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Any Gabrielly

NY, Manhattan 21:59 pm.

Em determinado momento ficamos sozinhos a mesa.

Nenhuma palavra era trocada entre nós, e aquilo me incomodava tanto que, resolvi me pronunciar.

- eu tenho uma proposta - falei.

Noah me olhou decrescente e soltou a fumaça de seu cigarro. Como não obtive resposta continuei.

- não quero viver em pé de guerra... - comecei a falar, mas o mesmo me interrompeu.

- não foi você que disse que, não seria domada? - arqueou a sobrancelha.

- é pela boa convivência, apenas - menti - temos que nos suportar, se vamos trabalhar juntos.

- não vamos trabalhar juntos! Dou conta de tudo sozinho, você pode se ocupar sendo a mulher fútil que está acostumada a ser - falou, num tom presunçoso.

Suas palavras escorriam egocentrismo.

- você é sempre assim? Cavalo! Sua estupidez é imensurável - reclamei.

O Urrea me olhava como se minhas palavras não fosse nada. Então, virou o corpo em minha direção e se inclinou levemente.

- entenda o seu lugar. Seu pai te entregou nas minhas mãos por pura ambição... Não se ache importante, você só é herdeira da máfia porque Alex é mais novo que você e Bailey, bom você sabe... - riu zombeteiro.

Suas palavras me acertaram em cheio, como um soco no estômago.

Tudo no Urrea transpirava aspereza. Seu olhar era vazio, sua voz era forte e seca, seu comportamento... Esse era seu pior aspecto. O que ele tinha de atraente, tinha de babaca.

Ele tinha uma calma perturbadora estampada no rosto, como se tivesse todo controle em suas mãos.

- não me rotule, nem pense que suas palavras me abalam. Não fazem nem cócegas - falei, retomando minha postura.

- não é o que parece, docinho - zombou. E deu outro trago em seu cigarro.

Cerrei os olhos e nos encaramos, sem dizer uma palavra. Nenhum momento ele vacilou o olhar, suas orbes verdes me encaravam como se pudessem enxergar minha alma, seu olhar estava me deixando desconcertada.

Ele virou o rosto levemente sem tirar os olhos dos meus e soltou a fumaça do cigarro. Logo voltando a posição inicial.

- se vamos trabalhar juntos, será do meu jeito - disse por fim e senti o cheiro de champanhe e nicotina me envolver.

Só aí percebi que seu rosto estava tão próximo do meu, que nossos narizes se tocavam.

- não queira controlar tudo, entraremos em um consenso. O mundo não gira em sua volta - falei, me afastando rapidamente dele.

E assim pude soltar o ar que nem sabia que prendia.

- não precisamos agir como casados... Você entendeu - comentei.

- não tenho interesse em você - me olhou esmiuçador - gosto de mulheres experientes... Você não tem nada a me oferecer.

- você não faz meu tipo, também - respondi seca.

- não faço seu tipo ou você está dando uma desculpa para, esconder o fato de não saber satisfazer um homem como eu ou de não saber satisfazer homem nenhum? - questionou, provocativo.

Minha boca se abriu lentamente e meu rosto ganhou um rubor. Me mexi desconfortável e lembrei que não posso dar uma facada nele.

Será que ele é babaca assim naturalmente ou faz de propósito?

- minha vida sexual não te interessa - falei, massageando as têmporas e voltei a olha-lo - eu não passaria a noite com você, nem se me pagasse.

- é o que você acha - piscou.

(...)

NY, Manhattan 07:30 am.

Hina e eu tomávamos café, num delicatessen, enquanto eu a atualizava dos acontecimentos nada agradáveis e menos animadores da noite passada.

- tá dizendo que, o cara do acidente e Noah Urrea são a mesma pessoa?! - indagou Hina, incrédula. Basicamente gritando

- que um megafone - falei, vendo que algumas pessoas nos olharam.

- desculpa. Tô chocada caralho, preciso me expressar - sussurou.

Apenas a olhei e tomei um gole do meu capuccino de chocolate, sentindo o líquido quentinho descer pela minha garganta.

- e como ele é? Tem cicatrizes no rosto? É como todos falam? - começou a perguntar uma coisa atrás da outra.

- ele é normal - dei de ombros.

- normal? Impossível! - ela disse, como se eu estivesse omitindo informações.

A verdade é que, o nome de Noah Urrea vivia na boca de qualquer nova-iorquino, todos sabiam de sua existência. Todos sabiam sobre mortes terríveis causadas por ele, chacinas na cidade e seus crimes horrendos.
Mas, quase ninguém sabia quem ele era, e se eu não fosse apresentada a ele também não saberia.

O Urrea parecia ser apenas um cara muito arrogante e cheio de si.

- ele é bonito... Bonito demais para alguém como ele. O Urrea é a prova viva que as aparências enganam - falei e ela assentiu.

- nossa... Eu esperava ele diferente, mas, descreva melhor - disse, com uma clara animação na voz.

- ele é forte, pelo que aparenta. Olhos verdes, alto... - comecei a descrever o Urrea, sem muitos detalhes.

- você descrevendo um grande gostoso. Se deu bem, mulher - riu empurrando meu ombro levemente

E neguei, revirando os olhos.

- como se sente em relação a tudo isso? Olhando pelo lado de que está amarrada a um criminoso gostosão e misterioso - disse a japonesa.

- incrível - ironizei e ela cerrou os olhos.

- eu me sinto na merda, ok? Pensei que iria casar com alguém que eu amasse e que ele chegaria num cavalo branco, mas, o Urrea é o cavalo - dei de ombros e ela riu.

- que merda... Espero que role pelo menos sexo casual. Aí não vai ser tão ruim - mexeu as sobrancelhas sugestiva.

- não vai rolar nada, nossa relação será baseada nos negócios. Fizemos um acordo e tudo - cortei seu barato.

- qual é? Por que? Vocês não sabem aproveitar as oportunidades que a vida dá? - indagou desanimada.

- ele é babaca, obviamente me odeia e minha relação com o sexo masculino é humilhante - pontuei.

- além disso, ele fez eu me sentir a mulher mais sem graça do mundo - concluí, lembrando da última conversa.

- ele só pode ser cego, pra não enxergar a gostosa que você é. Eu te pegava fácil, fácil
- brincou Hina, piscando para mim e acabei por rir.

Desde que meu corpo começou a desenvolver e que comecei a ficar atraente aos olhos do sexo oposto, todo tipo de aproximação era fadada ao fracasso.

Motivo 1: meus pais super protetores e seguranças que assustavam aqueles que se aproximavam.

Motivo 2: meu último e único relacionamento havia chegado ao fim. O término não foi tão amigável.

Motivo 3: apesar de se mostrar confiante. Eu não acreditava que alguém pudesse realmente gostar de mim.

Relacionamento, homens e sexo era matéria na qual eu era reprovada.

- é o seguinte, se no dia do casamento te der um estalo e você desistir. Estarei com o carro à porta da igreja, para fugirmos - disse, me arrancando dos meus pensamentos.

- olha, eu não acho má ideia - pisquei para ela.











𝑫𝒆𝒔𝒕𝒊𝒏𝒂𝒅𝒂 𝒂 𝒔𝒆𝒓 𝒎𝒊𝒏𝒉𝒂 || 𝑵𝒐𝒂𝒏𝒚Onde histórias criam vida. Descubra agora