Pov. Thomas.
Naveguei no Argo, enfrentei a hidra de lerna junto com Hércules. Vi de camarote Ícaro despencar pelo céu, assisti de longe Hera jogar Hefesto do Olimpo, Eros se apaixonar por Psiquê. Tudo isso apenas dentro da minha cabeça.
Passei o dia inteiro lendo um dos vários livros de Ezra, sentado no cantinho do beliche, mergulhado em páginas de mitologia, fugindo da miserável realidade a qual eu me encontrava. Folhas de papel com palavras escritas em tinta preta eram meu refúgio. Um lugar no qual eu poderia me afogar sem ressentimentos, eu me sentia em casa imerso na leitura, mas o meu lar estava muito longe daqui.
O que era lar exatamente se não somente uma construção velha manchada com o sangue da minha família?
Tristemente tive que fechar o livro, deixando a Grécia Antiga no passado, pois já era hora do almoço. Acompanhei Ezra novamente, como um cachorrinho perdido no parque. Peguei outra bandeja, que dessa vez tinha: leite, café, salada, uma xícara de frango ao molho com bolinhos de massa cozidos e damascos.
Eu odiava damascos.
Mas essa era minha única opção se não passar fome.
Onde foi que eu cheguei?
Comer coisas que desgostava apenas para não passar fome. Com uma dispensa abarrotada e uma cozinha cheia de utensílios que eu usaria para cozinhar o que eu estivesse com vontade, em casa.
Apenas em casa.
Eu não estava em casa.
Jayden, Asher e Waverly já estavam sentados à mesa do refeitório, jogando conversa fora. Me sentei ao lado de Ezra com cuidado para não deixar cair o pouco de comida que tinha na minha bandeja.
– Waverly? – chamo enquanto olho para o damasco que estava mais parecido com um pêssego em calda dos anos 20.
– Sim, querido? – ela me dava atenção.
Sorridente esperava a pergunta que iria soltar a ela.
– Por que raios você é a única mulher aqui?
Espero que não tenha soado como se fosse um insulto, não quero que ela me esfaqueie com a faca de plástico que segurava.
– Ah, querido, o xadrez de mulheres estava lotado quando fui presa e eu fiz uma coisa muito ruim, aí resolveram me colocar aqui, tenho uma cela e um chuveiro só para mim.
– Ah, compreensível.
Nada compreensível.
Permaneço em silêncio no restante do almoço, apenas observando o local. Notei um padrão, a gangue dos mafiosos sempre iam disfarçadamente de mesa em mesa contrabandeando drogas. Um dos caras sentou na mesa ao lado da mulher, ela apenas sorriu, trocou algumas palavras e ele saiu, mas eu sei que mais coisa aconteceu por baixo da mesa. Algo que os guardas e os outros presos não notaram. A forma enquanto ela mantinha uma conversa enquanto comia, soltando pequenos suspiros. O homem lhe deu um pacote de cocaína, colocando-o provavelmente na calcinha para não serem pegos. O cheiro era perceptível.
Odeio cheiro de droga.
Depois do almoço, voltei para minha cela. Novamente lá estava eu, com a cara no livro, vivendo histórias que não eram minhas, para conseguir fugir da triste e miserável realidade que estava vivendo. Vivia as vidas que não seriam possíveis de se viver dentro daquela prisão.
Fui um dos que bajulou Afrodite, estava no Cavalo de Tróia, avistei ao longe o Minotauro comer suas vítimas e ser derrotado por Perseu, presenciei o nascimento de Atena saindo da cabeça de Zeus de armadura e tudo e observei as caçadoras jurando lealdade eterna à Ártemis.
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O Lobo Sangrento
WerewolfPara todas obcecadas por um moreno sarcástico, este livro é um presente para vocês. Mas deixo um aviso: o charme que sabe roubar uma cena está no melhor amigo ruivo gostoso. Preparem-se para se apaixonar por mais um bad boy misterioso com um passado...