35 Hey Brother - Avicii

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Pov. Thomas.

Nove horas nos recolhemos para dormir, a maioria das luzes estavam apagadas, deito-me no meu beliche esperando um sinal.

Eu iria para casa ainda hoje. Me libertaria dessas grades o quanto antes. Nunca desejei tanto na minha vida poder olhar o céu estrelado outra vez. Era como se eu não lembrasse mais do timbre exato da voz de Richard ou o cheiro característico do perfume forte de Noah.

Eu só precisava ir para casa.

Escuto algo na tubulação, olho para cima, no escuro. Minha visão noturna é algo que eu nunca poderia reclamar. Vejo na grade da tubulação de vento dois olhos grandes, Waverly me encarava.

Tira uma chave de fenda do bolso e começa desparafusar a grade, ela abre fazendo um rangido metálico, que graças a Deus foi baixo.

Me inclino com cuidado subindo na tubulação, lá em cima era meio apertado, claustrofóbico. Waverly me dá um molho de chaves e então desce até o beliche, com outro molho de chaves em mãos.

Parafuso novamente a grade.

– Boa sorte, Garoto – sussurra.

A mulher piscou para mim.

Engatinho na tubulação com cuidado para não fazer barulho, lembro-me da voz de Asher na minha cabeça "Reto, direita, reto, direita, direita, esquerda".

Faço o caminho todo com muita cautela, devagar, com calma, sem pressa. Depois da esquerda, engatinho um pouco mais e chego em outra grade, a sala não estava totalmente escura, estava mais para uma penumbra.

Era um armário de limpeza.

Com cuidado desparafuso a grade, o último parafuso despenca.

Eu não consegui pegá-lo.

Merda.

Fechei os olhos esperando ansiosamente o barulho, mas só sou recebido com um silêncio agonizante. Abro os olhos, encarando o espaço embaixo de mim. O parafuso caiu em um monte de panos.

Pela Santa Lua Cheia quase enfartei aqui mesmo.

Suspiro.

Ajeito-me segurando na grade, com um impulso dou um pulo, caindo de pé.

– Merda – sussurro frustrado.

Fiz um som alto, mas que não ecoou. De pé tiro minha roupa laranja jogando no cesto de roupa suja que havia ali e pego um dos uniformes dos trabalhadores da limpeza que deixaram na estante ao lado das vassouras e esfregões.

Não encarei por muito tempo, mas eu sabia que meu corpo tinha mudado muito, me visto e lambo as mãos, passando em meus cabelos, deixando-os como se tivesse passado gel.

Giro o molho de chave na minha mão direita, ansioso destranco a porta, pego uma vassoura. Conforme ando também vou varrendo o chão como quem não quer nada. Ali eu não era Thomas Fenrir. Ali eu era apenas um trabalhador da limpeza.

Ah sim, meu nome é Arthur Diaz, tenho quatro filhos para cuidar em casa e eu sou o encarregado por desentupir os ralos da prisão.

Passei na frente da minha cela e pisquei para o velho.

Ouço-o bater na parede.

Waverly desce do beliche e destranca a porta sendo seguida por Ezra, eu vou à frente, para ter certeza de que eles não serão pegos.

Vejo um policial passando, faço sinal assobiando uma melodia e eles mudam de corredor.

– Ah, moço da limpeza – o policial me chama.

Eu paro imediatamente, apoiando na vassoura.

– Sim? – sinto meu coração bater na minha cabeça.

Se controle, Tomás.

Estou tentando.

Ele chega mais perto de mim.

– Onde fica o refeitório? – questiona. Ele parecia novo, provavelmente um dos transferidos.

Aponto para o corredor.

– Segue por aqui, vira para a esquerda, vai ter uma porta aberta no meio do outro corredor, é lá onde fica o refeitório.

– Obrigado – diz o policial, seguindo o que falei – bom trabalho!

– Igualmente.

Encaro as costas do policial até ela desaparecer na virada do corredor.

Eles esperam dois minutos e depois aparecem novamente, seguimos o mesmo caminho do policial. Na frente da porta eu teria que fazer uma distração. Na minha cabeça eu fecharia a porta e começaria a limpar o vidro, esse era o plano que a gente combinou, enquanto eles passariam atrás de mim sem serem vistos.

Continuo andando e varrendo, fico impressionado o quanto de sujeira pode se acumular somente dando umas passadas com as cerdas da vassoura no chão. Quando me aproximo da porta aberta, pego o pano em meu ombro, pronto para executar a outra parte do plano.

Estava tudo perfeito, era só eu não deixar o medo me vencer, mas algo fez a minha espinha congelar e meu corpo fixar no chão.

– Thomas...

Uma lembrança do passado me atinge como uma bala de prata, era uma lembrança de Miguel. No meio de uma guerra, no campo de batalha ouço meu general gritar meu nome, mas por sede de sangue terminei de matar meu oponente e mais outros antes de ir atrás dele. Quando cheguei para prestar socorro, minha Fênix já estava morta no chão, ensanguentada, suas últimas palavras foram um pedido de socorro não correspondido por mim. Agora ele estava ali, morto, por minha causa, porque eu não corri até ele quando me chamou.

Hakon estava morto porque meu ego me cegou de fúria, meu melhor amigo me chamou e eu ignorei sua voz implorando por mim. Meu General, Hakon Mordred morreu no campo de batalha a poucos metros de mim por minha causa.

– Thomas...

Aquela voz...

Aquela voz que eu reconheceria em qualquer lugar.

A voz que eu distinguia em longas distâncias.

A voz que me faria matar qualquer um.

A voz que me faria trair qualquer um, independente de quem fosse.

Olho para meus amigos de laranja me esperando para fazer a distração, hesito.

– Thomas...cadê você? – Richard me chamou, perdido em algum lugar naqueles corredores, implorando para me ter de volta. O timbre da sua voz ecoou na minha cabeça.

A voz que me faria trair qualquer um...

Eu daria tudo para ter o que era meu de volta.

Daria tudo para voltar para casa.

O velho me encara, sua expressão era indecifrável, mas a ruga em sua testa mostrava que ele sabia que tinha algo de errado.

Confiaram na pessoa errada.

Ezra, Waverly, Asher e Jayden não eram meus amigos, eles eram meus colegas de prisão, só isso. Me juntei a eles na necessidade, mas eu sabia muito bem que ninguém ali era confiável.

Eles estavam presos por um motivo.

Criminosos.

Assassinos.

Eles mataram gente inocente.

Não muito diferentes de mim, mas essa era a minha vez de protagonizar algo.

Eu lhes daria uma distração.

– Guardas! – Exclamo. – Guardas, os prisioneiros estão soltos, os prisioneiros estão fugindo!

Vi o espanto estampado no rosto de cada um, como se tivessem pegado suas mulheres na cama com outro. A feição no rosto de quem foi traído. Eles não teriam um par de chifres na cabeça, mas sim um conjunto de algemas nos pulsos. O amargo arrependimento de ter confiado.

Os policiais imediatamente deixaram seu jantar de lado indo cuidar dos criminosos que se soltaram das celas. Os ecos dos meus passos ecoavam pelos corredores conforme eu corria atento esperando ouvir outra vez, tentando a todo custo encontrar o dono daquela voz.

O Lobo SangrentoOnde histórias criam vida. Descubra agora