisível.

Eu não consigo parar de pensar que se não fosse aquele Rinaldo eu teria perdido meu Baixinho. Esse motorista ia ter minha consideração pelo resto da vida.

Mais tarde eu vou resolver a questão com a família do Júlio. Agora eu preciso achar um jeito de ir ver ele no hospital.

-Renato? - a voz do Barão soou tímida me chamando.

-Qual foi? - eu respondi.

-A gente já fez o serviço. Agora acabou. - Barão disse.

-Agora acabou... - eu repeti.

-E agora o que tu vai fazer?

-Cadê aquele Rinaldo?

-Mano, eu ia te dizer isso. Esse Rinaldo não me cheira bem...esse maluco estar ali naquele momento sendo que ele mora do outro lado da favela. E fora que a gente tá esperando as informações dele que pedimos pros contatos e ainda tem a filmagem do túnel que vão vazar pra gente....

-Esquece isso, Barão! O cara salvou a vida do Júlio. Esquece essa porra aí e deixa o cara!

-Renato, esse cara não tá certo...

-E porque? Por que, Barão? Me diz! - eu já estava me irritando.

-Eu só sei, Renato! Eu não sei explicar, eu só sei que...

-Ah já vem tu com essas tuas macumbas, vai se fuder! - eu digo sem paciência já. - É o seguinte! Chega de ficar atrás do cara, Barão! Eu proíbo tu e o Montanha de ficar atrás do cara! Tá entendendo? Deixa o Rinaldo em paz!

O Dono do Morro : Eu Odeio Amar VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora