46 Alone - Heart

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Pov. Thomas.

Acordo, acho que dormi demais. Estou sozinho na cama, pisco várias vezes, o quarto está meio escuro, me levanto esticando minhas costas, saindo do edredom.

Meus pés tocam o piso gélido. Estava com aquela sensação de acordar arrebentado, como se uma manada de elefantes tivesse passado por cima de mim enquanto dormia. Vou até o banheiro lavar o rosto, tentando acordar de vez com a água gelada da torneira. Ao olhar no espelho, encarei meu reflexo. Meus olhos estavam vermelhos, era o efeito da Lua Cheia.

Volto ao quarto e troco de roupa, colocando a que eu havia separado: uma calça jeans preta, meus coturnos, uma camisa branca lisa, minha jaqueta de couro e luvas de briga sem dedos.

Saio do quarto, a porta bate atrás de mim por causa de uma lufada de ar. A casa está ensurdecedoramente silenciosa como um caixão.

Desço as escadas, segurando no corrimão empoeirado, meus passos ecoam pela mansão inteira. Aquilo estava estranho.

Escuto de repente, o som do pêndulo do relógio velho que jazia no sótão, tocando, mas as ondas sonoras não vinham de lá.

Que porra?

Vou atrás do som, andei pela casa inteira até encontrá-lo no antigo escritório.

A porta se encontrava aberta. Minha casa estava gelada como uma floresta boreal. Fazia muitos anos que eu não entrava no escritório. O relógio toca novamente e me aproximo. Havia algo de errado com ele, os números iam até o número treze. O ponteiro das horas estava parado no número extra, já os outros dois, dos segundos e minutos, giravam freneticamente.

Aquela era a Mansão Fenrir e, ao mesmo tempo, não era a minha casa. Uma melancólica melodia começa a ser tocada, as notas dançavam pelo ar. O instrumento, um piano.

Um arrepio cruzou meu corpo, sigo devagar até a sala, com passos lentos e calculados, minha respiração estava acelerada e meu coração como uma bateria furiosa. Ao adentrá-la travo. Fico totalmente sem reação, meus pés congelam no chão, meu corpo gelado. Imediatamente comecei a arfar e minha garganta se fechou.

No piano estava sentada uma garota, com um vestido branco longo e cabelos negros, seu cheiro invade meu nariz.

Dama da noite.

– Stella...

Ela para de tocar, se levanta e vira. Sua fisionomia...Ela era exatamente do jeito que eu me lembrava. A pele pálida, longas madeixas negras como um corvo, olhos tão azuis quanto os meus.

Stella Fenrir era minha versão feminina.

– Thomas...? – não a deixo terminar e a peguei nos braços, apertando forte. Depois de todos esses anos eu finalmente a sentia, ela não era só um espectro e um sopro de vida.

Stella era real.

Minha irmã é real.

– Senti tanta a sua falta.

Sua mão acaricia minha bochecha.

– Ah, Irmãozinho.

Encaro seus olhos, como um espelho.

– Como... como posso tocá-la... onde estou? – Pela primeira vez notei nossa diferença de altura. – Isso é um sonho?

Stella me solta, a ruga aparente em sua testa quer dizer preocupação. A garota encarou a porta da frente, escancarada. Ela procurava por algo.

– Não – responde minha irmã. – Aqui é o entre a vida e a morte, um limbo. Após anos cheguei à conclusão de que este lugar poderia ser o purgatório. Onde as almas mal resolvidas ficam. Onde os fantasmas habitam.

– O quê? – pergunto confuso.

– Você não deveria estar aqui!

Ela me puxa porta à fora, me levando até o meio da floresta, onde a terra estava remexida, como uma cova recém fechada.

– Você tem que acordar.

– Então isso é um sonho – concluo.

– Não, Thomas, você não pode me ver em sonhos, não tem o dom da necromancia, nem nada do tipo. – Stella segurou a gola da camisa de repente, me encarando triste, com a conclusão estampada em seu rosto. – Você está morto!

Seus olhos encontraram os meus.

– Não – declarou por fim. – Você está morrendo.

– O que... – engasgo, com um pouco de falta de ar.

– Por isso consegue me ver.

– Mas... – Não completei a frase. Recebi um tapa na cara. – Ei!

– Se você pelo menos me escutasse! – esbraveja como uma irmã mais velha. – Você está morrendo.

– E o que eu faço?

Ela segura meus ombros e olha no fundo dos meus olhos.

– ACORDE, THOMAS!

O Lobo SangrentoOnde histórias criam vida. Descubra agora