Capítulo 53

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Quatro meses depois...

Era uma manhã fria e chuvosa em Lisboa. Juliette olhava o jardim de casa ser encharcado pela chuva e sentia os olhos alagados por lágrimas. Desde o acidente nunca tinha visto um dia mais sombrio do que hoje.

As suas pequenas mãos passeavam pela barriga de sete meses do Emanuel, esse era o nome do seu filho. Recentemente ela tinha ouvido a pior notícia que uma mãe poderia ouvir, seu bebê não estava se desenvolvendo como deveria e tinha uma cardiopatia.

O diagnóstico não era animador, mas Juliette tinha fé, porém durante toda a noite ela não sentia Emanuel mexer e isso era um sinal de alerta, então ir ao hospital era essencial.

- Juli... Está tudo pronto.

Rodolffo dizia tentando ser forte, mas chorava a todo instante. Ele queria tanto aquele bebê, mas já não tinha a fé que Juliette conservava.

- Ele é prematuro, mas tem chances de sobreviver, não tem? - ela disse buscando o amparo do marido e ele a abraçou.

- Tudo vai ser como tiver que ser meu amor. Não estará sozinha, eu juro!

...

Ao chegar no hospital, Juliette foi avaliada e Emanuel estava vivo, mas não exatamente em trabalho de parto. Seu coração estava fraco e uma cesárea de emergência teria que ser realizada.

- Eu estou pronta. Tudo que o quê eu mais quero é trazer o meu menino ao mundo.

Rodolffo estava tentando dá tranquilidade a Juliette, mas o médico já tinha lhe dado o prognóstico:

- Pai, seja forte. Infelizmente as chances dele são mínimas.

- Me perdoe, mas não pode me pedir para ser forte. Só eu sei o quê passei nesses últimos meses em que o meu filho foi diagnosticado com uma cardiopatia. Os médicos acham que foi da medicação que a minha esposa tomou, mas eu acho que não foi isso.

- E qual é a sua suspeita?

- Eu sou amaldiçoado... Nada me tira da cabeça isso. É o meu terceiro filho que não vou conseguir criar.

- Meus sentimentos. - disse o médico antes de sair.

Quando a cirurgia iniciou, Rodolffo fazia carinhos no rosto de Juliette.

- Eu quero ver ele...

- Vão trazer assim que nascer.

- Eu tenho certeza que vai parecer contigo. - ela disse sorrindo e Rodolffo tentava não chorar.

- É a sua cópia meu amor.

Juliette tinha recuperado a memória quase totalmente, mesmo que ainda se sentisse confusa com algumas lembranças, a maioria das coisas ela tinha plena consciência.

...

Quando Emanuel nasceu vinheram logo trazer ele para a mamãe e o papai o verem. Mesmo prematuro era um bebê totalmente formado, mas não chorou e nem abriu os olhos.

Juliette e Rodolffo estavam muito emocionados, mas tiveram pouco tempo, logo o bebê foi levado para os cuidados e Juliette foi adormecendo enquanto a cirurgia era finalizada.

Ela só acordou duas horas mais tarde e quem estava com ela não era o seu marido, mas sim, sua sogra.

- O Rodolffo, cadê ele?

- Filha... Não fale tanto. Ele não está aqui agora.

- E o meu Emanuel, cadê?

Sua sogra respirou profundamente e lhe deu as costas, não queria chorar na frente de Juliette.

- Cadê o meu bebê? Não me esconda. Ele não resistiu?

- Minha querida, infelizmente ele não sobrevi... - e se pôs a chorar.

Juliette recebeu aquela notícia com muita dor, mas se preocupou com Rodolffo no mesmo instante.

- E cadê o meu marido?

- Meu filho foi internado. Precisou de um calmante para resistir. Por sorte estávamos aqui.  Juliette, ele está sofrendo muito.

- Eu sei que está...

Juliette chorou em silêncio e guardou no coração todas as lembranças que teve com o seu filho.

- Papai. Cuida do meu anjinho no céu.

...

Aquele luto era o mais doloroso dos lutos. Voltar para casa sem um bebê tão esperado, era uma dor sem fim.

- Eu não quero doar nada dele. - Juliette disse quando chegou no quarto que seria de Emanuel.

- Mas vamos doar. Nada disso ficará aqui.

- Rodolffo não fale assim. O Emanuel existiu e é o nosso filho. Eu não quero me desfazer da lembrança dele tão rápido e mesmo sabendo que ele nunca vai usar essas coisas, ainda as quero aqui.

- Para quê? Só para sofrer? Não Juliette. Hoje mesmo essas coisas todas saem daqui.

Rodolffo estava seco e ela não gostava do tom dele, mas sabia que ele estava sofrendo.

- Não vou discutir. Eu estou de resguardo e espero que lembre-se disso. Respeite o meu tempo e não descarte as coisas do nosso bebê.

Rodolffo baixou a cabeça e disfarçou o choro.

- Emanuel é o nosso filho no céu e sempre será o princípio da nossa linhagem. Os irmãos dele vão sempre saber da existência desse primogênito.

- Não vão. - ele disse abanando a cabeça.

- Não é o momento de discutir isso.

- Não tem discussão. Isso é uma decisão definitiva.

Aquele Rodolffo trouxe para Juliette a recordação do Rodolffo que ela conheceu no princípio e aquele comportamento era detestável.

Ela saiu de perto dele, caminhando devagar.

...

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