16

1.2K 104 16
                                        

Noah Urrea

NY, Manhattan, 22:56 pm.

- Noah...Noah - ouvi a voz calma e sonolenta de Any me despertar por completo.

Abri os olhos contra minha vontade, dando de cara com ela, com o rosto levemente amassado, esfregando os olhos. Uma cena extremamente fofa, eu diria.

- o que foi? - perguntei, com a voz arrastada.

- você precisa me soltar, não acha? - perguntou retórica. Demorei alguns segundos para processar suas palavras.

- ah... Claro - falei a soltando, relutante.

Então, ela se levantou da cama, se espreguiçou, saindo do quarto.

Olhei para o teto por alguns segundos, olhei a hora e o relógio marcava 21:30, as poucas horas mais bem dormidas da minha vida. Me virei sobre a cama, ficando com o rosto virado para o travesseiro, onde o cheiro de Any havia ficado levemente impregnado.

Me levantei, tomei banho, me vesti e catei as roupas molhadas no canto do quarto, em seguida levei-as para lavanderia.

Fui para cozinha, e lá estava Any resmungando algo para o celular, enquanto segurava alguns de forma legumes desajeitada.

- quer ajuda? - perguntei.

- não, tá tudo bem - disse, um tanto perdida com as coisas - é só seguir a receita, não deve ser tão difícil.

- então, tá bom - ergui as mãos, me retirando.

Por fim, depois de quase por fogo na cozinha, resolvi que iria cozinhar, antes que ela se matasse.
E fiquei me perguntando como conseguiu fazer o chá, se bem que é mais fácil.

- desculpa por queimar seu pano de prato e quase explodir o bujão de gás - disse ela sem graça, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha.

- e botar fogo na frigideira... - completei, arqueando a sobrancelha - como cozinheira você é uma ótima mecânica.

- continua zombando mesmo, só porque cozinha melhor que eu - disse baixo, voltando a atenção para comida.

- isso foi um elogio? - indaguei.

- nunca vou admitir - olhou para mim e soltou uma piscadela.

Terminamos de jantar, as louças estavam devidamente lavadas e nos seus lugares. O silêncio se instalou, como sempre não tinhamos assunto, quando não estávamos brigando ou trabalhando, não havia mais nada que nos conectasse.

Acreditando que, não iríamos dormir tão cedo, pelo horário que acordamos desde nosso breve sono. Peguei uma garrafa de vinho e a chamei para sentar na sala.

- me conte sobre você - pedi, fazendo ela retirar a atenção das próprias unhas.

- não tem muito o que dizer sobre mim. Mas, antes de ser entrar nesse mundo da máfia, minha vontade era ser professora, amo ler, ir a praia e minha cor favorita é azul  - começou a falar, calmamente.

- pensei que iria negar até a morte - comentei, um tanto chocado.

- não há motivos para eu desconfiar de você - disse ela, dando de ombros.

- alguns diriam que você é extremamente tola - lhe estendi uma das taça que segurava.

- há poucas horas eu dormia na mesma cama que você, também somos casados, moramos juntos. Então, não há motivo para desconfianças - falou, se servindo um pouco da bebida.

Suas palavras me deixaram embasbacado, mais uma vez. Ninguém com a saúde mental em dia, confiava em mim, eu não tinha um bom histórico.

Mas, Any parecia não se importar, não sentia medo, não demostrava nem o mínimo repúdio.

- tem razão - falei - bom, eu fiz faculdade de contabilidade, não tenho cor uma favorita, gosto de pintura em telas ou aquarela,  e essa é a minha forma de se expressar - continuei a linha inicial da conversa.

- e o que gosta de pintar? - disse, interessada em me ouvir.

- pessoas, paisagens - respondi e ela assentiu, concordando.

A encarei por alguns segundos, imaginando a possibilidade de tê-la, deitada em um campo de girassóis, enquanto pinto cada curva de seu corpo em uma de minhas telas.

Saindo de meus pensamentos, voltei a me direcionar a ela.

- porque não fugiu no dia do nosso casamento? Preferiu ver o sonho de se casar por amor ruir? - indaguei curioso, terminando a segunda taça de vinho, ao mesmo tempo que Any.

- eu já estava destinada a um casamento arranjado, sendo com você ou não.... O amor pode surgir do improvável e essa é a graça. Quando menos se espera, está sufocado pelo amor que sente por outra pessoa - explicou de forma sucinta, passando a língua pelos lábios captando qualquer resquícios da bebida presente.

Pode ser que eu estivesse pensando muito em como foderia ela, quando a tivesse em minhas mãos, mas suas palavras me fizeram entender que talvez tivéssemos alguma chance, até porque o futuro é imprevisível...

- acha que o amor pode desestabilizar alguém? - indaguei, curioso.

- com toda certeza, às vezes por amar muito alguém, ou nunca ter se sentido amada, a pessoa em questão pode aceitar coisas que no seu estado normal, não permitiria - disse, um tanto pensativa.

Dei de ombros como se não me importasse. Mas, todas as informações sobre ela eram como alimento sagrado para mim.

Só precisava garantir que ela acreditava fielmente que uma pessoa apaixonada pode se tornar vulnerável.

Eu com toda certeza, iria tirar grande proveito disso.

Any Gabrielly

A conversa com Noah estava tomando um rumo interessante, eu precisava ser flexível e manipulável a seus olhos.
Mas, também precisava conhecer seus medos e suas faltas, porque em breve o teria na palma das minhas mãos.

A primeira coisa que percebi, foi que, o Urrea parece não estar habituado com atos de cuidado e afeto, fica extremamente radiante ao menor resquício de altruísmo, talvez porque sua infância não foi tão fácil.

Mas, por outro lado Noah tem uma pose de durão, com certeza é uma espécie de armadura que ele usa pra não deixar as pessoas se aproximarem e descobrirem seus pontos fracos.

- acho que vou indo, amanhã temos muito o que fazer - me pus de pé, deixando a taça sobre a mesinha de centro e fez o mesmo.

- realmente - ficou em pé também.

Me aproximei dele, ficando bem perto e fitei seus olhos, levando minha mão a seu rosto.

- obrigada pelo jantar e se precisar só chamar - assim que toquei seu rosto acariciei, sorrindo abertamente, sendo o mais amigável possível. Suas pupilas dilataram quase automaticamente.

Como eu disse, sedento por o mínimo de afeto.

Ah, Urrea... Eu vou me divertir, enquanto acabo com você lentamente.

𝐍𝐨𝐭𝐚 𝐝𝐚 𝐚𝐮𝐭𝐨𝐫𝐚:
Gente, queria saber o que estão achando da fic, porque às vezes acho que minha escrita e enredo estão uma bosta.

𝑫𝒆𝒔𝒕𝒊𝒏𝒂𝒅𝒂 𝒂 𝒔𝒆𝒓 𝒎𝒊𝒏𝒉𝒂 || 𝑵𝒐𝒂𝒏𝒚Onde histórias criam vida. Descubra agora