ANGELINA
Minha mãe e Matilde me seguiram, preocupadas, enquanto eu me ajoelhava diante da privada do pequeno banheiro social que ficava no andar de baixo, tentando conter o enjoo que me dominava. A sensação era sufocante, como se meu estômago estivesse virado do avesso.
Matilde veio até mim, segurando meu cabelo para trás com delicadeza, como quem sabe exatamente o que fazer em momentos como esse.
— O que foi, minha filha? — Minha mãe perguntou, alarmada, a voz cheia de preocupação. — Você nunca teve problema com queijo antes!
A pergunta dela ecoou na minha mente, mas eu não tinha uma resposta clara. Aquilo nunca tinha acontecido antes.
— Eu... não sei... — Respondi, ofegante, enquanto limpava a boca com o dorso da mão. O gosto amargo do vômito ainda estava presente, e minha cabeça começava a latejar levemente.
Me levantei devagar, sentindo meu corpo parar de balançar com o vômito, mas ainda assim, meu corpo estava fraco. Minha mãe colocou a mão em minha testa, verificando se eu tinha febre, sua expressão de preocupação me afetando ainda mais.
— Você não está quente... — Ela murmurou, mas seus olhos permaneciam cheios de preocupação. — Angelina, há quanto tempo você está assim?
Parei por um momento, tentando me lembrar. Eu realmente estava me sentindo mais cansada ultimamente, mas tinha atribuído isso ao estresse que Raul e eu estávamos vivendo.
— Eu... eu não sei, mãe. — Disse, sentindo-me um pouco confusa. — Talvez seja só o estresse.
Matilde observava em silêncio. Havia algo no seu olhar que me deixava inquieta, como se ela estivesse vendo algo que eu ainda não conseguia entender.
— Estresse pode causar isso, sim. — Ela finalmente disse, com um tom cauteloso. — Mas...
Minha mãe e eu olhamos para Matilde, esperando que ela completasse a frase. O silêncio que se seguiu pareceu prolongar o momento, como se ela estivesse escolhendo cuidadosamente suas palavras.
— Bem, talvez seja algo mais, Angelina. — Matilde continuou, seu tom agora mais suave, como se não quisesse me assustar. — Quando foi a última vez que sua menstruação veio, querida?
Minha mente começou a repassar os últimos meses, os dias que se passaram sem que eu percebesse o que realmente estava acontecendo.
Eu nem me lembrava exatamente quando tinha sido a última vez.
Minhas mãos foram automaticamente ao meu ventre, uma mistura de emoções se agitando dentro de mim. Medo, esperança, incredulidade... Seria possível?
Minha mãe, percebendo a direção dos meus pensamentos, arregalou os olhos, suas mãos foram de encontro à boca, como se ela também estivesse absorvendo o que aquilo poderia significar.
— Angelina... você acha que...?
Engoli em seco, sentindo as lágrimas voltarem aos meus olhos, mas dessa vez, eram lágrimas diferentes.
Não era de tristeza. Era lágrimas felizes.
— Não tenho certeza, mãe... — Respondi, minha voz tremendo. — Mas... eu acho que talvez eu esteja grávida.
A palavra "grávida" saiu da minha boca quase em um sussurro, como se fosse algo sagrado que eu tivesse medo de quebrar.
A palavra parecia ter um peso especial enquanto pairava no ar, enchendo a cozinha de uma nova energia. Eu vi a expressão de minha mãe suavizar, a preocupação se misturando com uma leve esperança. Matilde, sempre prática, deu um sorriso encorajador.
— Precisamos ter certeza. Vamos para a cidade amanhã e verificamos com o doutor. Mas, Angelina... — Ela colocou a mão no meu ombro, seu olhar sério. — Se for verdade, isso pode mudar muita coisa.
Assenti, ainda atordoada pela ideia. Minha mente estava uma bagunça, uma confusão de sentimentos contraditórios. Raul... Como ele reagiria?
