4 Back In Black - AC/DC

2 1 0
                                    


Chego em casa estressado, jogo minha mochila no corredor e subo correndo para o terceiro andar, empurro uma porta que não era aberta há anos, ao passar por ela dava para um cômodo iluminação fraca por conta da janela localizada no alto, o teto era triangular devido ao telhado. Da última vez que estive lá, meu pai ainda era vivo.

Fico na frente de um saco de pancadas vermelho e empoeirado. A raiva sobe à cabeça enraizando em meu peito como uma doença, começo o socar de qualquer jeito e com ódio, sentindo a dor se infiltrar em meu sistema nervoso. A cada soco, o baque surdo ecoava pelas paredes.

Estava com ódio de tudo, ódio de mim, ódio de me mostrar para Kana, ódio de Vinicius Jovi, e principalmente, ódio de Miguel Juarez.

– Por que de mim? – ouço a voz que me arrepiava.

Giro a cabeça, procurando pelo cômodo e meus olhos chegam em um espelho manchado de tão velho.

– Por que será, não é mesmo? – cuspo sarcasmo. – Cansei de ser seu fantoche!

Ele me encara com os olhos vermelhos.

– E eu cansei de você viver como uma presa! – dizia rispidamente. Ele andou aprendendo inglês com a minha convivência. – O que fez hoje foi libertador, mostrou sua verdadeira face, eu sei que você se sentiu bem mostrando quem era o Alpha.

De fato, quando eu levantei Jovi pela camisa, ameaçando-o, foi um sentimento quase arrebatador, como se o peso sobre meus ombros estivesse exaurido por um breve momento.

– É, mas olha no que deu! Kana me acha um monstro!

Ouço uma risada cínica.

– Acidentes acontecem.

Revirei os olhos debochando.

– Você nasceu para ser Alpha, não eu.

– Tomás, comece agir como foi destinado!

– Ah, é?

– Será respeitado se mostrar porte, se não será tratado como um lixo... e sabe muito bem como é isso.

Miguel havia pego na ferida. Afundando uma faca banhada à prata.

– E o que tenho que fazer? – pergunto cansado.

– Libertar seu verdadeiro eu, não a mim, e sim você – dizia Juarez. – Libertar o verdadeiro Tomás, aqueles que só os mais próximos conhecem. Na escola, você foi brilhante.

Suspiro.

– Eu me senti bem.

– Eu sei! Seja quem sempre foi destinado para ser...

Miguel some do espelho e só vejo meu reflexo. Um Thomas cansado do mundo do jeito que estava.

– Ser o Alpha... – Suspiro reorganizando os pensamentos. – Como vou me aceitar se eu nem sei as minhas origens! E por que diabos se chamou de rei?

– Soy un rey. Era, no caso.

Surpreendo-me com essa afirmação, a curiosidade bateu à porta, mas não perguntaria, meu orgulho não fez questão de abrir a porta, pois ainda sentia ódio dele. Volto a socar o saco, mas não como antes, com ódio, mas sim com liberdade, tentando deixar o meu eu ser livre e ser, simplesmente, eu. Mais uma vez os ecos soavam e eu me empolgava dando mais e mais socos, a adrenalina corria pelas minhas veias misturando-se com a dor.

Naquele momento eu me senti mais eu do que havia me sentido a vida inteira, era satisfatório.

Assusto com um barulho repentino, chuto o saco que saí do gancho e acaba se chocando contra a parede de madeira escura.

O Lobo SangrentoOnde histórias criam vida. Descubra agora