A imagem perturbadora ainda não foi digerida.
Minha mãe estava jogada no quintal da nossa casa com sangue escorrendo do local onde levou as facadas, três facadas na costa, fatais. Segurei-me para não gritar enquanto o horror de vê-la ainda me perturbava. Quatros homens apareceram, todos vestidos de preto e encapuzados com uma manta vermelha. A manta do Palácio!
Porque os homens do palácio queriam matar a minha mãe?
O pânico me dominou e eu não sabia mais o que fazer, agachei-me no assoalho de madeira e tentei recuperar o folego.
Minha mãe está morta!
Minha mãe está morta!
Minha mãe está morta!
- Você é louco? Porque a matou? – Disse um dos homens.
Sua voz era rouca e grossa. O medo e o pânico me dominaram novamente.
- Ela ia gritar, queria que ela fizesse um escândalo?
Outro homem com uma voz extremamente rouca.
Vão embora, por favor!
Vão embora, por favor!
Vão embora, por favor!
- Imbecil! – rugiu um dos homens. – Onde está a bastarda?!
- Acredito que esteja dentro da casa, senhor.
Oh, meus Deuses!
Levantei-me sem fazer qualquer barulho e procurei uma faca na cozinha, peguei a maior que encontrei. O Facão usado para matar galinhas. Sabia que não iria adiantar para muita coisa, eu não teria coragem nem força para matar aqueles homens.
- Entre na casa!
Não havia outra saída a não ser pela porta da frente, cuja estava bloqueada, eu estava presa. Escondi-me atrás de alguns armários o mais rápido que pude e imediatamente ouvi o barulho da porta sendo aberta e passos por toda a casa. Todos haviam entrado.
- Com toda licença, alteza. – Disse um homem e todos os outros riram.
Preciso sair daqui, eles vão me matar! Sentia o suor pingando em meu ombro, o calor esquentando-me por debaixo das longas saias e um tremor por todo o meu corpo. O que fizemos de tão grave?
Conseguia escutar minha própria respiração e se eu escutava, eles também podiam ouvir, tentei me acalmar, em vão. O armário a minha frente foi derrubado, revelando homens altos e fortes á minha frente, imediatamente levantei o facão para me defender.
- Vão embora, deixem-me em paz! – Gaguejo um pouco enquanto falo, pois minha respiração está desregulada.
Os homens riem.
- Ora, ora, minha cara. Isso é jeito de tratar as visitas? – Disse um homem alto e com os olhos castanhos.
Ele se sentou no banco da mesa e beliscou um pouco do bolo de minha mãe. Pensei em fugir, mas ainda havia os outros três me olhando.
- Você matou minha mãe! – acusei.
- Eu?- Disse o homem, ofendido e levando as mãos ao peito. – Foi este idiota que a matou.
Ele apontou para um homem do olho claro que me observa como se eu fosse uma presa encurralada e era exatamente o que eu era.
- O que vocês querem?
O pânico me dominou e eu estava praticamente arfando a procura de ar e sentia a cor do meu rosto drenar como se não houvesse nenhuma gota de sangue.
- Está assustando a moça. – Disse o homem mais alto. – Pegue logo ela Malton.
Malton. Pelo menos se eu sobreviver já sei o nome de um dos assassinos de minha mãe.
Malton veio pra cima de mim como um monstro, me atacando com sua faca enquanto eu empunhava a minha, tentando feri-lo, mas não sabia como. Por fim, sua faca enrolou na minha fazendo-a cair sobre o assoalho de madeira. Suas mãos fortes apertaram meu braço e a única coisa em que pensei em fazer era gritar por socorro.
- SOCO... !! – Tentei.
Sua outra mão envolveu a minha boca e eu estava encurralada novamente nós braços daquele estranho, meu peito subia e descia com rapidez e parecia que o ar me faltava, lagrimas quentes escorriam por todo o meu rosto e eu só pedia a Deus para me ajudar.
- Amarrem-na. – Disse o homem que estava a um minuto atrás comendo o bolo da minha mãe.
Malton e os outros me sentaram em uma cadeira que estava perto da janela e me amarraram com uma corda enquanto o outro homem que estava sentado na mesa amarrava minha boca com um lenço.
- Está limpo o pano, não se preocupe. – Ele ri e volta a sentar-se à mesa.
Os outros se sentam do lado dele e eu tento me soltar, mas a corda está bem apertada, lagrimas e mais lagrimas escorrem pelo meu rosto e eu imploro com os olhos para me soltarem, mas nenhum se importa.
- Até que ela é bem bonita. – Diz Malton.
- Já era de imaginar, sendo filha de quem é. – Disse o homem de olhos claros.
- Vamos ao trabalho. – Disse o homem que me amarrou ao lenço.
Meu peito subia e descia cada vez mais e o pânico me dominava, eu não estava mais com medo, eu estava apavorada e naquele momento eu soube que ia ter o mesmo destino que a minha mãe. O homem se juntou a mim e me olhou nos olhos, minha visão está embaçada e eu não consigo decifrar a cor de seus olhos, consigo ouvir o barulho da minha respiração ofegante. Foi como um turbilhão de emoções, sem visão, sem ouvir barulho algum, sem respirar, sem ofegar e muita dor, após o tapa eu ainda sentia formigar aonde sua mão havia me tocado.
Outro tapa e um soco no meu olho, eu gemia de dor e só conseguia enxergar com um olho, berrava como uma criança querendo amparo e eu só queria morrer de uma forma mais rápida.
Quando o homem ia me bater de novo algo o impediu.
- Senhor. – Disse Malton. – Não acho que devemos mata-la.
- Como disse?! Você sabe muito bem as ordens que temos de cumprir.
- Olhe para ela! Uma jovem como todas as outras, iguais as que dormem em sua cama!
Só percebi o soco depois de tê-lo ouvido, Malton segurou o rosto com uma das mãos e com a outra pediu para parar.
- Não podemos mata-la.
- Cale essa boca seu cretino.
Logo os dois começaram a brigar e todos os outros começaram a querer apartar a briga, aproveitei a distração e tentei me soltar, mas a corda estava muito bem amarrada e eu não conseguia enxergar, me remexi sem parar na cadeira e tombei com o corpo para a frente, caindo no assoalho. Um barulho de tiro e dois corpos caindo, sangue respingou no meu rosto e fiquei ali, mortificada, com a respiração ofegante e apavorada. Senti minhas mãos se soltarem das cordas e logo minha boca sendo solta. Malton me soltou e seu outro amigo o ajudou.
- Obrigada. – Susurrei.
Foi tão forte que eu apaguei na mesma hora. Malton me deu um pisão que com o impacto eu desmaiei, a dor era excruciante e naquela hora eu não sabia mais o que fazer, apenas tombei para o lado como um corpo morto caindo no chão. Pensei que ele fosse me salvar, mas estava enganada.

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A Herdeira Perdida
RomanceA vida de Catherine Alonzo muda no dia em que matam sua mãe e fica entre a vida e a morte. Jogada no deserto sem ajuda alguma ela tenta sobreviver e com a ajuda de um homem ela consegue chegar a cidade e percebe que é a herdeira de uma fortuna que...