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ANGELINA

Eu estava sentada na cama, encostada em almofadas fofas, com Miguel nos braços. Ele tinha apenas cinco dias, tão pequenino e frágil, mas já havia se tornado o centro do meu mundo. Sua respiração era suave, seu corpo quente contra o meu, e eu não conseguia parar de admirar cada detalhezinho do meu bebê, desde os minúsculos dedinhos das mãos até os cílios finos que descansavam sobre suas bochechas rosadas.

Desde que havíamos chegado em casa do hospital, eu quase não conseguia dormir. Não era só pelo fato de Miguel precisar de mim todo o tempo, mas também porque eu não queria perder nenhum momento. 

Mesmo cansada, sentia um desejo profundo de ficar acordada, para proteger e observar meu filho, para assegurar que ele estava bem e seguro. Raul tinha sido uma presença constante e reconfortante, sempre pronto para ajudar em qualquer coisa que eu precisasse, mas naquele momento ele estava resolvendo questões na fazenda, me deixando na companhia do nosso bebê.

Eu estava quase perdida nesses pensamentos, quando ouvi passos rápidos no corredor, seguidos pelo som familiar e alegre da voz de Antônio. Ele entrou correndo no quarto, os olhos grandes e curiosos fixos em mim e em Miguel.

— Eu quero ver o bebezinho! — Ele exclamou.

Eu sorri, o coração se aquecendo ao ver a alegria do meu irmãozinho. Antônio sempre fora uma criança enérgica e carinhosa, e eu sabia que ele estava ansioso para conhecer melhor seu sobrinho.

Antes que Antônio pudesse se aproximar demais, minha mãe apareceu na porta.

— Antônio, calma, meu filho. — Ela disse firme o suficiente para que ele entendesse. — O bebê é muito pequenininho. Tem que ter cuidado ou pode machucar ele.

Antônio parou imediatamente, seus grandes olhos castanhos se voltando para mim com hesitação. Ele queria tanto ver Miguel de perto, mas também sabia que precisava ser gentil.

— Vem cá, Antônio. — Eu disse, sorrindo para ele. — Senta aqui ao meu lado para ver o bebê.

Ele não precisou de mais nada. Num instante, tirou os sapatos e subiu na cama ao meu lado. Seus movimentos eram cuidadosos, como se ele estivesse com medo de quebrar alguma coisa, o que me fez sorrir ainda mais.

Quando ele se inclinou para olhar Miguel, pude ver a curiosidade e a admiração em seus olhos. Antônio esticou a mãozinha.

— Ele é fofinho. — Antônio sussurrou.. — Parece que é de mentira, né?

Não pude evitar a risada que escapou dos meus lábios, e até minha mãe, soltou uma gargalhada. A inocência de Antônio era pura e encantadora, e seu comentário só fez o momento ainda mais doce.

— Ele parece de mentira mesmo, né? — Eu concordei, inclinando-me para dar um beijo na cabeça dele. — Mas ele é bem de verdade, e logo, logo você vai ver como ele vai crescer e ficar tão travesso quanto você.

Antônio riu e finalmente ousou tocar suavemente o rostinho de Miguel com a ponta dos dedos.

Minha mãe, que até então estava de pé ao lado da cama, observando com ternura, caminhou até a poltrona que eu costumava usar para amamentar. Era uma cadeira confortável, que Raul havia escolhido especialmente para mim, sabendo que eu passaria muitas horas ali, alimentando nosso filho. Ela se sentou com um suspiro, e seus olhos se voltaram para mim.

— E você, minha filha, como está?

 A verdade era que eu estava exausta. Não havia um só músculo no meu corpo que não estivesse cansado, e meus olhos ardiam de tanto esforço para permanecerem abertos. Mas ao mesmo tempo, havia uma felicidade indescritível crescendo dentro de mim, uma felicidade que parecia estar diretamente ligada ao pequeno ser que eu segurava nos braços.

— Muito cansada, mãe. — Eu admiti, permitindo que um sorriso cansado, mas verdadeiro, se espalhasse pelo meu rosto. — Mas também... infinitamente feliz.

