Capítulo 1

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Orla de Boa viagem, calçadão no Recife, Pernambuco. Maio de 2019.

A jovem Juliette corta verduras, enquanto canta uma canção, num quiosque da orla.

- "Quanto custa
Um beijo seu? Fala pra mim, quanto custa
Pra ter você perto de mim? Quanto custa
Pra você ficar só comigo e mais ninguém?
Quanto custa
Pra gente não se separar? Quanto custa
Pra nunca nem sequer brigar? Quanto custa
Pra ter você constantemente nos meus braços?
Eu pago qualquer preço pra você
Nem que eu tenha que morrer devendo
Gastei os créditos do meu coração
De empréstimo em empréstimo vou sobrevivendo
Se você quiser, pode se aproveitar
Mesmo que eu não possa, tentarei pagar
Se no fim das contas rolar um desconto
Quitarei meu débito e você vai me amar." -  Quanto Custa? (part. Léo Santana) Dorgival Dantas.

- Hoje ela está animada... - disse Catarina junto a colega de trabalho.

- Quem canta seus males espanta e eu estou apaixonada nessa música. Vai ser sucesso no São João.

- Que você não vai por que o mala do Adailton com certeza não quer.

- O Adailton vive muito cansado.

- Não amiga... Ele só quer uma coisa de você e no dia que acontecer você se livra dele para sempre.

- Nós temos uma história. São oito meses de namoro Catarina. É muito tempo para estar comigo só por sexo, no caso em busca dele.

- Tomara que eu esteja errada Juliette.

As duas foram interrompidas por um homem que mensalmente estava indo jantar no quiosque. Já era a terceira visita do "espanhol".

- Chicas buenas noche. - ele disse cortez e enquanto Catarina só mexeu a cabeça, Juliette falou fluente.

- Buenas noches señor. ¿El mismo orden de siempre?

- Sí. Filete con patatas.

- ¿Algo de beber?

- Coca.

- Pues bien. Lo tomaré ahora. Sólo espera.

O "espanhol" sentou em uma mesa e Catarina se pôs a falar:

- Juliette é uma mulher tão bem instruída, além de tudo é advogada... Por que está aqui?

- Por que o quê ganho no escritório não é suficiente e além disso tem dois meses que não recebo salário. Se não fosse o quiosque eu passaria fome com a mãe e meu irmão.

- O "espanhol" é tão simpático. Tão seu nível.

Juliette gargalhou.

- Meu nível? Catarina teria que trabalhar uns 20 anos para comprar o sapato desse homem, pelas caridade.

- Juliette ainda terá o mundo por que merece e isso aqui será só recordação.

- Deus te ouça Catarina. E o nome do espanhol é Rodolffo, já decorei e ele não fala só espanhol, é bom também no português, visse?

- Huuum... Então é a linguagem dele para tu... Acho que estou entendendo.

- Eu tenho namorado. Sem gracinhas.

Juliette foi até a mesa de Rodolffo e ele pediu que ela sentasse com ele. Ela ficava extremamente sem graça, mas como o movimento era pouco sentou por dois minutos.

- Já jantou? - ele perguntou e ela balançou com a cabeça em afirmativo. - Amanhã venho aqui novamente e talvez no outro dia também.

- Está passando mais tempo na cidade?

- Vim sem uma data certa para ir embora. Tenho que resolver uma questão. Gosta desse emprego Juliette?

- Gosto.

- Trabalha até meia noite e realmente gosta?

- Sim. Aqui é bom e me paga constantemente. Mas eu não trabalho apenas aqui.

- E onde mais trabalha?

- Num escritório de advogacia. Eu sou advogada.

- Que cosa tan maravillosa.

- Não muito. Eu trabalho bastante e ganho pouco, mas tudo bem.

- Eu preciso de alguém como você e aqui está o meu cartão, entre em contato comigo e falamos.

- Está precisando de uma advogada?

- Eu preciso de você. - Juliette sentiu uma sensação estranha com aquela frase e se levantou.

- E eu preciso trabalhar.

- Me ligue assim que puder, a qualquer hora, pode ser a cobrar.

Ela acenou positivamente com a cabeça e saiu de perto dele.

Catarina estava com muita curiosidade e foi logo ao interrogatório.

- O quê ele queria?

- Uma funcionária. O quê mais seria Catarina?

- Ave Maria... Se um homem desse me olhasse assim, eu já ficava nua na frente dele.

- Ainda bem que eu não sou você Catarina.

- Amiga tu precisa provar... É sério. Tu tem 25 anos.

- E daí? Eu beijei na boca a primeira vez aos 18 anos e foi quando eu entendi que estava pronta, foi com o meu primeiro namorado. Não ficamos tanto tempo juntos, mas eu gostei muito dele.

- E o motivo do término, qual foi?

- O mesmo do segundo namoro...

- Sabe que ou tu cede com aquele tribufu ou ele também vai embora né?

- Se ele não souber me esperar, pode ir.

Juliette terminou mais um expediente no quiosque e se sentiu cansada. Esperou um pouco por Adailton que prometeu vir buscá-la, mas não apareceu.

Ela sentia que ele estava distante, mas a todo instante inventava desculpas para justificar o sumiço. Adailton estava indo e mais uma vez seu desejo de ter um relacionamento sólido estava escoando pelos dedos.

- Não é muito tarde para estar na rua?

- Estou esperando o meu noivo. Eu sou noiva.

Rodolffo sorriu e sentou-se próximo a Juliette.

- Eu acho esse conceito de família e casamento um saco, mas é necessário para algumas situações.

- Eu acho lindo. Eu sempre fui cristã e para mim o encontro de um homem e uma mulher é uma promessa de Deus. O casamento foi feito para que a família continue e a espécie humana também.

- Nossa... Isso é profundo. Se não fosse só um conceito religioso seria excelente.

- Não zombe. - ela o olhou e falou séria.

- Não me dê ordens. Eu zombo do que eu quiser e tiver vontade. E sinceramente não acredito nessas coisas todas, inclusive fiz vasectomia para nunca ter o imprevisto da paternidade.

Juliette permaneceu calada. Seu olhar agora estava ao longe.

- Vai me ligar ou não?

- Não! Principalmente por que está me aborrecendo com essas conversas.

- Eu tenho uma proposta muito boa.

- Eu não tenho como conciliar outro trabalho.

- Não estou te oferecendo um trabalho, e sim um cargo.

- Não entendo. Também não quero entender. Um cargo é um trabalho.

- Um cargo também pode ser uma posição social...

- Meu ônibus vem vindo. Estou ouvindo o barulho. - ela disse apressada.

- Eu espero a sua ligação... De toda forma, nos vemos amanhã.

Juliette saiu dali sem entender muito daquela conversa, mas também teve pouco tempo para pensar. Pegou o ônibus e até cochilou para chegar ao seu destino. A viagem a deixava ainda mais exausta, então ao chegar em casa simplesmente dormiu profundamente.

...

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