Prólogo

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NOTAS DO AUTOR:

Tabacudo = sonso, besta e etc.

Raparigueiro = homem galinha

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-Tem certeza que não está esquecendo nada, filhote?

- Eu tenho certeza, mãe. Chequei as malas 4 vezes antes de sair de casa.

- Tá bom. Assim que descer do avião ligue pra mim! Sua tia e seu primo estarão te esperando por lá pra te levar até em casa e depois tu vai resolver os negócios do seu trabalho. Cuidado na sua vida menino! Não fica igual um tabacudo na rua que tu não vai estar mais em casa.

- Mainha, eu não sou mais criança! Pode ficar tranquila que vai dar tudo certo! Tia Ana e o Marinho vão estar comigo e vai dar tudo certo.

Minha mãe passou a mão em seu rosto, os olhos dela já estavam marejados. Eu respiro fundo tentando engolir a ânsia de choro que vinha a minha garganta.

~Voo para o Rio de Janeiro, embarque no Portão 4 ~

A hora que eu temia estava chegando. Até aquele momento eu ainda estava em algum tipo de dissociação, era como se não fosse eu que fosse viajar, como se não fosse eu que estava deixando a cidade na qual eu vivi por mais de 30 anos da minha vida. Deixando meus amigos,família, colegas de trabalho para trás.

Eu não queria uma despedida, mas parece que Deus fez tudo ao contrário do que eu desejava. Houve uma despedida no meu trabalho, meus amigos fizeram outra despedida e na noite anterior houve um bolinho surpresa na casa da minha avó para mim.

Eu detesto despedidas, eu não sei lidar com elas. Seria muito mais fácil para mim estar sozinho no saguão do Aeroporto de Recife esperando meu voo para o Rio de Janeiro do que ali com minha família inteira me apoiando.

Minha mãe, meu pai, minhas irmãs e meu irmão.

Eu já estava sentindo que ia desabar, chegou o momento de entrar para a área de embarque. A separação de tudo o que eu conhecia e me fazia sentir seguro para entrar em uma zona totalmente desconhecida e enfrentar novos desafios.

~ Só mais cinco minutos ~

~ Só mais 3 minutos ~

~ Só mais 1 minuto ~

Eu só queria estender aquele momento ao lado deles.

Nessa hora uma pequena multidão surgiu no saguão. Vários dos meus amigos e colegas de trabalho vieram se despedir. Eu já sentia meu rosto quente como se tivessem colocado uma brasa perto de mim. Minha mãe e meu pai me abraçaram e eu recebi uma sacolinha com chocolates dos meus amigos e colegas de trabalho.

Me aproximo do portão com o bilhete de embarque em mãos. Entrego para o funcionário.

Chegou a hora.

-Bença mãe! - minha voz falha ao dizer essas palavras.

-Que Deus te abençoe e te proteja meu filho!

Olho para o meu velho pai, seus cabelos branquinhos, seu bigode branquinho e o rosto vermelho de tanto segurar o choro.

-Bença pai! - Meu pai se aproxima de mim e beija a minha testa

-Que Deus te abençoe poderosamente meu filho!

Eu respirei fundo e expirei muito alto e forte. Dando as costas para meus pais e todos ali que eu sabia que me amavam e se importavam comigo e sigo portão de embarque adentro.

O Dono do Morro : Eu Odeio Amar VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora