Capitulo 2

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A imagem perturbadora ainda não foi digerida.

Minha mãe estava jogada no quintal da nossa casa com sangue escorrendo do local onde levou as facadas, três facadas na costa, fatais. Segurei-me para não gritar enquanto o horror de vê-la ainda me perturbava. Quatros homens apareceram, todos vestidos de preto e encapuzados com uma manta vermelha. A manta do Palácio!

Porque os homens do palácio queriam matar a minha mãe?

O pânico me dominou e eu não sabia mais o que fazer, agachei-me no assoalho de madeira e tentei recuperar o folego.

Minha mãe está morta!

Minha mãe está morta!

Minha mãe está morta!

- Você é louco? Porque a matou? – Disse um dos homens.

Sua voz era rouca e grossa. O medo e o pânico me dominaram novamente.

- Ela ia gritar, queria que ela fizesse um escândalo?

Outro homem com uma voz extremamente rouca.

Vão embora, por favor!

Vão embora, por favor!

Vão embora, por favor!

- Imbecil! – rugiu um dos homens. – Onde está a bastarda?!

- Acredito que esteja dentro da casa, senhor.

Oh, meus Deuses!

Levantei-me sem fazer qualquer barulho e procurei uma faca na cozinha, peguei a maior que encontrei. O Facão usado para matar galinhas. Sabia que não iria adiantar para muita coisa, eu não teria coragem nem força para matar aqueles homens.

- Entre na casa!

Não havia outra saída a não ser pela porta da frente, cuja estava bloqueada, eu estava presa. Escondi-me atrás de alguns armários o mais rápido que pude e imediatamente ouvi o barulho da porta sendo aberta e passos por toda a casa. Todos haviam entrado.

- Com toda licença, alteza. – Disse um homem e todos os outros riram.

Preciso sair daqui, eles vão me matar! Sentia o suor pingando em meu ombro, o calor esquentando-me por debaixo das longas saias e um tremor por todo o meu corpo. O que fizemos de tão grave?

Conseguia escutar minha própria respiração e se eu escutava, eles também podiam ouvir, tentei me acalmar, em vão. O armário a minha frente foi derrubado, revelando homens altos e fortes á minha frente, imediatamente levantei o facão para me defender.

- Vão embora, deixem-me em paz! – Gaguejo um pouco enquanto falo, pois minha respiração está desregulada.

Os homens riem.

- Ora, ora, minha cara. Isso é jeito de tratar as visitas? – Disse um homem alto e com os olhos castanhos.

Ele se sentou no banco da mesa e beliscou um pouco do bolo de minha mãe. Pensei em fugir, mas ainda havia os outros três me olhando.

- Você matou minha mãe! – acusei.

- Eu?- Disse o homem, ofendido e levando as mãos ao peito. – Foi este idiota que a matou.

Ele apontou para um homem do olho claro que me observa como se eu fosse uma presa encurralada e era exatamente o que eu era.

- O que vocês querem?

O pânico me dominou e eu estava praticamente arfando a procura de ar e sentia a cor do meu rosto drenar como se não houvesse nenhuma gota de sangue.

- Está assustando a moça. – Disse o homem mais alto. – Pegue logo ela Malton.

Malton. Pelo menos se eu sobreviver já sei o nome de um dos assassinos de minha mãe.

Malton veio pra cima de mim como um monstro, me atacando com sua faca enquanto eu empunhava a minha, tentando feri-lo, mas não sabia como. Por fim, sua faca enrolou na minha fazendo-a cair sobre o assoalho de madeira. Suas mãos fortes apertaram meu braço e a única coisa em que pensei em fazer era gritar por socorro.

- SOCO... !! – Tentei.

Sua outra mão envolveu a minha boca e eu estava encurralada novamente nós braços daquele estranho, meu peito subia e descia com rapidez e parecia que o ar me faltava, lagrimas quentes escorriam por todo o meu rosto e eu só pedia a Deus para me ajudar.

- Amarrem-na. – Disse o homem que estava a um minuto atrás comendo o bolo da minha mãe.

Malton e os outros me sentaram em uma cadeira que estava perto da janela e me amarraram com uma corda enquanto o outro homem que estava sentado na mesa amarrava minha boca com um lenço.

- Está limpo o pano, não se preocupe. – Ele ri e volta a sentar-se à mesa.

Os outros se sentam do lado dele e eu tento me soltar, mas a corda está bem apertada, lagrimas e mais lagrimas escorrem pelo meu rosto e eu imploro com os olhos para me soltarem, mas nenhum se importa.

- Até que ela é bem bonita. – Diz Malton.

- Já era de imaginar, sendo filha de quem é. – Disse o homem de olhos claros.

- Vamos ao trabalho. – Disse o homem que me amarrou ao lenço.

Meu peito subia e descia cada vez mais e o pânico me dominava, eu não estava mais com medo, eu estava apavorada e naquele momento eu soube que ia ter o mesmo destino que a minha mãe. O homem se juntou a mim e me olhou nos olhos, minha visão está embaçada e eu não consigo decifrar a cor de seus olhos, consigo ouvir o barulho da minha respiração ofegante. Foi como um turbilhão de emoções, sem visão, sem ouvir barulho algum, sem respirar, sem ofegar e muita dor, após o tapa eu ainda sentia formigar aonde sua mão havia me tocado.

Outro tapa e um soco no meu olho, eu gemia de dor e só conseguia enxergar com um olho, berrava como uma criança querendo amparo e eu só queria morrer de uma forma mais rápida.

Quando o homem ia me bater de novo algo o impediu.

- Senhor. – Disse Malton. – Não acho que devemos mata-la.

- Como disse?! Você sabe muito bem as ordens que temos de cumprir.

- Olhe para ela! Uma jovem como todas as outras, iguais as que dormem em sua cama!

Só percebi o soco depois de tê-lo ouvido, Malton segurou o rosto com uma das mãos e com a outra pediu para parar.

- Não podemos mata-la.

- Cale essa boca seu cretino.

Logo os dois começaram a brigar e todos os outros começaram a querer apartar a briga, aproveitei a distração e tentei me soltar, mas a corda estava muito bem amarrada e eu não conseguia enxergar, me remexi sem parar na cadeira e tombei com o corpo para a frente, caindo no assoalho. Um barulho de tiro e dois corpos caindo, sangue respingou no meu rosto e fiquei ali, mortificada, com a respiração ofegante e apavorada. Senti minhas mãos se soltarem das cordas e logo minha boca sendo solta. Malton me soltou e seu outro amigo o ajudou.

- Obrigada. – Susurrei.

Foi tão forte que eu apaguei na mesma hora. Malton me deu um pisão que com o impacto eu desmaiei, a dor era excruciante e naquela hora eu não sabia mais o que fazer, apenas tombei para o lado como um corpo morto caindo no chão. Pensei que ele fosse me salvar, mas estava enganada.

A Herdeira PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora