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ANGELINA

O dia começou diferente. Pouco antes do sol nascer, senti um aperto no baixo ventre, uma dor que começou como uma pontada e logo foi se intensificando.

Ainda sonolenta, demorei a perceber o que estava acontecendo, mas quando a dor veio de novo, com mais força, a realidade me atingiu. 

O momento que eu havia esperado nos últimos nove meses finalmente estava chegando.

Raul ainda dormia ao meu lado, respirando profundamente. Ele tinha trabalhado até tarde na noite anterior, lidando com problemas na fazenda, e eu não queria acordá-lo, mas a dor se tornou impossível de ignorar. 

Respirei fundo, tentando manter a calma, mas minha mão instintivamente apertou a dele. Ele acordou num sobressalto, imediatamente alerta ao ver a expressão no meu rosto.

— O que foi, amor? — Ele perguntou, o tom de voz preocupado enquanto me observava atentamente.

— Acho que... acho que é hora, Raul. — Consegui dizer entre ofegos.

Seus olhos se arregalaram, e por um momento ele pareceu paralisado, mas logo ele se recompôs.

— Inspira e solta devagar, meu anjo. Faz como a médica ensinou. Vamos para o hospital. — Ele disse, levantando-se rapidamente da cama e começando a me ajudar a levantar.

Ele me ajudou a me vestir, e logo estávamos a caminho do hospital.

Quando chegamos ao hospital, as contrações estavam mais próximas e mais intensas. A equipe médica nos recebeu prontamente, e eu fui levada para uma sala de parto. Raul não saiu do meu lado em nenhum momento, segurando minha mão com força enquanto me acomodavam na cama.

As horas passaram como um borrão. A dor era como ondas, vindo e indo, cada vez mais forte. Raul estava sempre ali, sussurrando palavras de encorajamento, me abraçando quando eu precisava de conforto, e segurando minha mão quando eu sentia que não aguentava mais.

— Você é forte, meu amor. — Ele repetia, seu rosto perto do meu. — Estamos tão perto de conhecer nosso garotinho. Estou aqui com você, ouviu? Quando sentir que está forte demais, aperte a minha mão bem forte, não se preocupe se vai machucar.

Essas palavras me davam forças, mas era difícil manter a calma quando meu corpo parecia estar sendo rasgado de dentro para fora. Eu tentava respirar fundo, focar na voz de Raul, mas havia momentos em que o desespero quase tomava conta de mim. Nessas horas, eu apertava a mão dele com toda a força que tinha como ele tinha dito, e ele respondia com um olhar que dizia que tudo ficaria bem.

Em certo ponto, senti que não podia mais suportar. A dor era insuportável, e meu corpo estava exausto. Raul parecia ler meus pensamentos, porque ele se inclinou e beijou minha testa, sussurrando palavras que eu mal conseguia entender, mas que ainda assim traziam algum conforto.

— Eu sei que é difícil, mas você consegue, Angelina. Estou tão orgulhoso de você. Você é a mulher mais forte que eu conheço, e vamos passar por isso juntos. Miguel está quase aqui, esposa. Só mais um pouco, e nosso menino estará nos nossos braços.

Eu respirei fundo, tentando me concentrar nas instruções da médica, que se aproximou para fazer o exame de toque. Seu rosto, que antes estava concentrado, se suavizou em um sorriso encorajador.

— Está pronta, Angelina. — Ela disse, seu tom cheio de empatia ao ver o meu estado. — Vamos preparar tudo para o parto, e logo logo você terá seu bebê nos braços, mãezinha.

As preparações para o parto começaram rapidamente. A sala foi organizada, as luzes ajustadas, e a equipe médica se posicionou ao meu redor. 

A médica se inclinou para mim, explicando o que eu precisava fazer, mas a dor fazia com que as palavras dela parecessem distantes. Tudo o que eu sabia era que precisava fazer força, precisava trazer nosso filho ao mundo.

— Agora, Angelina, eu preciso que você faça força quando sentir a contração. Está pronta? — A médica perguntou, e eu apenas assenti, sentindo outra onda de dor se aproximando.

Raul se inclinou ainda mais perto de mim, seus lábios próximos ao meu ouvido.

— Eu estou aqui, meu amor. Você consegue. Vamos lá, só mais um pouco.

E então eu comecei a fazer força. No início, parecia impossível, como se meu corpo não tivesse energia suficiente para isso, mas a cada incentivo de Raul, a cada palavra de encorajamento da médica, eu encontrava forças que nem sabia que tinha.

— Isso, Angelina! Você está indo muito bem! — A médica exclamou, e Raul apertou minha mão, sua voz ecoando no meu ouvido.

— Você é incrível, amor. Estou tão orgulhoso de você. Só mais um pouco, você consegue.

As contrações vinham uma após a outra, e eu continuava a fazer força, meu corpo todo tremendo de esforço. A dor era avassaladora, mas eu sabia que estava quase no fim. Raul enxugava o suor da minha testa, sussurrando palavras de amor e incentivo, enquanto eu lutava para trazer nosso filho ao mundo.

O tempo parecia ter parado, e ao mesmo tempo, parecia que tudo estava acontecendo em um piscar de olhos. Eu sentia a pressão aumentar, e a médica dizia que eu estava quase lá, que conseguia ver a cabeça do bebê. Com essas palavras eu fiz força com tudo o que tinha.

E então, de repente, houve um alívio, e um som que eu nunca vou esquecer encheu a sala. O choro forte e saudável de Miguel ecoou, e por um momento, a dor desapareceu, substituída por uma alegria tão intensa que minhas lágrimas começaram a rolar sem controle.

— Ele está aqui. — Raul sussurrou, a emoção evidente em sua voz. — Nosso filho está aqui.

Eu mal conseguia acreditar quando a médica ergueu Miguel, ainda sujo de sangue, e o colocou em meus braços. 

Ele era tão pequeno, tão perfeito, e quando eu olhei para ele, todo o mundo desapareceu.

— Olá, meu amor. — Eu sussurrei, as lágrimas ainda caindo, enquanto acariciava a bochecha dele com o dedo. — Você é tão lindo, Miguel.

Raul se inclinou, beijando minha testa e depois a cabeça de Miguel, suas próprias lágrimas brilhando nos olhos.

— Somos uma família agora. — Ele disse, sua voz embargada. — Eu te amo tanto, Angelina. O papai te ama muito, Miguel. Você é tão bonito, garotão.

Eu sorri para Raul, sentindo um amor tão grande que mal cabia no meu peito. A dor, o esforço, tudo valera a pena por aquele momento, por ter nosso filho em meus braços e o homem que eu amava ao meu lado.

A equipe médica continuou a trabalhar ao nosso redor, mas tudo parecia distante, como se estivéssemos em uma bolha de felicidade. Eles limparam e examinaram Miguel, mas logo o devolveram para mim, enrolado em uma manta macia.

— Ele tem seus olhos. — Raul comentou, observando nosso filho com um sorriso.

— E o seu queixo. — Eu respondi, ainda maravilhada com como aquele pequeno ser já parecia uma mistura perfeita de nós dois.

Raul então se inclinou e beijou minha cabeça. Ele olhou para Miguel novamente e sorriu.

Meu filho. — Ele sussurrou.

Comprada pelo Fazendeiro Milionário [Paixões Rurais - Vol.1]Onde histórias criam vida. Descubra agora