ANGELINA
A luz suave que penetrava pela janela foi a primeira coisa que senti ao abrir os olhos, como se o mundo estivesse devagar ganhando forma ao meu redor. Não era uma luz forte, mas o suficiente para trazer a realidade à tona, um lembrete de que eu ainda estava aqui, viva.
Meus sentidos ainda estavam um tanto falhos, e levei alguns segundos para perceber onde estava. A sala ao meu redor era silenciosa, com as cortinas filtrando a luz do sol da manhã, e eu podia sentir o cheiro suave de flores.
O som de uma respiração baixa e constante ao meu lado chamou minha atenção, um som que me era familiar e que eu sempre encontrava reconfortante.
Virei a cabeça lentamente, sentindo uma leve dor irradiar pelo meu pescoço, como se meus músculos estivessem rígidos por terem permanecido imóveis por muito tempo. E foi então que vi Raul, sentado em uma poltrona, com a barba por fazer e o rosto marcado pela exaustão.
As olheiras profundas embaixo dos olhos e a roupa amarrotada indicavam que ele não havia dormido ou trocado de roupa em dias. A visão dele, tão abatido, fez meu coração se apertar.
Tossi suavemente, sentindo a garganta seca e o corpo ainda frágil, como se estivesse me recuperando de um longo sono. O som da minha tosse pareceu reverberar pela sala, e Raul imediatamente levantou a cabeça, seus olhos arregalados de surpresa e alívio ao me ver acordada. Em um instante, toda a exaustão que ele carregava parecia ter evaporado. Ele se levantou da poltrona e, em poucos passos, estava ao meu lado, com um sorriso tenso nos lábios e lágrimas se formando no canto dos olhos.
— Angelina. — Ele sussurrou meu nome, como se temesse que o som pudesse me quebrar. Era como se ele estivesse confirmando para si mesmo que eu realmente estava acordada, que tudo aquilo não era apenas um sonho.
Tentei sorrir para ele, tentando transmitir um pouco de calma, mas a primeira coisa que me veio à mente foi o nosso bebê. O coração acelerou, batendo forte contra o peito, e a preocupação tomou conta de mim como uma onda avassaladora. Eu precisava saber se nosso filho estava bem. Precisava daquela certeza para poder lidar com todo o resto.
— O bebê... está tudo bem com o nosso bebê? — Minha voz saiu fraca, quase um sussurro, mas cheia de ansiedade e medo. O simples pensamento de que algo pudesse ter acontecido com nosso filho me encheu de pavor.
Raul se sentou na beira da cama, com todo o cuidado do mundo, como se eu fosse feita de porcelana fina, frágil e delicada, que pudesse se partir a qualquer momento. Ele estendeu a mão e a colocou gentilmente sobre minha barriga. Senti o calor da palma dele através do tecido fino do lençol, e fechei os olhos, tentando encontrar conforto naquele toque. Foi nesse instante que percebi o quanto aquele gesto era significativo. Não era apenas uma resposta à minha pergunta, mas uma promessa silenciosa de que ele estaria ali, presente, para mim e para nosso bebê, independentemente do que acontecesse.
— Nosso filho está aqui, protegido dentro de você. — Raul respondeu, a voz firme, mas os olhos marejados, como se estivesse segurando uma avalanche de emoções. Ele estava tentando ser forte, por mim, por nós.
Um suspiro de alívio escapou dos meus lábios. Era como se uma tonelada tivesse sido tirada dos meus ombros, e finalmente eu pudesse respirar novamente. Mas, ao mesmo tempo, uma culpa profunda me atingiu, se enraizando no meu peito.
Como eu não pensei no nosso bebê naquele momento? Como pude ser tão imprudente?
O amor que eu sentia por Raul havia me cegado para o fato de que eu não estava mais sozinha, de que havia uma vida crescendo dentro de mim.
— Raul... — Comecei, a voz embargada pela emoção, as palavras presas na garganta. — Quando vi Teresa apontando aquela arma para você... Eu sequer pensei no nosso bebê. Se alguma coisa tivesse acontecido... — Minha voz falhou, e as lágrimas que eu segurava começaram a escorrer pelo meu rosto. As lembranças do que aconteceu voltaram como um maremoto, trazendo consigo todo o medo, a dor e a culpa. — Eu nunca me perdoaria.
Raul se inclinou para mais perto, acariciando meu rosto. Aquelas mãos, que podiam ser tão firmes e decididas, agora eram delicadas como uma pluma enquanto ele enxugava minhas lágrimas. Eu sentia seu amor e sua preocupação em cada gesto, e isso apenas tornava tudo mais difícil. Eu não queria que ele me visse como fraca ou imprudente, mas naquele momento eu me sentia exatamente assim.
— Está tudo bem agora. — ele disse suavemente. — Não se culpe, agora você precisa descansar. Pense em nosso filho, ele precisa de você forte e saudável. Faça isso pr nós, hum?
Eu sabia que ele estava certo, mas a culpa ainda pairava sobre mim, pesada como uma sombra. Raul se levantou, como se fosse chamar o médico, mas eu segurei seu braço, não querendo deixá-lo ir. Precisava que ele soubesse a verdade antes de qualquer outra coisa.
— Eu nunca tive nada com Mário.
Raul voltou a se sentar, olhando-me com aqueles olhos que sempre foram capazes de ver minha alma. Ele pegou minha mão, entrelaçando nossos dedos, e eu senti o calor reconfortante da sua presença.
— Eu sei, Angelina. — ele respondeu, sua voz quebrando um pouco, como se aquelas palavras lhe custassem. — Eu sei e vou passar o resto da minha vida pedindo desculpas por ter duvidado de você, por ter permitido que a insegurança e o medo me cegasse. Mas vamos falar disso quando você estiver melhor, está bem? Agora, o mais importante é você descansar, para que nosso bebê cresça tranquilo e forte.
Havia tanta sinceridade naquelas palavras, tanto arrependimento. Ele estava ali, disposto a passar por qualquer coisa ao meu lado, disposto a se redimir, a lutar por nós.
Fechei os olhos, tentando absorver o conforto daquelas palavras. Ainda havia muito a ser dito, muito a ser resolvido, mas naquele momento, tudo o que importava era que estávamos juntos. E que nosso bebê, fruto desse amor, estava bem e seguro.
Senti Raul acariciar meu cabelo, seus dedos deslizando gentilmente pelas mechas bagunçadas, e uma paz começou a se instalar em meu coração. Eu sabia que Raul faria qualquer coisa por mim, pelo nosso filho, e essa certeza me deu forças para enfrentar o que viria.
— Eu te amo, Raul. — sussurrei, quase como uma prece.
Ele sorriu, aquele sorriso que me fazia sentir em casa, independentemente de onde estivéssemos.
— Eu também te amo, minha Angelina. E prometo que nada, nem ninguém, vai nos separar, esposa.
Com essas palavras, me permiti relaxar completamente pela primeira vez em dias. Fechei os olhos e deixei o sono me levar, sabendo que Raul estaria ali, ao meu lado, cuidando de nós.
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Comprada pelo Fazendeiro Milionário [Paixões Rurais - Vol.1]
RomanceRaul Duarte Faria tem 45 anos e é dono de quase toda Campo Lindo, pequena cidadezinha no sul do país. Possuidor de terras, gados e várias empresas, tem o poder de controlar tudo e todos. Bom, quase tudo. Angelina é uma jovem humilde de 21 anos, que...