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RAUL

O tempo parecia ter parado na sala de espera do hospital. As paredes brancas, o cheiro forte de desinfetante, o barulho distante dos passos apressados dos funcionários – tudo se misturava em um borrão enquanto eu permanecia sentado em uma das cadeiras de plástico, tentando encontrar algum alívio na posição em que estava, mas a tensão em meus músculos não me permitia relaxar.

Minha cabeça estava baixa, as mãos cobrindo o rosto, os cotovelos apoiados nos joelhos. Eu batia os pés no chão repetidamente, tentando manter algum controle sobre o turbilhão de pensamentos que invadiam minha mente. Cada minuto que passava sem notícias de Angelina era como uma tortura interminável. Já se passaram quatro horas. Quatro horas sem qualquer informação, sem qualquer esperança concreta a que me agarrar.

A culpa estava me consumindo. Eu tinha duvidado da minha mulher e acusado ela insistentemente.

Eu fiz Angelina ficar estressada, com medo e tudo isso poderia muito bem ter afetado a gravidez... Assim como havia deixado ela tão triste quanto eu.

Eu fui burro.

Senti Matilde e Luísa ao meu lado, compartilhando o mesmo silêncio pesado. Ninguém ousava falar. Qualquer palavra poderia quebrar o frágil fio de esperança que ainda nos mantinha unidos ali.

De repente, um movimento na minha visão periférica me fez levantar o olhar. Um policial estava se aproximando, seu rosto inexpressivo e postura firme indicavam que ele tinha uma missão a cumprir. Eu sabia o que ele queria, e uma onda de raiva e frustração me inundou antes mesmo de ele abrir a boca.

— Senhor Duarte Faria. — o policial começou, sua voz baixa e controlada. — Precisamos do seu depoimento e o de sua funcionária sobre o que aconteceu mais cedo. Além disso, o senhor deve me acompanhar até a delegacia imediatamente para falar sobre a morte do homem em sua casa.

Minha raiva explodiu em uma única resposta:

— Eu não vou sair deste hospital. — Minha voz soou rouca, mas firme. — Não vou sair daqui até que minha mulher acorde. Se quiserem que eu saia, vão ter que me arrastar, mas eu vou resistir.

O policial suspirou, como se já esperasse essa resposta. Ele cruzou os braços, analisando a situação com o olhar de alguém que já viu esse tipo de desespero muitas vezes antes.

— Senhor, eu entendo que está preocupado com sua esposa, mas eu tenho um trabalho a fazer. Há um homem morto na sua casa e uma mulher presa. — Ele tentou apelar para a razão, mas eu mal conseguia ouvi-lo.

Meu olhar permaneceu fixo no chão, minha mente ainda lutando para processar tudo o que estava acontecendo. Como eles podiam esperar que eu saísse dali? Como eles podiam esperar que eu deixasse Angelina sozinha depois de tudo?

— Não vou sair daqui. — Repeti, com mais firmeza. — Podem me prender, me forçar, fazer o que quiserem, mas eu só saio daqui depois que ela estiver acordada e bem.

O policial olhou para mim por um longo momento, avaliando a minha determinação. Finalmente, ele cedeu, um gesto de respeito por todos os anos em que nos conhecíamos.

— Raul, em nome de todos esses anos, vou permitir que você fique até que sua esposa acorde. Mas assim que ela estiver estável, eu voltarei para levá-lo. E você irá prestar depoimento, de um jeito ou de outro.

Eu apenas assenti, sem dizer mais nada. Minhas prioridades estavam claras. Nada mais importava naquele momento além de Angelina e nosso filho.

O policial então se virou para Matilde, que estava sentada ao meu lado, em silêncio.

Comprada pelo Fazendeiro Milionário [Paixões Rurais - Vol.1]Onde histórias criam vida. Descubra agora