Sabina Hidalgo
NY, Manhattan 12:45 pm
Eu estava de frente pra Any Gabrielly, o momento mais temido por mim havia chegado, tanto que tentei me esconder de seus olhos.
Apesar de nova, Any era astuta e teimosa, sabia que não deixaria aquela história da morte misteriosa de seu irmão nem tão cedo, eu entendia ela, carregava o trauma, a angústia e a culpa nas costas.Respirei fundo pensando em como iria contar tudo que sabia, ela merecia a verdade, isso era óbvio, a questão é que eu não sabia se suportaria ouvir.
Olhei em volta, e vi que só tinha duas mesas além dela, olhei para minha funcionária e fiz sinal que precisaria me retirar e ela assentiu.
- vem comigo - chamei ela e a mesma se levantou sem pestanejar, trazendo consigo a comida fumegante no prato e o suco.
A levei para meu escritório, que era médio, e simples, abri a porta e entramos. Apontei a cadeira e ela se sentou, posicionando seu prato.
- eu não sei por onde começo - dei de ombros, me sentando a sua frente. E eu realmente não sabia, era muita informação. Havia namorado três longos anos com Bailey.
- como se conheceram - disparou Any, tomando um pouco de seu suco.
- bom... Nos conhecemos na escola, digamos que tentei roubar o carro de Noah Urrea - ri sem graça - ele estava no treino de basquete, e já tinha anoitecido, o Urrea sempre estacionava o carro num ponto cego das câmeras, eu precisava de dinheiro e achei que seria uma ótima ideia abrir o capô de seu carro e roubar algumas peças. E, bom eu até consegui, uma ou duas, mas, fui pega.
Any me dava toda a sua atenção, seus olhos curiosos me encaravam e a cada palavra que eu dizia, me transportar para o passado.
- que porra acha que tá fazendo? - senti a mão de um garoto no meu ombro, apertando com uma certa força.
Me virei com cuidado, dando de cara com um Noah Urrea espumando de raiva, meus olhos arregalaram de forma instantânea, ele agarrou meus ombros me balançando e gritando em meu rosto. Na medida que sua voz aumentava, eu encolhia, com as mãos sujas, ainda segurando as peças do seu carro.
Ele estava tão enraivecido que por um momento imaginei que no mínimo espalmaria sua mão em minha cara com toda força que tinha e ele realmente faria, quando ergueu a mão, só fechei os olhos com força esperando o tabefe mas, não aconteceu.- se tocar nela, eu juro que vou fazer você se arrepender de ter acordado hoje - a voz de um outro garoto retumbou entre nós.
Então, abri os olhos devagar, lá estava Bailey encarando Noah, o segurando pelo colarinho da camisa, como se fosse queima-lo vivo. Só aí percebi que Noah já tinha se afastado de mim.
- vai defender essa ladra filha da puta? Tá comendo ela May? - Noah indagou rangendo os dentes, espumando de ódio.
- a porra da minha vida não te interessa. Eu vou pagar pelo prejuízo - disse firmemente e se aproximou de mim - com licença - pediu gentilmente, tocando levemente em minha cintura, fazendo eu chegar para o lado.
- o que tirou daqui? - indagou e mostrei minha mãos. Ele pegou as peças e da mesma forma que as retirei ele pôs de volta no lugar, eu por minha vez, estendi um paninho que sempre carregava e ofereci pra ele limpar as mãos.
Após isso, ele ainda pagou o Urrea e me puxou pra sair dali.
- poxa, muito obrigada. Eu ia tomar uma surra daquelas - quebrei o silêncio.
- você só se mete em problemas né? Parece que é uma imã deles - rebateu de maneira divertida e o olhei.
- talvez - joguei os cabelos fazendo graça - mas, em minha defesa é a primeira vez que fui pega - parei em sua frente, já pronta pra seguir meu caminho.
- vou te dar uma carona, garota problema - ela passou o indicador na ponta do meu nariz, batendo de levinho, me fazendo sorrir.
Ele me deixou em casa e mais uma vez agradeci, perguntando o que poderia fazer pra retribuir o favor enorme que me fez. E ele disse que não queria nada.
- sei que essa não é a melhor maneira de conhecer alguém, mas, sou Sabina. Sabina Hidalgo - estendi a mão e percebi que tinha um pouco de graxa que não havia saído mesmo limpando com o paninho - ih foi mal - abaixei a mão, rindo sem graça.
- Bailey May - ele pegou minha mão, dando um aperto de leve, sustentando o olhar por alguns segundos.
