22 Monster - Imagine Dragons

2 1 0
                                    


Havia mais uma pessoa na viatura, um policial. A Xerife saiu do carro com o revólver em mãos apontando para mim.

– Saia de cima dele com as mãos onde eu possa ver – esbraveja Juddy – ajoelhe.

Fiz o que ela pediu, tirei o joelho de cima do peito de Vinícius, coloquei as mãos na cabeça e me ajoelhei no chão. Logo percebi que o policial que estava com ela era o mesmo daquela fatídica noite na delegacia. Ele puxa minhas mãos nas costas e as algema.

Juddy verificou se estava tudo bem com os dois garotos, mas ainda com a arma apontada para minha cabeça, seu olhar era indecifrável. Ela cheirava a medo e determinação.

Fui trancado novamente em uma viatura, me levaram para a delegacia do Condado, outra vez.

Graças a Deus minha mãe estava morta e não poderia ver seu filho, pela segunda vez em menos de um ano, em uma viatura de polícia, sendo acusado de assassinato. Se eles estivessem vivos, veriam a vergonha que se tornou o nome Thomas Fenrir.

Eu quase conhecia aquela delegacia como a palma da minha mão, me fizeram tirar fotos ridículas de cadeia segurando aquela maldita placa informando meu nome, olhando para a parede atrás de mim, notei que cresci alguns centímetros desde que medi pela última vez.

Tentei implorar, mas a Xerife parecia que nem escutava.

Claro, eu não era humano o suficiente para ela me dar ouvidos.

– Um dia – disse a mim mesmo. – Terei essa cidade na palma da minha mão.

Deixaram-me na cela enquanto pegavam o depoimento dos outros dois, Anthony foi muito esperto nessa jogada.

Inferno, devia ter percebido.

Após minutos olhando para o teto, vieram na cela me buscar e me colocaram na sala da porta de ferro novamente, mas desta vez o policial ficou junto e com um fuzil na mão caso eu tentasse avançar na Xerife.

– Não acredito que conseguiu fazer isso, garoto – dizia com desgosto e frustração. – O que você é?

Não um "quem você é?" Ela sabia quem eu era, mas não o que eu era.

– Por favor, eu não fiz nada – imploro por misericórdia.

Inútil.

Um nó se formou na minha garganta, eu não conseguiria me safar.

– Mostre o que você é – mandava o policial.

Abaixei a cabeça e fiquei observando minhas mãos algemadas naquele momento, tive um deja vú. Me concentro chamando Juarez, sinto que meus caninos já tinham mudado e sei que meus olhos já estavam brilhando.

Levanto o queixo olhando para eles, o coração do policial falha. A Xerife estala os olhos de medo, medo...sentia o cheiro do medo deles. Esse cheiro sempre teve uma ligação direta em meu psicológico, isso era como droga e eu o cão farejador.

– Um lobisomem...

– Todas as histórias têm um fundo de verdade. Mas não fui eu, Xerife.

Ela encara meus olhos vermelhos.

– Como não? Aqueles assassinatos são claramente sobrenaturais, nunca vi nada daquilo antes, parecia magia negra.

– E é, mas não sou um feiticeiro!

– Como posso saber que não foi você? – debocha de leve. – Aconteceu em Lua Cheia, todas as vezes! Você foi encontrado na cena do crime DUAS VEZES – começou a esbravejar – só a SUA namorada sobreviveu e quem a "salvou" ?– fez aspas com as mãos. – Você.

– Coincidência, lugar errado na hora errada. Pessoa errada.

– E sabe mais uma coisa? Somente você, aquele ruivo e o filho da prefeita descreveram o assassino como um negro alto, mas Kana só disse ter visto uma silhueta masculina e alta, usando uma capa cobrindo seu corpo.

Realmente, todas as evidências faziam parecer que eu era o assassino. E depois dela ter visto aquilo, infelizmente não tinha mais jeito.

Ela nem sabe o que fizemos de verdade – Miguel tem a audácia de falar na minha mente.

Ela me colocaria na cadeia a qualquer custo e não teria dinheiro que a subornasse. Estava determinada a me dar um fim, Juddy tinha seus contatos, ela poderia facilmente me colocar atrás das grades sem uma ação judicial.

– Estou decepcionada.

– Xerife, por favor...

– Achei que o menino que eu tinha socorrido naquela noite se tornaria um bom homem – sua voz estava embargada.

Era meu fim.

– Juddy – chamou o policial, provavelmente dizendo que ela teria que ser imparcial.

– Mas agora sei, o que sei, me questiono se naquela noite eu não salvei um monstro. Se naquela noite o garotinho a quem dei apoio, não foi o culpado pelo massacre daquela família. Você me dá nojo, Thomas Fenrir.

Meu coração errou uma batida naquele momento, um soco no estômago, um nó na garganta, uma facada no peito, dois olhos cheios de lágrimas, um berro querendo sair da minha boca, mas me mantive intacto por fora, uma destruição por dentro, a coisa que entregava meus sentimentos eram meus olhos marejados.

Aquilo doía demais, eu me martirizava várias vezes por ser culpado daquilo, mas ninguém em 17 anos jogou na minha cara.

Foi nesse momento que eu mesmo desejei o meu fim.

Juddy se levanta da cadeira indo até a porta.

– Emma Russell está lá fora, ela quer falar com você.

O Lobo SangrentoOnde histórias criam vida. Descubra agora