28

7K 471 18
                                    

ANGELINA

Eu estava na cozinha, mexendo distraidamente no mingau de milho que Matilde preparava, enquanto minha mãe cortava alguns legumes ao lado.

O cheiro familiar do fogo a lenha e das ervas secas penduradas nas vigas do teto deveria me confortar, mas tudo o que eu sentia era um nó no estômago.

Meu coração pesava com a tensão que pairava na fazenda há dias. Raul e eu ainda estávamos brigados e em um quarto separados. A distância entre nós era dolorosa, e eu sentia como se estivesse perdendo a batalha para restaurar a paz em nosso casamento.

— Minha filha, você está bem? — A voz preocupada da minha mãe me tirou dos meus pensamentos. Olhei para ela, surpresa. Ela parou de cortar os legumes e me observava com atenção. — Você está muito estranha, Angelina.

Por um momento, hesitei. Falar sobre meus problemas com Raul era difícil, especialmente com minha mãe, que sempre nos viu como o casal perfeito. Mas eu sabia que não poderia esconder a verdade por muito mais tempo.

Meus olhos se encontraram com os de Matilde, que estava do outro lado da cozinha, mexendo no ensopado com uma colher de pau. Ela me deu um aceno sutil, como se dissesse que era hora de enfrentar a realidade.

— É melhor você contar a verdade para sua mãe, menina. — Matilde falou suavemente. A preocupação em sua voz era evidente.

Suspirei profundamente, sentindo o peso da confissão que estava prestes a fazer. Coloquei a colher de lado e me virei para minha mãe, tentando encontrar as palavras certas.

— Mãe... — comecei, minha voz trêmula. — Raul e eu... nós não estamos bem.

Minha mãe franziu a testa. Ela parou de cortar os legumes e se virou completamente para me encarar.

— O que aconteceu, Angelina? — Ela perguntou, sua voz cheia de preocupação.

Senti uma lágrima escapar e tomei fôlego antes de continuar.

— Raul... — minha voz falhou por um momento, e eu precisei de um segundo para me recompor. — Raul acha que eu traí ele.

As palavras saíram como um soco, e minha mãe arregalou os olhos, deixando a faca cair na mesa com um baque surdo.

— O quê?! — Ela exclamou, furiosa. — Como ele pode pensar uma coisa dessas?! Eu vou procurar Raul agora mesmo e dizer algumas verdades na cara dele!

Ela começou a se mover em direção à porta da cozinha, pronta para confrontar meu marido, mas eu rapidamente segurei seu braço, puxando ela de volta.

— Não, mãe! — Eu disse, minha voz urgente. — Por favor, não faz isso. Eu... eu vou resolver isso.

Minha mãe olhou para mim, sua expressão suavizando um pouco ao ver o desespero em meus olhos. Mas a raiva ainda estava lá.

— Angelina, ele não pode duvidar de você assim! — Ela respondeu. — Vocês são casados! Um casamento precisa de confiança e ele deveria saber disso!

As lágrimas que eu estava segurando finalmente começaram a cair. Todo o peso da situação se abateu sobre mim, e eu me senti impotente, como se estivesse afundando em um poço sem fundo.

— Eu sei, mãe... — Eu murmurei, a voz embargada pelo choro. — Mas... mas eu preciso de tempo. Preciso encontrar um jeito de resolver isso, de fazer ele entender que está errado... eu só não sei como.

Minha mãe viu meu sofrimento e, em um instante, a raiva deu lugar à preocupação e ao amor. Ela me puxou para um abraço apertado, como fazia quando eu era criança e estava com medo ou magoada.

— Shhh, meu amor... vai ficar tudo bem. — Ela sussurrou, acariciando meu cabelo. — Vamos dar um jeito nisso, está ouvindo?

Matilde, que havia ficado quieta durante a troca de palavras, se aproximou e nos envolveu em seus braços fortes e calorosos. Ela sempre foi como uma segunda mãe para mim, e naquele momento, eu precisava de todo o apoio que pudesse receber.

— Vai ficar tudo bem, menina. — Matilde murmurou, sua voz reconfortante. — Mas você precisa ser forte. E lembre-se, você não está sozinha.

Ficamos ali, abraçadas, por alguns minutos, deixando o silêncio falar por nós. O cheiro do ensopado se misturava ao das lágrimas salgadas que ainda desciam pelo meu rosto. Eu sentia o calor do corpo de minha mãe e de Matilde, e por um breve momento, consegui encontrar um pouco de paz no meio do caos que minha vida havia se tornado.

Seus grandes olhos castanhos me estudaram com cuidado, e sua testa franzida mostrava a preocupação que ele tentava entender. Ele parou ao meu lado, puxando de leve a minha saia para chamar minha atenção, como sempre fazia quando queria me contar um segredo ou pedir algo.

— Mana, você tá chorando? — perguntou ele, sua voz suave e carregada de curiosidade e preocupação.

A pergunta, tão simples e genuína, me atingiu com força, mas eu rapidamente me recompus, forçando um sorriso para ele.

Me abaixei para ficar na altura dele, colocando uma mão em seu rostinho quente e redondo, e acariciei sua bochecha macia com meu polegar. Seu olhar fixo no meu parecia estar buscando algum sinal de verdade nas palavras que eu ia dizer.

— Não, meu amor. A mana tá bem, viu? — Respondi, minha voz suave, tentando tranquilizar ele. — Não precisa se preocupar.

Antônio me observou por mais alguns segundos, como se estivesse tentando entender se realmente era verdade, mas então, o brilho de confiança voltou a seus olhos.

Com um sorriso tímido, ele estendeu o pedaço de queijo que segurava, empurrando delicadamente em minha direção.

— Toma. — disse ele, seu tom cheio de carinho e generosidade infantil. — Pra você ficar feliz.

Olhei para o pedaço de queijo fresco em suas mãos pequenas, e meu coração se apertou com a doçura do gesto. Ele queria me dar algo para me fazer sentir melhor.

Mas o cheiro forte do queijo, que normalmente eu apreciaria, agora me atingiu como uma onda avassaladora de náusea. Meu estômago revirou, e antes que eu pudesse responder, fui tomada por uma necessidade urgente de correr para o banheiro.

— Esse cheiro... é horrível... — murmurei, levando a mão à boca e correndo em direção ao banheiro.

Comprada pelo Fazendeiro Milionário [Paixões Rurais - Vol.1]Onde histórias criam vida. Descubra agora