Capítulo 47.

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As tentativas falhas de Ghost para tentar pegar o seu caderno estavam se diminuindo, até ele parar. Você riu baixo deixando um sorriso tomar conta dos seus lábios, a euforia lhe contaminou, até certo ponto. Terminando as últimas duas colheradas de comida em seu prato, algumas lembranças voltaram. O beijo. Bomba relógio. Ele estava fingindo estar ligando para você? Era mais algum tipo de fingimento ou era.. real? Limpando a garganta você afastou o prato de si, abrindo a tampa da garrafa de água e depois levando aos lábios.

— espero que você esteja melhor, sua volta para as missões está se aproximando. - comentou.

— digamos que sim, estou melhor do que antes. Tirando toda perturbação noturna. - você respondeu rápido, por impulso.

— Price liberou para que eu ficasse contigo, te acompanhasse nos treinos de tiro. - complementou.

— não preciso de babá, Ghost. - comenta dando um sorrisinho fraco.

— não vou ficar na tua cola o dia todo, Scar. - retrucou.

Após fechar a garrafa, você a deixou sobre a mesa. Suas mãos pousaram sobre o pequeno caderno de desenhos, folheando-o distraidamente em busca de algo para passar o tempo, já que seu horário de almoço ainda não havia terminado. O ambiente estava silencioso, preenchido apenas pelos sons abafados dos caminhões ao lado de fora. Simon, sentado ao seu lado, permanecia quieto. No entanto, a tensão em seu olhar e o leve tamborilar dos dedos na mesa deixavam evidente sua inquietação. Ele claramente tinha algo a dizer, mas parecia hesitar em encontrar as palavras certas.

— o que fizeram com o corpo dela? Escutou algum dos recrutas falando sobre a minha reputação perdida? - suas perguntas começam a disparar dos seus lábios rapidamente. — vão me transferir outra vez?

Scar, fica calma. Não vão te transferir, te deram um tempo isso já é a justificativa que não irá ocorrer uma transferência. - respondeu com a voz baixa.

— onde está o König? Não o vejo há alguns dias.

— ele teve que voltar para a Kortac, enquanto você estava afastada aconteceu muitas coisas. - continuou falando.

Soap não falava mais com você, e Gaz também mantinha distância. Será que seu surto havia realmente afetado tanto assim seus vínculos? A pressão voltou com força, e seus pensamentos começaram a se embaralhar, criando um nó em sua mente. Você respirou fundo, tentando se acalmar. Não podia se permitir sobrecarregar outra vez.

Na noite anterior, havia pensado demais, mergulhando em um turbilhão de emoções que culminaram em um ataque de pânico intenso. Incapaz de ficar no dormitório, acabou vagando pelo gramado do campo de treinamento na madrugada fria, buscando um pouco de paz na solidão da noite. Agora, a última coisa que queria era ficar em silêncio ou revisitar aqueles pensamentos. Precisava sair dali o quanto antes e liberar toda a frustração e raiva nas balas que atravessariam os alvos na sala de tiros.

— mas boas notícias, vamos para Las Almas outra vez. Conseguimos uma missão por lá com a ajuda do Alejandro, você poderá ir conosco já que o coronel pediu. - comentou quebrando o silêncio.

— missão em Las Almas? - franziu o cenho confusa.

El Si Nombre está de volta.

Quando o tenente disse aquelas palavras, seus olhos se arregalaram levemente. Valéria voltou ao jogo? A notícia a pegou de surpresa. Tanto tempo afastada do celular a deixou completamente desatualizada, sem a menor ideia do que estava acontecendo ao seu redor. Uma onda de ansiedade tomou conta de seu peito, e a vontade imediata era correr para o dormitório e ligar para Valeria, ouvir suas explicações, entender o que estava acontecendo.

Você tentou manter a compostura, mas sua mente já estava um caos, navegando por mil perguntas ao mesmo tempo. Por que Valéria voltou? Teria voltado sozinha ou com um propósito maior? Tantas informações em tão pouco tempo estavam a deixando maluca. Tudo o que queria agora era um momento a sós para processar as novidades contadas por Simon.

— como? - você perguntou baixo, quase sussurrando.

Laswell nos avisou hoje na reunião, parece que temos mais uma peça no tabuleiro. - continuou respondendo.

— já sabem que é?

— não, Laswell está cuidando disso. - prossegue. — saberemos daqui duas horas, ela saiu com o capitão agora a pouco para fazerem uma visita ao Nikolai.

— céus, muita informação em tão pouco tempo. - comentastes se ajeitando no banco enquanto olhava para a suas mãos. — quando será isso?

— daqui dois dias, Scar. - te encara severo.

— ele deixaram mesmo eu sair para ir com vocês? - digo referindo-me ao capítulo.

— sim, ele fez uma ligação para o coronel e eu estava na sala com o resto da equipe. Escutamos tudo. - falou calmo.

— entendido, acho que vou usar esses últimos minutos do meu horário de almoço para ir treinar mais cedo. - falou levantando-se do banco.

O homem tentou fazer o mesmo, mas você foi mais rápida. Agarrando suas coisas, saiu do refeitório às pressas, ignorando os olhares ao redor. No caminho, forçou-se a afogar cada pensamento que ameaçava invadir sua mente, concentrando-se apenas nos passos firmes que a levavam para longe dali. Assim que entrou no quarto, trocou de roupa e escovou os dentes rapidamente, pegou alguns itens e correu em direção à sala de treino, ansiando pela solidão que aquele lugar poderia oferecer.

O que perguntaria para Garza? Essa dúvida a perseguia como uma sombra incômoda. Ao ligar o celular, viu inúmeras chamadas perdidas e mensagens não vistas da mulher. O estômago deu um leve nó, uma mistura de surpresa e apreensão, mas decidiu esperar até chegar ao seu destino para abrir as mensagens e pensar em como responder. Simon ficou para trás, algo que você notou ao lançar um breve olhar sobre o ombro enquanto saía do refeitório. Chegando à sala de treino, entrou depressa, trancando o mundo lá fora. Largou a bolsa próxima à cabine onde se posicionaria para começar. Antes de tudo, começou a organizar as armas sobre a pequena mesa, retirando a munição com movimentos precisos, preparando-se para treinar sua agilidade. Precisava de foco; talvez, no ritmo do treino, encontrasse as respostas para as perguntas que a atormentavam.

Durante a prova de treinamento, uma sensação estranha começou a incomodá-la, como se estivesse faltando algo. Não era sua pulseira, a bandana que usava para cobrir a cicatriz no rosto, nem mesmo algum outro item pessoal. Então, veio o estalo: o caderno de desenhos. Onde ele estava? Droga! Provavelmente o havia deixado sobre a mesa quando você saiu correndo do refeitório. Um calafrio percorreu sua espinha ao imaginar a cena. Simon. Ele deve ter pegado o caderno com aquele sorriso satisfeito, como se fosse um tesouro. Agora, ele provavelmente estava folheando as páginas, examinando cada desenho, incluindo os que você havia feito dele. A ideia de Simon explorando suas criações privadas a fez estremecer de vergonha. Que carajo!

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⏰ Última atualização: Sep 17 ⏰

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Simon Ghost Riley [das cinzas ao sangue.]Onde histórias criam vida. Descubra agora