Minha mãe se aproximou, me envolvendo em um abraço apertado.
— Seja o que for, minha filha, vamos enfrentar juntas.
As palavras dela me trouxeram um pouco de conforto, mas também uma grande apreensão. Contar a Raul... Como ele reagiria? E se fosse um alarme falso? Eu não podia correr esse risco. Precisava ter certeza antes de dizer qualquer coisa a ele. Meu coração estava dividido entre a esperança e o medo.
Eu acariciei meu ventre quase instintivamente, tentando processar o que tudo aquilo significava. Se eu realmente estivesse esperando um filho, aquilo mudaria tudo. Talvez, finalmente, Raul pudesse confiar em mim de novo. Mas... E se ele ainda duvidasse?
Antes que eu pudesse continuar em meus pensamentos, ouvi passos firmes se aproximando do corredor. Todos nós nos viramos ao mesmo tempo, e para minha surpresa e temor, Raul apareceu na porta.
Ele estava mais sério do que de costume, mas havia uma preocupação em seus olhos que me fez sentir uma pontada de culpa por sequer cogitar não contar a ele imediatamente.
— O que está acontecendo aqui? Você está bem? — Ele perguntou. Era o tipo de tom que ele usava quando estava preocupado comigo, e isso me atingiu mais do que eu esperava.
Eu o observei por um momento, tentando decidir o que responder. Meu coração estava disparado, e a mão de minha mãe apertou meu ombro em um gesto de apoio silencioso.
— Está tudo bem. — Respondi, forçando um sorriso que eu esperava parecer convincente.
Minha mãe, no entanto, não parecia satisfeita com essa resposta. Ela abriu a boca para dizer algo, mas antes que pudesse, eu me adiantei, interrompendo-a.
— Só me senti um pouco enjoada, mas já estou melhor. — Disse, tentando parecer tranquila.
Raul olhou para minha mãe, que relutantemente fechou a boca e assentiu, mostrando que não ia insistir. Ela sabia que eu não queria que Raul soubesse de nada antes de termos certeza, mas eu podia ver a preocupação ainda estampada em seu rosto.
— Tem certeza? — Raul disse, mas seu olhar continuava em mim, como se estivesse tentando decifrar se eu estava escondendo algo. — Podemos ligar para o médico e descobrir porque você está se sentindo mal.
Eu neguei novamente, tentando manter a calma. Raul se aproximou, e eu senti um arrepio percorrer minha espinha. Ele estendeu a mão para segurar o meu rosto e eu fechei os olhos por um instante com a sensação do seu toque.
Ele fez uma pausa, o olhar preocupado passeando por meu rosto, como se tentasse decifrar o que realmente estava acontecendo.
— Se precisar de algo, você pode me dizer. Sempre. — Ele disse, sua voz um pouco mais suave.
— Eu sei, Raul. — Respondi, apertando sua mão em um gesto de agradecimento.
Eu queria acreditar nas palavras dele, queria acreditar que, apesar de tudo, ele ainda se importava comigo. Mas havia uma parte de mim que ainda estava assombrada pelas acusações que ele havia feito, pela desconfiança que havia se instalado entre nós.
— Eu vou ficar bem, acho que só preciso me deitar um pouco. Não se preocupe. — pedi.
— Impossível, Angelina. — Ele disse, finalmente virando para sair. — Estarei no escritório se precisar de mim, ouviu?
Assenti com um sorriso fraco.
Se eu estivesse grávida, diria a Raul... mas ainda não era a hora.
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Comprada pelo Fazendeiro Milionário [Paixões Rurais - Vol.1]
Roman d'amourRaul Duarte Faria tem 45 anos e é dono de quase toda Campo Lindo, pequena cidadezinha no sul do país. Possuidor de terras, gados e várias empresas, tem o poder de controlar tudo e todos. Bom, quase tudo. Angelina é uma jovem humilde de 21 anos, que...