Minha mãe sorriu de volta, e eu podia ver que ela entendia perfeitamente o que eu estava sentindo. Afinal, ela havia passado por isso duas vezes, e sabia o que era se sacrificar em nome do amor incondicional por um filho.

— Isso é normal, meu amor. Os primeiros dias são os mais difíceis, mas também os mais especiais. — Ela disse, e eu sabia que suas palavras vinham da experiência. — E você está fazendo um trabalho maravilhoso. Raul, Miguel, e todos nós temos muita sorte de ter você.

Era verdade que eu estava cansada, que havia momentos em que eu sentia que não conseguiria lidar com tudo, mas também era verdade que eu nunca havia sentido tanto amor em toda a minha vida. Amar Raul já era intenso, mas o amor que eu sentia por Miguel, a cada dia que passava, só parecia crescer mais e mais, e saber que minha mãe estava ali para me apoiar tornava tudo um pouco mais fácil.

— Obrigada, mãe. — Eu disse. — Eu não sei o que faria sem você aqui comigo.

Antônio, que estava quietinho ao meu lado, observando tudo com atenção, de repente se voltou para minha mãe.

— Mãe, o Miguel vai brincar comigo quando ele crescer? — Ele perguntou, a voz cheia de esperança.

Minha mãe riu, e eu também, incapaz de resistir ao encanto da inocência de Antônio.

— Vai sim, Antônio. — Eu respondi, acariciando seus cabelos castanhos e macios. — Mas vai demorar um pouquinho. Por enquanto, ele só sabe dormir e chorar, mas logo você vai poder ensinar todas as suas brincadeiras para ele.

Antônio pareceu pensar por um momento, sua expressão concentrada e séria, e depois sorriu, satisfeito com a resposta.

— Eu vou ensinar tudo a ele! — Ele declarou com firmeza, seu peito se enchendo de orgulho.

Minha mãe ficou ali conosco por um bom tempo, falando sobre como os primeiros dias com um bebê podem ser cansativos. Ela compartilhou histórias de quando eu e Antônio éramos pequenos, das noites sem dormir e dos momentos de alegria que compensavam todo o cansaço. Suas palavras foram como um bálsamo, aliviando o peso que eu sentia, e me dando a certeza de que, apesar das dificuldades, eu estava no caminho certo.

Enquanto ela falava, eu não pude deixar de sentir uma enorme gratidão. Por ter minha mãe ao meu lado, por ter um irmãozinho tão carinhoso como Antônio, e por ter Raul, que era meu porto seguro

O tempo passou rapidamente, e antes que eu percebesse, Miguel começou a se mexer em meus braços, emitindo pequenos sons que indicavam que ele estava prestes a acordar. Eu olhei para minha mãe, que sorriu e se levantou.

— Parece que é hora dele mamar. — Ela disse, e eu assenti, já me preparando para amamentar ele.

Antônio, percebendo que o momento de brincar com Miguel tinha terminado, deu um beijinho na testa do bebê antes de descer cuidadosamente da cama.

Minha mãe me ajudou a ajeitar a almofada para que eu ficasse mais confortável, e eu posicionei Miguel para amamentar, então ela se levantou silenciosamente, não querendo interromper o momento, e antes de sair do quarto, me lançou um último olhar.

— Descanse quando puder, minha filha. — Ela sussurrou. — E qualquer coisa, a mamãe está aqui.

Eu sorri para ela e observei enquanto ela saía do quarto, fechando a porta suavemente atrás de si.

Agora, estávamos só eu e Miguel. E enquanto ele continuava a mamar, senti uma serenidade tomar conta de mim. O cansaço ainda estava lá, é claro, mas agora era acompanhado por uma paz profunda.

Eu olhei para o rostinho de Miguel, que estava tão próximo ao meu, e sussurrei:

— A mamãe te ama muito, filho.

Comprada pelo Fazendeiro Milionário [Paixões Rurais - Vol.1]Onde histórias criam vida. Descubra agora