17 Hall of Fame - The Script

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O cheiro, seu cheiro misturado com... incenso.

Não pensei duas vezes antes de entrar na mata. Meu mundo estava ruindo, eu precisava encontrá-la, a angústia me inundava enquanto eu corria no meio das árvores, não sabia dizer se os meninos estavam atrás de mim, minha mente estava focada em uma coisa só.

Segui como um cão farejador de polícia atrás de drogas, desesperado, o lobo em mim me rasgava por dentro junto com a dor de perder o amor da minha vida, fui atrás das pegadas.

Tudo culpa minha. Eu não deveria ter cedido, não devia tê-la deixado se aproximar num momento tão delicado como esse.

Vi uma árvore arranhada como se ela tivesse tentado lutar para sobreviver, corria na maior velocidade que conseguia, mas para mim eu estava em câmera lenta, ouvi vozes nas minhas costas, mas não distinguia, meu corpo lupino dava tudo de si seguindo o caminho, meus ouvidos estavam tapados com o choque, como se uma bomba tivesse caído perto de mim. O que era verdade, mas não de forma literal.

A floresta nunca esteve tão escura e tão assustadora, o chão lamacento, eu sentia o medo correr por todo meu corpo como veneno, medo da morte, não da minha, eu estava com medo de perder Kana. De repente vejo uma chama entre os troncos, uma fogueira iluminava a clareira e a sombra de uma pessoa grande vestida com capa escura, que permanecia sobre um corpo caído no chão.

A lâmina da faca em suas mãos brilhou quando a luz do luar refletiu como um espelho. Pude ver e sentir o cheiro do sangue nela. Rosnei um urro do fundo da minha alma, ou talvez, ele fosse mais antigo que isso. Saltei em cima da figura e com um feitiço de luz negra, fui rebatido, batendo as costas em um tronco de árvore, voltando a minha forma normal.

A figura correu no meio da mata, a capa preta esvoaçava pelo ar, seus passos se arrastavam na grama alta. Quando fui avançar, Noah colocou a mão em meu peito, me impedindo de prosseguir.

– Eu vou! – Ele teve que me fazer olhar em seus olhos para não seguir a criatura. – Salve ela!

Ela...

Kana.

Olhei para o chão.

O mundo parecia ter parado, como se a rotação da terra tivesse cessado e eu ainda seguia em movimento, levando um choque por isso. Meus ouvidos paparam de uma hora para outra, faltava oxigênio em todo o meu sistema, a visão embaçou, senti o gosto de bile na boca, quase cai por falta de equilíbrio, o chão em meus pés havia sumido.

Tudo isso aconteceu por apenas 5 segundos.

Então olhei para o corpo deitado, podia escutar sua respiração precária, arfando, seu pescoço jorrava sangue, caí de joelhos rasgando um pedaço da minha camisa e colocando no corte em sua jugular para estancar o sangue. Seus olhos se abriram confusos, procurando por algo que não achou, ela não me viu, a peguei no colo, aninhando em meu peito quando vi Richard do meu lado.

O garoto não disse um "A".

Corri com ela nos braços, até a pista. Um carro passou e parou, uma mulher nos deu carona, sentei no banco de trás com Kana em meus braços, Richard foi na frente conversando com a motorista. Passei a mão em seu cabelo, rezando para que o sobrenatural a mantivesse viva.

O carro parou, estávamos no Dorchester Country Medic 3, abri a porta com força e a segurei nos braços correndo no estacionamento até a entrada, quase fui atropelado por carros que dirigiam lá dentro. Cheguei na construção de tijolos, parei na frente da porta branca, chutei e ela se abriu.

Todos no hospital me olharam, Rick gritou alguma coisa para os médicos que eu não consegui identificar. Tão desesperado e imerso naquele problema. Enfermeiras vestidas de azul trouxeram uma maca e a deitaram com cuidado. Eu tentei ir atrás, o segurança me barrou, as enfermeiras levaram Kana para a emergência. Minhas mãos tremiam, eu caí de joelhos chorando incontrolavelmente.

Senti um abraço quente e sabia que era minha Fênix me confortando.

– Ela entrará em cirurgia – escutei alguém dizer.

O segurança me deu uma garrafa de água, bebi e reparei nas minhas mãos cheias de sangue, me sentei em uma das cadeiras e fiquei imóvel, quase não piscando, não sei que horas eram quando a polícia chegou no local, a Xerife tentou me fazer umas perguntas e eu respondi, bom, acho que Juarez respondeu por mim, pois eu ainda estava avoado e não me lembrava das perguntas e nem das respostas.

Eu estava totalmente fora de mim. Miguel assumiu meu lugar.

O médico saiu da sala de emergência e veio até a recepção dizendo que a cirurgia havia acabado, que ela teve muita sorte de vir a tempo. Ele me parabenizou já que eu era um herói, se demorasse mais ela não resistiria, Kana estava estável.

Eu? Herói? Que engraçado, um herói tem que salvar o mundo, mas o meu mundo quase morreu, eu não era um a porra de um herói. Ou eu realmente fosse um herói, sacrificando tudo para salvar o meu mundo, por mais que isso se classificaria como vilão.

Não fazia a mínima ideia de quem eu era naquele momento.

Entrei no quarto, aparelhos ligados ao corpo pequeno de Kana, imóvel, com um curativo no pescoço, olheiras sob seus olhos, aquela não era minha Kana. Minha Kana era linda e saudável, aquela era a Kana que viu a morte de perto, uma Kana traumatizada.

Ela está viva.

Fui até minha Bailarina, afastei seus cabelos e beijei sua testa enquanto algumas lágrimas rolavam, alívio misturado com angústia se enrolavam em meu coração. Senti algo parecido como um soco no estômago, respirei fundo, puxando ar para meus pulmões, não deixei mais nenhuma lágrima sequer deixar meus olhos, arrumei minha postura.

– Xerife, mais dois corpos foram achados na rodovia – o rádio policial declarava.

Merda.

Fracassei novamente.

Abri a porta do quarto indoi para a recepção pisando duro, vi que Noah havia se juntado a Rick no banco de espera. A raiva me dominava, o estresse, a vingança... deixei aquele hospital o mais rápido possível, corri no meio da pista até chegar na floresta, ouvi passos atrás de mim, mas não me importei.

Eu teria que pegar aquele maldito assassino filho da puta esta noite, me transformei em lobo com pelagem negra, praticamente espumando pela boca e sumi na mata, minha visão se apurou, junto com meus ouvidos e narinas. Naquele momento eu era uma máquina de matar correndo à solta.

Um monstro raivoso pronto para matar, faminto por sangue de feiticeiro.

Escuto asas batendo atrás de mim, com uma iluminação no meu cangote, corria mais rápido despistando-as, mas então com barulhos de correntes, sinto uma coleira se enrolando em meu pescoço me segurando e quase me enforcando, me impedindo de prosseguir. Richard me puxava com toda a força que tinha.

– THOMAS, CHEGA! – berrou a Fênix totalmente transformada me puxando como se fosse um pitbull raivoso que tinha uma criancinha na mira. De certa forma eu era um cachorro raivoso, só não passava raiva, mas sim licantropia.

Quem recebesse uma mordida minha não morreria em uma semana.

Morria no processo.

Ou se transformaria em um monstro.

Bem mais fraco do que eu, óbvio.

O Lobo SangrentoOnde histórias criam vida. Descubra agora