O ventre que me transforma

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Acho que minha cabeça tava girando mil vezes mais do que em todos os porres que eu tomei nessa vida, a ponto de sair carregada pelas minhas amigas e chegar em casa pra lá de Bagdá.

Tudo girava, girava e girava. E eu tava tonta, tontinha.

Como é que isso foi acontecer, véi?

Nem precisa dizer, que eu sei bem como é que a gente fez essa criança. Sei decor, salteado e se bobear revivo um desses momentos dia desses.

Mas a verdade é que a gente nunca transa esperando engravidar, por mais que não se faça nenhum esforço pra prevenir. É meio coisa de doido, mas nós dois somos meio perdido das ideias.

Talvez por isso, enquanto a maioria dos recém casais estaria surtando, nós dois olhávamos pro teste positivo com a maior cara de bobos do mundo.

Bobos por não crer que aquilo estivesse acontecendo, na mesma intensidade que estamos bobos já imaginando toda a grandiosidade de ter um filho nosso.

Meu e dele, uma misturinha do que há de bom em mim e do melhor que há nele.

— Meu Deus, Alexandre. — murmurei, sentindo minha mão trêmula segurando aquele teste pra lá de positivo.

Não tava só com dois risco fraco não, tava um risco pra lá de forte que deixava bem claro que eu tava muito grávida, não era pouca coisa não.

Nero tinha me engravidado de jeito, sem sombra de dúvidas.

— Nega do céu. — sua voz estava bem chorosa, sem acreditar tanto quanto eu.

Por mais que ele viesse insistindo que eu fizesse esse teste, acho que no fundo ele também duvidava que fosse positivo. Talvez daqui uns anos essa seria nossa meta, mas agora?

Acabamos de começar a ter algo mais sério, acabamos de nos assumir pra todo mundo. É tudo tão novo que a gente nem se acostumou.

Mas é claro que até mesmo a criação da nossa família seria tão confusa e bagunçada como nós somos desde o dia um, desde que nossos destinos se cruzaram no Galileu e nada mais foi igual.

Nero chegou e bagunçou tudo na minha vida, me revirando do avesso umas trinta mil vezes por dia.

E ô delícia que é ser revirada por esse homem, que além de uma beldade deliciosa aos olhos, também tem o coração mais bonito e generoso que eu já conheci.

Não escolhi ter esse filho, mas se fosse pra escolher eu o escolheria pra ser o pai sem sombra de dúvidas. Não havia escolha melhor que ele.

— Tu tá grávida mesmo, né? — ele parecia incrédulo, pegando o teste da minha mão só pra olhar de novo. — Tá grávida mesmo, véi! — ele passava a mão pelo próprio rosto, limpando as lágrimas e tentando se acordar daquele sonho doido.

Eu não precisava perguntar como ele estava se sentindo com aquela novidade, eu consegui enxergar nos seus olhos a felicidade. Claro que também havia certo medo, mas não daquele resultado.

Um medo de como lidar com aquilo, medos e incertezas que é normal que pais de primeira viagem tenham.

Pais... Meu Deus!

Me aproximei ainda mais dele, sentindo a imensa necessidade de estar perto simplesmente por estar. Meu coração batia tão forte no peito que eu tinha medo de não aguentar aquela emoção toda.

Viajei pra Bahia pra conhecer meus sogros e minha cunhada e vou embora com um filho na barriga.

Mamãe vai ficar maluca, doidinha da Silva.

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