Daquele dia em diante era eu e Bailey, pra todo canto, na escola, nas festas, nas corridas, tínhamos muito em comum.
Voltei olhar pra Any que parecia ter alguma pergunta e fiz sinal para que ela dissesse.
- bom, eu encontrei algo... - disse ligando o celular e me mostrando uma foto, na qual estava Noah, Hina, eu e Josh.
- como isso aqui surgiu? - indagou curiosa.
- Hina também era uma trombadinha, assim como eu, só que mais nova e rápida, fazia pequenos furtos e sempre se safava pela carinha angelical e a pouca idade, inclusive comecei me ajudou uma vez numa loja de conveniência, logo, o que foi apenas um dia, passou a ser sempre. Só que a nossa amizade ultrapassou as barreiras dos furtos em lojas de conveniência, eu passei a levar ela a corridas e nos tornamos muito próximas - expliquei.
- ela já conhecia Noah e os outros? - indagou Any.
- claro! Inclusive, passamos a ser amigos em comum, sempre estávamos juntos por conta dela. Noah sempre a considerou sua irmã caçula, do tipo que dá a vida por ela - disse com toda a certeza que possuía.
- Hina, assim como eu vivia de coisas ilícitas. No meu caso, era eu e minha mãe, tínhamos vindo fugidas do México uma ano antes, para evitar qualquer envolvimento meu com a máfia de lá, mas já era meio tarde, eu já tinha a marca deles e já agia como eles - toquei em meu quadril onde tinha uma outra tatuagem.
- já Hina não tinha ninguém por ela, só a irmã que sempre foi doente, então Noah havia se tornado sua âncora, ela era fiel á ele e ele á ela. Como carne e unha. Ela precisava daquilo, fazia pela irmã - expliquei - então, acabou se tornando nós quatro sempre, quando percebemos, já não havia rixa, estávamos juntos em tudo. Mas, eu comecei a namorar Bailey e apesar de ser o herdeiro da máfia... - eu falava, mas, Any me acabou me cortando.
- ele odiava tudo aquilo - ela completou minha fala, com as palavras que exatas que pensei em usar.
- sim... - respirei fundo concordando - o maior desejo de Bailey era ficar longe de toda essa bagunça e perigo. E queria que eu ficasse também, mas eu já estava tão envolvida, Noah já tinha aquele jeitão de gangster, mas, a coisa foi evoluindo muito. Antes, a gente só roubava coisas pequenas, depois maiores. Logo depois, o tráfico de drogas mais baratas e de fácil acesso e isso só era o começo. O dinheiro e a luxúria enchiam nossos olhos, tínhamos tido o que precisávamos e muito, muito mais.
- e quando descobriram que Noah seria o próximo chefe da máfia italiana? - Any, cruzou as mãos sobre a mesa.
- foi uma loucura, eu precisei escolher... Entre Bailey e minha mais nova família. Sabia sobre a máfia, e era eu que transportava as drogas, por vezes pedi para que Bailey entocar pra eu pegar depois, ele fazia mas, deixando claro que odiava e por isso brigávamos muito... Quis tentar manter minha vida e ser feliz com Bay, mas, não deu muito certo- falei e ela deu uma pausa.
- não sei se estou preparada pra ouvir tudo que tem a me dizer, por hoje chega - disse Any estendendo a mão para que eu não falasse mais.
Seus olhos estavam fechados com força, óbvio não deveria está sendo fácil pra ela. Mas, aquilo era só a ponta do iceberg.
- Any - tateei sua mão sobre a mesa e as segurei - eu não matei o Bailey, eu juro que não foi minha culpa - disse de todo meu coração, sentindo as mãos da mulher a minha frente tremerem. E ela assentiu meio relutante.
- então me ajuda, por favor. Qual foi o motivo,o que fez a tampa da chaleira voar? O que levou a morte de Bailey? - suplicou com a voz trêmula do choro que insistia em lhe tomar.
- Any, seu irmão passou a saber demais. Ele tinha informações que não podia ter - falei por fim.

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𝑫𝒆𝒔𝒕𝒊𝒏𝒂𝒅𝒂 𝒂 𝒔𝒆𝒓 𝒎𝒊𝒏𝒉𝒂 || 𝑵𝒐𝒂𝒏𝒚
Fanfiction꧁𝐀𝐧𝐲 𝐆 & 𝐍𝐨𝐚𝐡 𝐔꧂ Any Gabrielly exercia grande poder sobre mim, como serotonina em meu organismo. Ela era minha pequena porção de felicidade e euforia. Aqueles olhos, aqueles malditos olhos castanhos penetraram minha alma, dominou minha ment...