RAUL
Os dias que se seguiram foram uma tortura. Angelina e eu estávamos brigados, cada um dormindo em um quarto. A casa parecia maior e mais vazia do que nunca, apesar de estarmos sob o mesmo teto, a distância entre nós me consumia, cada minuto sem ela ao meu lado era uma dor que eu não sabia que poderia sentir.
Eu estava ficando louco. A cada noite sozinho na cama, a cada refeição em silêncio, a cada olhar de Angelina cheio de lágrimas... eu me afundava mais em meus próprios pensamentos.
Será que eu poderia dar uma segunda chance a ela? E se ela fizesse aquilo de novo?
O amor que eu sentia por ela era tão grande que eu poderia esquecer o que vi e tentar novamente, mas a ferida ainda estava aberta, sangrando.
Eu estava magoado e com raiva. Mas, acima de tudo, eu estava dividido.
Poderia eu tratar Angelina com a mesma adoração e amor que antes?
Cada vez que eu me lembrava dela com Mário, aquilo me corroía por dentro. Mas, por outro lado, cada vez que eu via seu rosto, eu sentia uma onda de amor que quase me derrubava.
Naquela manhã, já perto do meio-dia, entrei para a cozinha para tomar um gole de café antes de voltar ao trabalho na fazenda. Era um hábito que eu tinha desenvolvido para tentar encontrar um momento de paz em meio aquele caos.
Quando entrei, vi Angelina e Matilde preparando o almoço. Era uma visão comum, mas agora carregada de tensão. Angelina sempre ajudava a preparar, mesmo que não estivéssemos comendo juntos.
Ela olhou para cima e me viu. Seus olhos encontraram os meus por um momento antes de ela limpar as mãos no avental e tirá-lo rapidamente. Sem dizer uma palavra, ela saiu da cozinha, deixando um vazio ainda maior no ar. Eu suspirei.
Matilde, que observava a cena enquanto cortava os legumes, não parou seu trabalho. Ela sempre fora a voz da razão naquela casa, e eu sabia que ela tinha algo a dizer.
Suas palavras eram um golpe direto no meu coração. Eu sabia que havia verdade nelas, mas a dor e a raiva ainda nublavam meu julgamento. Era difícil admitir, mas Matilde sempre teve uma clareza que eu às vezes não conseguia alcançar.
— Foi Angelina que provocou tudo isso, Matilde. — Eu respondi, tentando me convencer mais do que a ela. Minha voz saiu mais dura do que eu pretendia, mas não conseguia evitar.
Matilde parou por um momento, ainda segurando a faca e o legume pela metade. Seus olhos encontraram os meus, e vi ali uma mistura de preocupação e desapontamento.
— O senhor realmente já parou para escutar ela ou só acusou insistentemente?
Eu fechei os olhos por um momento, lembrando-me da cena que me assombrava. Era difícil afastar a imagem de Angelina e Mário juntos, tão próximos, rindo. Aquilo me queimava por dentro, como um veneno que não podia ser expelido.
— Eu vi tudo, Matilde. — Eu disse, tentando manter a voz firme. — Não preciso de explicação.
Ela balançou a cabeça, desapontada, mas também determinada a me fazer ver a verdade.
— Nem tudo que os olhos veem é verdade, patrão. Angelina não gostava nem um pouco de Teresa e nem do sobrinho dela. Não faz sentido uma coisa dessas.
Eu sabia que Matilde estava tentando me ajudar a ver além da minha raiva, mas era difícil. O ciúme me corroía, criando cenários e possibilidades que não conseguia ignorar.
— Matilde, você não entende. — Eu disse, minha voz cheia de frustração, as palavras saindo em um quase rosnado. — Eu vi a forma como eles estavam juntos, tão próximos. Não era apenas uma conversa e Mário disse que...
Eu parei, o nome de Mário queimando em minha língua como veneno. A lembrança daquela cena, de Angelina e do sobrinho de Teresa juntos, me corroía por dentro. Meu coração batia descompassado, dividido entre a dor e a raiva.
Matilde, no entanto, se manteve calma.
— E o senhor vai acreditar em um estranho ao invés da sua esposa? — Ela perguntou. — Vai confiar mais nas palavras de Mário do que na mulher que o senhor jurou amar e respeitar?
