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ANGELINA

Desde que saí do hospital, Raul tinha sido incansável em garantir que eu descansasse, mas hoje, algo dentro de mim sussurrava que eu precisava sair, precisava sentir o ar fresco em meus pulmões e, mais do que tudo, precisava ver Eclipse.

Olhando para o teto, decidi que faria aquilo de fininho, sem alertar Raul, Matilde ou minha mãe. Eles provavelmente achariam que era cedo demais para que eu saísse andando por aí, e talvez até tivessem razão. Mas eu sentia saudade do meu cavalo. Não se tratava apenas de um desejo; era uma necessidade.

Me levantei com cuidado, apoiando no colchão enquanto observava meu próprio reflexo no espelho. Eu estava bem melhor do que há dias atrás.

Em um vestido leve e confortável, que me permitisse caminhar sem grandes esforços, fui até a porta, abrindo devagar para não fazer barulho e acordar o Raul. Eu sabia que, se alguém me visse, seria questionada ou até mesmo impedida de sair.

O caminho até o estábulo foi uma caminhada leve, como o médico havia recomendado. Eu caminhava lentamente olhando tudo ao redor e aproveitando cada minuto do sol que esquentava a minha pele, e o ar fresco me revigorava, como se eu estivesse absorvendo a energia do mundo ao meu redor.

Quando cheguei no estábulo dois trabalhadores estavam ali, cuidando das baias e alimentando os cavalos. Quando me viram, acenei com a cabeça, cumprimentando eles de forma casual. Eles retribuíram com um sorriso educado, mas logo voltaram ao trabalho.

— Eclipse está na baia? — perguntei.

— Sim, senhora. Está logo ali, na terceira baia à direita. — um dos homens respondeu, apontando.

Agradeci e comecei a caminhar na direção que ele havia mostrado, sentindo uma onda de ansiedade e felicidade crescendo a cada passo que eu dava. Quando finalmente parei em frente à baia de Eclipse, meu coração quase parou de tanta emoção. Lá estava ele, meu companheiro fiel, tão majestoso e imponente quanto sempre.

— Oi, garoto. — murmurei, aproximando-me com cuidado.

Eu estendi a mão, tocando sua crina macia. O toque de sua pelagem, o calor de seu corpo, tudo isso me fez perceber o quanto eu havia sentido falta dele. Ele era mais do que apenas um cavalo para mim; era meu confidente, meu melhor amigo. Quantas vezes eu não havia desabafado com ele, confiando meus segredos mais profundos? E agora, finalmente, eu estava de volta.

— Eu senti tanta saudade, Eclipse. — sussurrei, continuando a acariciar sua crina. — De tudo isso, de você. Eu senti falta de desabafar com você.

Eclipse me olhava com aqueles olhos grandes e profundos, como se realmente entendesse cada palavra que eu dizia. Eu sabia que, de certa forma, ele entendia. Ele sempre havia sido o meu refúgio, o lugar onde eu podia ser completamente honesta, sem medo de julgamentos.

Estava tão imersa na conversa que não percebi a presença de Raul até sentir seus braços envolvendo minha cintura por trás. Ele me abraçou com firmeza, mas ao mesmo tempo com tanto cuidado, como se tivesse medo de me machucar.

— Eu sabia que você não resistiria em vir aqui, — ele murmurou ao meu ouvido, com um tom de voz que misturava divertimento e preocupação. — Mas já está descumprindo as ordens do médico só de estar aqui sem estar totalmente recuperada e ainda por cima, sozinha.

Eu sorri e acariciei as mãos dele, que rodeavam minha cintura, sentindo o calor familiar que sempre me confortava.

— Eu juro que não fiz nada no caminho. — respondi suavemente. — Eu só precisava ver o Eclipse. Ele é o meu confidente, sabe? Inclusive foi o primeiro a ouvir que eu te amava, antes mesmo de eu ter coragem de te dizer.

Raul deu uma risada, me apertando um pouco mais em seu abraço.

— Então, ele ouviu isso de você antes de mim? — provocou, inclinando a cabeça para olhar meu rosto.

Eu corei um pouco, mordendo o lábio inferior.

— Eu não tinha coragem de te dizer na época, mesmo querendo. — admiti, sentindo-me um pouco envergonhada.

Ele virou meu rosto de leve, para que eu pudesse olhar em seus olhos.

— Bem, agora você terá que dizer toda hora e todos os dias, para se redimir por isso, esposa. — ele disse, com um sorriso brincalhão.

— Será um prazer. — respondi, e logo nossos lábios se encontraram em um beijo lento, mas cheio de paixão.

O beijo que começou suave, logo se transformou em algo mais intenso, mais quente. Minhas mãos deslizaram para o pescoço dele, puxando para mais perto enquanto o desejo crescia dentro de mim. Meu marido retribuiu o beijo com igual fervor, mas logo começou a sorrir contra meus lábios, interrompendo o momento.

— Angelina. — ele repreendeu, ainda sorrindo enquanto se afastava levemente, mantendo meu rosto entre suas mãos. — Nós não podemos fazer isso ainda. Você ainda precisa se recuperar, pelo menos do tiro.

Eu olhei para ele com um sorriso travesso, acariciando as mãos dele que ainda seguravam meu rosto.

— Podemos fazer com calma, bem devagar. Eu acho que dá certo. — sussurrei, inclinando-me para beijar ele novamente, inebriada pelo desejo.

Ele soltou uma risada baixa, mas não recuou imediatamente. Por um breve momento, eu achei que ele fosse ceder, mas com um suspiro, ele parou o beijo.

— Eu criei um monstro. — brincou, olhando para mim com aquele sorriso que sempre me fazia derreter. — Você não era assim antes, sabia?

— A culpa é da saudade que eu sinto do seu corpo, marido. Ela está fazendo isso. — confessei, sabendo que ele entenderia o que eu queria dizer. Era mais do que apenas desejo físico; era a necessidade de estar próxima a ele, de sentir aquela conexão que só nós dois tínhamos.

Raul balançou a cabeça, rindo baixinho.

— Você não pode culpar a saudade por isso.

— Então culpo você, por me fazer te amar tanto assim. — retruquei, sem tirar os olhos dos dele.

Ele me olhou por um longo momento, como se estivesse gravando cada detalhe do meu rosto em sua memória, antes de me puxar para mais um beijo. Dessa vez, o beijo foi mais lento, mais profundo, como se ambos estivéssemos tentando prolongar o momento, saboreando cada segundo.

Minha mão, quase por impulso, começou a desabotoar a camisa dele. Raul notou e segurou minha mão com firmeza, mas sem agressividade, apenas para me fazer parar.

Eu, teimosa, me inclinei e deixei um beijo suave em seu pescoço, sentindo sua respiração acelerar. Não queria que aquilo acabasse ali. Ele fechou os olhos, como se estivesse lutando contra o desejo e os braços dele me envolveram novamente, e eu me aninhei contra seu peito.

— Marido. — reclamei.

— Não adianta, esposa. Não vai me convencer nem me chamando de marido, espertinha.

Depois de um tempo, ele finalmente se afastou, suspirando, como se estivesse se segurando, mesmo que sua vontade fosse fazer o contrário.

Eu entendia ele. Como entendia.

— Vamos para casa, minha teimosa. Antes que eu perca a cabeça e faça uma loucura aqui mesmo no estábulo e tire toda a inocência do pobre Eclipse.

Eu não pude conter o riso que escapou dos meus lábios. Senti seu peito vibrar contra o meu enquanto ele ria junto.

Comprada pelo Fazendeiro Milionário [Paixões Rurais - Vol.1]Onde histórias criam vida. Descubra agora