Pov. Thomas.
Feliz ano novo a todos que não enterraram um ente querido!
O ano começou com o enterro de Narbeus. Poucas pessoas compareceram, o avô de Noah não tinha mais amigos vivos, então só restou a família.
Ellen chegou a tempo e não saiu um minuto sequer do lado de Richard.
Eu sabia muito bem que ela, ou a mãe de Noah não haviam feito nada para mim, mas o meu instinto ao sentir o cheiro das duas era fugir e me esconder, por isso me distanciei deles.
Encarei a paisagem do Bonnerest Garden of the Resurrection Cemetery de longe. O caixão branco foi colocado a sete palmos do chão e depois tapado com terra. Restando apenas uma lápide que, no fim, seria apenas mais uma pedra esquecida e invadida por musgos.
Não suportei ficar ali por muito tempo.
Dirigi até o Ridgeville Playground and Tennis Courts, tentando distrair a cabeça de alguma forma.
A neve cobria o chão como o véu de uma noiva. Eu permanecia sentado em um banco no parque observando algumas crianças brincarem.
Pais e mães estavam ali.
Limpo uma lágrima que escapou com as costas da mão.
Uma menina que parecia ter onze anos, montava um boneco de neve sozinha. Seus cabelos eram castanhos meio ondulados, a pele era morena clara que realçava seus olhos verdes-floresta.
Olhei em volta, não tinha ninguém a olhando.
Nem pai.
Nem mãe.
Solidão.
Meu coração se aperta. Sempre odiei ver uma criança brincando sozinha, porque isso me dá gatilhos.
Tive que levantar.
Pego duas pedras no chão enquanto me aproximava da garotinha, oferecendo para ela.
Seu cheiro era de leite. Ela não me faria mal. Não era uma mulher. Era apenas uma criança.
No primeiro momento ela fica com medo. Os olhos verdes arregalados.
Claro, eu não tinha medo dela, mas ela poderia ter medo de mim.
Porra, é óbvio que teria.
Quando estou prestes a virar e ir embora a garota aceita e pega as pedras da palma da minha mão direita.
Fico triste em perceber a ingenuidade dela, principalmente quando sei que não tem ninguém aqui olhando por ela.
Ela encaixa as pedras, fazendo-as de olhos.
Ela sorri.
O galho que representava o nariz estava torto, então estiquei a mão arrumando-o e sou surpreendido por uma bola de neve me atingindo.
Giro a cabeça, fitando-a, suas bochechas já estão vermelhas de frio. Ela gargalha alegremente.
Minha criança interior quer sair para brincar.
Pego um amontoado de neve no chão, fazendo uma esfera de gelo e atiro contra a menina.
É assim que iniciamos uma guerra de bolas de neve.
Todas as vezes jogo manuseando minha força.
Ela se cansa rápido e se senta em um dos bancos, tirando as luvas e revelando o pequeno par de mãos.
Devagar chego perto dela e me sento ao seu lado no banco.
– Sargento – finjo que tenho um walkie-talkie em minha mão – perdemos um soldado.
Ela sorri.
– Qual seu nome?
– Thommy – minha voz acaba saindo um pouco abafada, como um sotaque, mudando o som original, que deveria ser Tommy como Rick e Noah me chamam. Nunca a vi na cidade, provavelmente estava passando as férias na casa de parentes.
– Thommy – ela repete o meu nome com sotaque estranho.
– Agora que já sabe o meu nome qual o seu?
– Mik!
– Muito prazer, Mik. – Ofereço a mão, cumprimentando formalmente e ela retribui. Você está sozinha?
Ela hesita, provavelmente seus pais a ensinaram a não conversar com estranhos.
Mas são pais de merda que não acompanham a filha pequena que poderia ser facilmente...
– Mikaela! – uma mulher esbravejou e eu já estremeço por completo sentindo o cheiro adocicado, lembrando o estrago que Kana fez em mim. – O que eu disse sobre conversar com estranhos!
Virei o rosto, meu coração bombeando adrenalina por todo o meu sistema, gritando para eu fugir dali o mais rápido possível.
Ah.
Merda.
Reconheci a mulher e juntando as peças descobri quem era Mikaela.
A mulher é Adelle Jones, filha da Amélia e aquela menina era a criança que eu havia deixado órfã.
Mikaela Black Jones Chasseur.
Senti como se fosse um soco no estômago, uma angústia em meu peito.
– Eu não faria mal a ela, Adelle.
A mulher para e me encara, seus olhos castanhos escureceram e as rugas em sua testa denunciam que ela me reconheceu.
– Vai com a sua avó.
– Mas...
– Não estou pedindo, Cher. – Mikaela obedeceu. – Fique longe dela, Lobo.
Ui, uma ameaça.
– Acho que você precisa dar mais atenção a ela. Mik é só uma criança, ela tem que brincar!
– Crio Mikaela como bem entendo – debocha a mulher. – Não preciso do conselho de ninguém, muito menos do assassino dos pais dela.
– É só um conselho – me levanto com classe arrumando a jaqueta. – Diga para sua mãe que mandei um de nada. Feliz ano novo, Adelle.
Volto para minha propriedade quando o crepúsculo começa a pintar o céu através dos pinheiros.
Dentro desses muros está escrita toda a história da Família Fenrir e aqui estou eu, no meu lugar, em casa.
O mausoléu tão quieto quanto um túmulo e as madeiras com cracas fossilizadas estalam da grande embarcação que repousa há duzentos anos no velho carvalho.
As luzes amarelas da Mansão Fenrir estão acesas como um candelabro de velas. A porta da frente se abre ao meu toque. O piano toca em uma melodia triste e o corredor frio faz meus ossos gelarem.
Os quadros dessa casa me observam como testemunhas silenciosas, lembrando-me que cada passo que dou, um rastro de pegadas de sangue me acompanharão, pois eu sou um Fenrir.
O luxo e o prestígio escondem cicatrizes que poucos enxergam, já que estão cegos pela inveja e desejo.
Meu avô costumava dizer que ser um Alpha é se afogar no mar revolto e aprender a nadar no caos.
Esse é o legado que herdei, o dom que recebi de nascença, e também é esse o fardo que carregarei comigo até a minha morte.
A vida é cruel e com poder, o sangue nas mãos é inevitável.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Lobo Sangrento
WerewolfPara todas obcecadas por um moreno sarcástico, este livro é um presente para vocês. Mas deixo um aviso: o charme que sabe roubar uma cena está no melhor amigo ruivo gostoso. Preparem-se para se apaixonar por mais um bad boy misterioso com um passado...