Eu abri a boca para responder, mas nada saiu. As palavras dela ecoavam na minha mente, um lembrete incômodo da verdade que eu relutava em aceitar. Matilde não desviou o olhar, continuando a falar com a mesma calma.
— Angelina sempre foi honesta com você, patrão. Ela te ama de verdade. — Matilde prosseguiu, sua voz suave, mas firme. — Às vezes, nossos olhos nos enganam, nos mostram apenas o que queremos ver, especialmente quando estamos cegos pelo ciúme.
Eu senti um nó se formar na minha garganta, a raiva e a dor lutando por espaço dentro de mim. Matilde deu um passo à frente, estendendo a mão como se pudesse alcançar a verdade escondida no meu coração.
— Pense bem, patrão. — Ela disse, sua voz agora um sussurro. — Aquele amor que você sente por ela... será que não vale a pena pelo menos ouvir o que ela tem a dizer? Será que não vale a pena tentar entender antes de julgar?
Eu abaixei a cabeça, as palavras de Matilde penetrando lentamente através da barreira de minha frustração. Sabia que ela estava certa, mas admitir isso era um passo que eu ainda não estava pronto para dar.
Matilde suspirou, voltando a cortar os legumes com uma calma que me irritava e confortava ao mesmo tempo.
— Angelina sempre foi muito sincera com seus sentimentos. — Ela disse, sem levantar os olhos do trabalho. — Ela nunca gostou de Teresa, e Mário sempre a deixou desconfortável, mas não porque gostava ele e sim por não gostava. Por que acha que ela faria algo assim, sabendo o quanto isso iria magoar o senhor?
A pergunta de Matilde me fez hesitar.
— Eu não sei, Matilde. — Admiti, minha voz baixa. — Eu não sei o que pensar.
Ela finalmente olhou para mim, seus olhos cheios de compaixão e firmeza.
— Talvez seja hora de parar de pensar tanto e começar a ouvir mais. — Ela sugeriu suavemente. — Às vezes, o que vemos não é a verdade completa. E às vezes, precisamos dar um passo atrás e tentar entender antes de julgar.
Eu fiquei em silêncio, a raiva e a dor ainda pulsando em meu peito.
— Aquela menina ama o senhor demais. — Matilde continuou, sua voz mais firme. — E sobre ela não ter dito isso em voz alta antes... pare para compreender a sua esposa. Ela é uma jovem de 21 anos. O primeiro relacionamento dela foi um casamento.
Eu olhei para ela, minha expressão endurecida.
— Você acha que eu não entendo isso? — Eu respondi, a frustração evidente na minha voz. — Eu sei que ela é jovem, mas isso não justifica o que vi.
Matilde balançou a cabeça, desapontada.
— Se o senhor a ama tanto quanto diz, deveria confiar só um pouquinho mais nela... Angelina é como o próprio nome, um anjo. Sinceramente? Nunca sequer duvidei da inocência daquela menina.
Enquanto terminava o gole de café, a confusão e o ciúme ainda me dominavam, mas uma nova determinação começava a surgir. Precisava falar com Angelina, ouvi-la verdadeiramente, e talvez, apenas talvez, encontrar um caminho de volta para o amor que compartilhávamos.
As palavras de Matilde ecoavam na minha mente. Poderia eu estar errado? Estaria a raiva me cegando a ponto de não ver a verdade? Terminei o gole de café, tentando processar tudo aquilo.
A conversa com Matilde me deixou pensativo. Eu precisava entender o que realmente havia acontecido. Precisava descobrir se eu estava deixando minha imaginação e meus medos destruírem algo precioso.
Agora, pensando nas palavras de Matilde, comecei a questionar o que vi. Eles estavam próximos, Mário pegava em seu braço, mas eu não tinha visto um beijo ou escutado algo que me fizesse crer que Angelina tinha um caso com aquele desgraçados... além das palavras dele dizendo que minha esposa o tentava constantemente.
Eu precisava falar com Angelina, precisava entender o que realmente aconteceu. Mas o orgulho e a dor me seguravam, me impedindo de dar o primeiro passo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Comprada pelo Fazendeiro Milionário [Paixões Rurais - Vol.1]
Roman d'amourRaul Duarte Faria tem 45 anos e é dono de quase toda Campo Lindo, pequena cidadezinha no sul do país. Possuidor de terras, gados e várias empresas, tem o poder de controlar tudo e todos. Bom, quase tudo. Angelina é uma jovem humilde de 21 anos, que...