Por causa da Mulher

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Depois daquele arranca rabo sobre tá gravida ou não tá gravida, eu saí do quarto meio cabisbaixo, mas não era porque ela tinha mandado, e sim porque a reação dela foi meio fora do que eu sempre esperei. Eu precisava pensar. Dei uns passos pelo corredor da casa e fui direto pra varanda. A noite tava começando, o sol se pondo, e aquele ar mais fresco me ajudou a respirar melhor. A cabeça tava rodando a todo vapor.


Será que eu tô louco mesmo de comer corda de Alicia e mainha, ou será que tem coisa aí e ela só não quer admitir?


Fiquei olhando pro mar, tentando acalmar a mente. As ondas que iam e vinham junto com aquela agonia da porra que eu tava passando depois de reparar bem no corpo da mulher que eu me juntei por meses e ver que tá na cara que aconteceu alguma coisa. Pela frequência da prática, era óbvio que ia acabar fazendo um boneco... mas assusta que tenha sido tão cedo assim.


Se estão me questionando e julgando que eu estou desgostoso com essa noticia: acreditem, não estou — eu quero muito repovoar as Minas Gerais e a Baia de Todos os Santos com aquela morena. Só que véi... aquela conversa me deixou mais pilhado do que eu esperava. Giovanna podia ter razão, mas eu não tava conseguindo engolir essa história de "é só a menstruação".


Só que já vi esse filme antes. Eu tinha certeza de que os sinais estavam todos ali, e ela tava só evitando pensar nisso.


A verdade é que, no fundo, eu sabia que se fosse verdade, nossa vida ia mudar pra porra. Um filho não tava nos planos agora, não mesmo. Ter um filho agora pula todas as etapas bonitinhas que eu queria seguir com ela. E por mais que eu quisesse agir como se nada disso fosse possível, a ideia já tinha feito morada aqui dentro. Se ela realmente tiver grávida, vai ser uma reviravolta. Ficar pensando nisso só piorava minha ansiedade.


A vontade de comprar o teste e acabar logo com essa dúvida era enorme. Mas ela ia matar se eu insistisse nisso. Do jeito que saiu brava, eu já sabia que não era hora de cutucar mais. Mesmo assim, tinha uma coisa que eu não podia ignorar. Não agora. E se for verdade? E se eu tiver mesmo prestes a ser pai?


Sei não. Só sei que por menos, vi nego endoidar no mundo, e sair correndo do perigo. Eu não, tava disposto em resolver essa questão, nem que fosse do meu jeito e nem que fosse no meio de uma festa repleta de parente preocupado com minha vida de bon vivant em Belo Horizonte.


A música da festa de 15 anos comia no centro, a Praia do Forte nunca esteve tão animada, mas eu não conseguia desviar o olhar de Giovanna. Até porque ela tem essa coisa de ser hipnótica, e estava dançando, rodopiando com aquele vestido junto com a minha irmã, e mesmo sob a luz pisca-pisca do salão, era como se ela tivesse um brilho próprio.


Se ela já não tivesse grávida, eu fazia um menino nela ainda hoje. Mas a gente pode praticar a vontade, né?


Só que em meio a todo aquele frevo, tinha algo que me deixava inquieto: a taça de espumante que ela segurava. Eita, não era hora dela inventar de beber, não, pensei, com um nó se formando na minha barriga.


Corta pra mim, com a cabeça a mil, cachaça na cabeça e a perturbação de Alicia mais uma vez comendo meu juízo: Eu ia ter que reagir mais uma vez, agora ou nunca.


Veja bem: ela já andava se comportando de um jeito meio diferente, e eu, com essa desconfiança batendo, só conseguia imaginar o que poderia rolar. E eu não tô afim de arranjar problema pra criança minha.


— Nega! — gritei, abrindo caminho pela multidão, ignorando os olhares curiosos. Ela virou a cabeça, e eu vi aquele sorriso lindo, mas a minha preocupação não me deixou relaxar. — Precisamos ter um papo.


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